Fala, galera! Estamos de volta! Começo o texto pedindo desculpas pela demora deste terceiro post da saga. O ano de 2017 foi foda pra mim, muitos desafios pessoais e profissionais, boas e más notícias, então acabei ficando um pouco sem tempo pra sentar e escrever. Mas quem quer, dá um jeito, quem não quer, dá uma desculpa! Tempo a gente arruma, afinal, dormir é para os fracos. Em compensação, 2017 foi muito bom pro Hell Rey!
No último episódio, o carro saiu da funilaria, consegui montar 90% do exterior dele, frisos, emblemas, trocar pneus, revisar suspensão e freios, Bancos e carpete tinham sido lavados, as forrações internas estavam sendo refeitas, ele já estava tomando uma forma diferente, voltando a parecer um carro. Cheguei até a ir na noite anos 80 no Sambódromo de SP, conheci uma galera interessante que também tem Del Rey e meu carro até foi filmado entrando no evento. Enfim, só coisa boa!
Quanto às forrações, pela minha análise do estado inicial delas, pensei que seria melhor achar outras em bom estado. Mas devido ao orçamento baixo pra fazer o carro e à dificuldade de achar essas peças (precisaria de 4 forros de portas do Del Rey Ghia, fabricado entre 1989 e 1991, na cor bege, que saiu em bem menor quantidade que cinza, além de existirem bem menos carros 4 portas como o meu, em relação aos 2 portas) decidi que ia restaurar as peças que vieram nele. Faria o melhor possível mas já sem grandes expectativas. Meio lema do Tiririca, pior que está, não fica….
O Mauricio, amigão meu, muito talentoso na arte da restauração de peças (fez também a grade do meu Maverick – PC 292) estava desempregado, com tempo e precisando de grana, situação de muitos brasileiros. Eu tinha um pouco de grana mas nenhum tempo livre e muito menos tinha o talento dele. Fechamos negócio, ele levou as peças pra casa e começou a trabalhar nelas. Como experiência, já tinha feito esse serviço dos forros em seu Fusca, mas o material é curvim e no Del Rey é um tecido aveludado, mais delicado e fácil de estragar. Mas mesmo assim aceitou o desafio.
O combinado era copiar a estrutura (uma espécie de papelão grosso de 3mm de espessura) usando MDF (uma espécie de madeira bem flexível) e transplantar o tecido antigo para essas armações novas, grampeando-o no material novo, exatamente como é no original.
A habilidade do Maurício me surpreendeu, ele conseguiu tirar os tecidos inteiros que, além de grampeados, eram colados no papelão, juntamente com uma espuma fininha que vai colada entre os dois materiais, sem rasgar e preservando os relevos tão bonitos da forração original.
O Del Rey tem uma espécie de “régua” de plástico, com armação de metal, que vai presa em cada forro de porta, onde vão as luzes de cortesia (sim, o Del Rey tem quatro luzes de cortesia, uma em cada porta) que estava meio quebrada em uma delas, mas o Maurício conseguiu colar tudo de maneira imperceptível. Ficou ótimo, mas o tecido permanecia encardido e eu tinha dúvidas se voltaria próximo à cor original. Então com as peças prontas, comprei o mesmo spray limpa estofamento que havia usado nos bancos dianteiros e passei a limpar cuidadosamente os forros de porta e o banco traseiro, que também estava bem sujo.
O resultado final me agradou muito, se não tivesse as fotos do “antes e depois”, ninguém acreditaria que se tratam das mesmas peças. Olhem as imagens abaixo:
Montei tudo, coloquei guarnições novas nas portas, aproveitei pra limpar e encerar os vãos de porta (outro detalhe pro qual muita gente não dá atenção mas faz diferença no final)
Coloquei o rádio toca fitas original, os alto falantes das portas e comecei a usar o carro no dia a dia. Ele ficou gostoso de andar e agora com uma aparência decente. Fazia sucesso em todo lugar, no estacionamento onde deixo o carro pra ir trabalhar, nos postos de gasolina, nas ruas… Aí me dei conta de como ficou raro esse modelo nos últimos anos, pelo menos nas Capitais que conheço (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro). Na verdade já era raro e despertava interesse lá em 1995, quando meu pai tinha o Del Rey vermelho dele, o modelo Ghia, última série com rodas de liga leve, 4 portas, completo. Um carro que chama a atenção por onde passa.
Alguns dias depois, uma produtora de TV me chamou no whatsapp, por indicação de um amigo, pois precisavam de um Del Rey 4 portas pra uma filmagem. O valor não era ruim, me pediu fotos do carro, disse que ia apresentar ao cliente. Fechamos as condições e ao mesmo Maurício, que fez as forrações, ofereci a tarefa de levar o carro ao local, no sábado de manhã, bem como acompanhar os trabalhos e principalmente, cuidar do carro, claro!
Na sexta feira antes da filmagem, porém, mandaram um prestador de serviços até o estacionamento do meu trabalho, na Avenida Paulista, para colocar um insul fim espelhado (!) no carro. Confesso que foi divertido voltar pra casa com os vidros espelhados, num carro dourado que por si só já quase não chama a atenção…
Então no sábado de manhã bem cedo, Mauricio e o Hell Rey foram trabalhar!
A aparição dele no comercial é curta mas ficou bacana! Vocês podem ver no link abaixo:
Continuei usando o carro eventualmente depois disso, arrumando um detalhe aqui e outro ali, terminando de colocar alguns frisos que faltavam, arrumando um detalhezinho aqui, outro ali…
Aí eis que surge outro convite para gravação, dessa vez de um longa metragem, que o grande Dino Dragone, bem conhecido no meio automotivo por sua paixão pelos Galaxies e por seu longa metragem NUTZ, estava ajudando a produzir. O filme se chama “Nada a Perder” e conta a história do Pastor Edir Macedo, fundador da Igreja Universal.
Fomos lá no domingo, eu de Del Rey, meu irmão de Pampa, o Maurício de Chevette automático e ainda encontramos o Thyago, o Luciano e outros amigos malucos, que não tinham “Nada a Perder” e também iam participar da gravação.
A cena retrata sua prisão e se passa em 1992. O pessoal da produção tinha caracterizado 2 Opalas, 1 Veraneio (vascaína) e 2 Santanas, que seriam as viaturas que fariam a diligência da prisão do pastor, que estava em sua BMW. O Del Rey, a Pampa, o Chevette e o Santana do Thyago, entre outros carros da época, ficariam parados e ajudariam a compor o cenário da época. Na última hora, o pessoal da produção precisou de dois “policiais” pra dirigir os Opalas e adivinhem quem se ofereceu? Os irmãos cara de pau (ou irmãos à obra) é claro.
Nos deram as fardas pra vestir e fomos buscar as viaturas, que tinham sirene, giroflex funcional, além da caracterização da pintura, com adesivos, muito bem executada. Os carros mecanicamente não eram dos melhores, mas deu pra gravar a cena, que repetimos um monte de vezes, até ficar boa. Não posso postar o vídeo aqui, pois ele faz parte do filme que estreou esse ano nos cinemas e essa semana descobri que também está no NetFlix, com o título “Nothing To Lose”!
Ainda não assisti mas com certeza vou! Acho que não tem problema postar esses 2 pequenos trechos que alguém filmou e estão no Facebook:
Nesse, estou pilotando o primeiro Opala caracterizado que passa na tela e o meu irmão, o segundo:
Apesar de cansativo ficar o domingo todo embaixo do Sol, repetindo a mesma cena, afinal chegamos lá às 7 da matina e saímos às 7 da noite….foi divertidíssimo, épico, lendário!
Muito bom conhecer essa galera envolvida na produção da sétima arte, os atores, os figurantes, afinal carreguei mais 3 “policiais” na minha viatura, trocamos bastante ideias, o pessoal é bacana, cada um tem uma história de vida….Enfim, muito, muito legal!
Tiramos uma porrada de fotos (é claro!) olhem só:
Me deu muita alegria ver que salvamos um carro fadado a ser vendido ao “Sr. Machado”, transformamos em carro de filme e resgatamos um pouco da história da indústria automotiva para as próximas gerações, afinal quem tem menos de 20 anos hoje, provavelmente não viu ou viu muito poucos desses carros rodando.
Logo depois, meu irmão levou o Hell Rey pra sua casa em São José dos Campos/SP e teve a oportunidade que acabei não tendo, de dirigir ele na estrada. Falou que o carro ficou muito bom, gostoso de tocar, retoma bem, tem torque e potência de sobra pro tamanho e peso dele.
O tabelier do painel deu trabalho mas o resultado não agradou pois além de sujo, ele está todo rachado do sol de quase 30 anos de serviço. Lição aprendida, não gastar tempo (e produtos) bons em peças ruins.
Ele aproveitou pra desmontar e limpar o sistema de ventilação do carro, que tinha uns 10 kg de folhas e um formigueiro (!!!) e também os faróis e restaurar um dos refletores, além de lavar as lentes.
Esse serviço sim, valeu a pena, olhem o antes e depois:
E também montou uma pasta da cor do carro, pra organizar os documentos, notas fiscais de peças, serviços e outras coisas interessantes a respeito do carro.
Comprou também uma chave de seta que acabamos decidindo deixar pro eletricista instalar.
Depois disso, o Hell Rey acabou uns meses parado por conta de um problema de saúde que nosso pai teve e precisamos acompanhá-lo na internação. Ficamos completamente sem tempo de mexer em qualquer carro. Então no começo desse ano a bomba elétrica de combustível abriu o bico na rua, com meu irmão a caminho do trabalho e o Hell Rey andou de guincho, coisa que há anos não fazia.
Colocamos uma bomba nova, juntamente com o sensor Hall do distribuidor que resolveu falecer também (vai entender…). Aí vimos uma das vantagens de se usar peças originais no upgrade do carro (a injeção toda é nacional do Santana 2.0, Magnetti Marelli modelo 1AVP). Tudo fácil de achar e relativamente barato, além de qualquer mecânico de bairro mexer sem medo. Aproveitamos para trocar todas as mangueiras de combustível, que agora além de serem para alta pressão, devido à injeção, são de boa qualidade.
Em janeiro de 2018 ele ganhou um merecido tabelier novo pro painel, que foi outra mosca branca de olhos azuis pra achar (afinal é marrom, que saiu entre 1986 e 1991 nos Del Rey/Pampa/Belina). O vendedor estava em Mogi das Cruzes mas um amigo nosso ia passar pela região e fez a imensa gentileza de buscar!
E atualmente o Hell Rey permanece internado no eletricista desde fevereiro, pois como relatei no post anterior, a elétrica dele principalmente do cofre do motor, está uma zona por conta da instalação da injeção. É praticamente um milagre tudo estar funcionando com tanto fio emendado e tanta gambiarra. Me dava arrepios só de pensar na possibilidade de ele parar na rua, eu não saberia por onde começar a procurar o problema. Sem contar o risco de incêndio! Era praticamente uma bomba prestes a explodir, fiação mal encapada e mangueiras de combustível rachadas…Não gosto nem de pensar….
Estamos deixando o eletricista trabalhar com calma. Até agora ele trocou as travas elétricas e está instalando o módulo da injeção dentro do carro, onde ele deve ficar, longe de umidade, sujeira e calor. Estou sem pressa até por que em fevereiro mesmo, meu primeiro filho nasceu e não só por estar completamente apaixonado pelo pimpolho, as atividades de cuidar dele vêm consumindo todo meu tempo livre. Inclusive agora estou escrevendo isso enquanto ele dorme entre uma mamada e outra…
O Explorer virou daily driver e o Maveco está acumulando poeira na garagem, então a última coisa de que preciso nesse momento é mais um carro pra não ter onde colocar e no qual não terei tempo pra trabalhar.
Quando sair do eletricista, será instalada a forração do teto, cuja estrutura de isopor pré moldado foi restaurada pelo Mauricio e eu estou limpando com cuidado o tecido navalhado, pois também é impossível de achar novo e também o tampão traseiro dos alto falantes, também no mesmo esquema, Mauricio refez a estrutura de MDF e eu forrei com carpete, pintei as telinhas e estou montando tudo. Vou aproveitar pra tirar o vidro traseiro e colocar o novo que comprei, com o friso original de inox e o brake light original.
No próximo post, prometo falar um pouco do motor e colocar bastante fotos, talvez até um vídeo dele arrancando, já com o cofre arrumado e limpo.
Espero estar com o projeto concluído ou pelo menos quase!
Um abraço a todos os FlatOuters e até breve!
Por Leo di Salvio, Project Cars #431