Por Fernando Toledo, Project Cars #467
Fala, galera! Como vocês estão? Aqui vai a quarta parte da história da Schnitzel e seus percalços. Bom, agora que você leu até aqui, meu muito obrigado! Gostaria da sua opinião nos comentários sobre como estão os textos. Sei que estão faltando fotos e materiais visuais, o que prometo que está sendo corrigido. Me diz se está chato, ou se faltam detalhes, que posso complementar no próximo post.
O câmbio
Chegamos enfim ao top dos tops do maior problema que enfrentei no carro até então. Ô desgraça! O olho já enche de lágrima. Esta é a parte que comentei ser a pior.
Vamos começar do começo. Desde que o carro saiu da oficina que trocou o motor, meu câmbio começou a fazer um barulho estranho, que só conseguimos prestar atenção de verdade depois do primeiro acerto da injeção.
Publiquei esses vídeos aqui embaixo em todos os grupos e fóruns que consegui relacionados a E36 e Getrags e nada. Não conseguiamos chegar a um diagnóstico.
Eram dois barulhos na verdade:
Um ciclico, meio “nhó nhó nhó nhó nhó”, enquanto o carro estava parado na lenta e com a embreagem sem estar pressionada, e outro que, com o carro em movimento (pra frente, claro), parecia fazer aquele barulho característico da marcha ré. Quase que um supercharger. O problema é que eu não tenho um supercharger…
“É o rolamento do eixo piloto seu mané!” — você pode estar pensando. E com toda razão, porque pela primeira parte do barulho, se pesquisar por este problema nas interwebs, vai se deparar com o mesmo diagnóstico.
Mas e o segundo? Que cáguas d’água tava rolando no meu câmbio?
Já sabem né? Toca nóis atrás de alguém pra dar uma luz: primeiro procuramos algum lugar especializado em BMWs pra tentar dar uma olhada e nos dizer melhor o que poderia ser, visto que eu me recusava a acreditar que era a única pessoa no país, e quiçá do mundo, que teve esse problema.
Achamos uma oficina, mas logo de cara o dono foi meio grosseiro, sabe? Já no primeiro contato, por telefone ainda, expliquei o problema e disse que queria abrir o câmbio pra darmos uma olhada. Ele me disse que por R$1.500 fazia isso e o que precisasse mexer, acertavamos a parte. Não achei péssimo, mas fiquei com um sentimento estranho.
Enfim, fomos lá pessoalmente e tinham várias BMWs de gerações próximas da que meu câmbio saiu e resolvi deixar pra um primeiro diagnóstico.
Uma semana depois, recebo a ligação:
“Olha Fernando… seguinte… esse problema aqui ó, é o seguinte: vocês colocaram um rolamento que tem no virabrequim, que dá suporte pro câmbio?”
Prontamente, disse aquilo que todo mundo, de peito cheio, diz quando rebatido com uma pergunta dessa: “Não faço a menor ideia! Perai, deixa eu olhar os registros”. Não? Só eu responderia isso?
Toca eu a buscar se realmente tinhamos pego esse rolamento, porque compramos várias peças pro swap e suspeitava que era algo que teríamos feito.
E… não tinhamos posto. Beleza, uma hipótese. Mas eu ainda tava querendo abrir esse câmbio. Tinha algo em mim dizendo que tinha xabu ali.
Liguei de volta e continuei: “Olha, não pusemos não. Mas isso causaria os dois problemas?”
“Sim, claro, é o seguinte, ó, o eixo vibra e faz todos esses barulho ai. Pode confia. R$1.500 eu tiro o cambio e ponho o rolamento pra você.”
“Mas pera, a gente tinha falado em R$1.500 pra vc tirar e abrir e vermos depois peças e tal.”
“Não, aqui é muito complicado de mexer, os escapamentos ficam na frente e vai ser dificil.”
“Mas eu te mostrei tudo como monta e desmonta, você falou que era tranquilo.”
“Não, é muito complicado. Ó, confia, rodar assim vai dar vários problemas e pode complicar mais o conserto.”
Detalhe: desde o começo do projeto, desenhamos as adaptações pensando na manutenção, então tudo é modular. Meu escapamento tem literalmente 5 parafusos que precisam sair e ele sai inteiro, bonitinho. Aqui em casa fazemos em menos de 15 minutos sem elevador e os escambau.
“Olha, não sei. Vou pegar o carro e te levo de volta se decidir fazer isso mesmo.”
Fui buscar o carro no mesmo dia e decidi procurar outro lugar. Passamos 7 dias esperando um diagnóstico pra vir essa resposta. Preferi achar um lugar que abrisse o câmbio e de quebra, eu instalava o rolamento comprando original em uma concessionária.
Ainda buscando loucamente quem mexesse num raio de Getrag 250g, finalmente achamos a World Câmbios.
Olha, eu me ferrei no final dessa interação, mas não por culpa deles. E preciso dizer, os caras são bão. E justos. Recomendo fortemente.
Ligamos e batemos um papo com o dono. O cara já falou que era complicado dar um diagnóstico pra esse problema sem abrir o câmbio, porque provavelmente era o rolamento piloto, ou algumas outras opções. Aproveitei e perguntei do rolamento do vira e ele me disse:
“Você vai por assim que a gente tirar o câmbio? Porque se for, tá tudo certo. É um problema, mas não vai te ferrar tanto assim, então fica despreocupado.”
Bem diferente, né?
Chamamos o Fabião para nos ajudar a tirar o câmbio em casa, tentando economizar um dinheirinho, porque essa joça é um saco sem fundo, e levamos para o amigão dar uma olhada pessoalmente.
Ele abriu o câmbio, fez uma carinha de “xi” e na lata mandou o seguinte:
“Eu tenho uma boa e uma má notícia. A boa é que, apesar de tudo, seu câmbio tá bom. A má é que ele rodou com óleo baixo, ou sem óleo, e isso desgastou o cromo que protege as engrenagens e reduz barulhos, então em um certo nível seu câmbio sempre vai fazer mais barulho do que um com esses cromos em bom estado. Mas aqui, o que tem pra fazer mesmo, é só rolamentos e retentores. Até os ‘sincronizados’ tão bons.”
Caceta. Eu sabia. Tinha algo errado mesmo.
Dado que ele falou bem do câmbio, e ele faria um barulinho (teoricamente solucionável com um isolamento acustico, talvez) autorizamos o serviço e achamos que valia testar, já que teriamos todo o histórico dele e certeza do que foi feito, né?
Quando pegamos ele de volta, levamos pra casa e já organizamos a agenda pro Fabião dar aquela mão de novo.
Instalamos o rolamento ‘problemático’, trocamos o retentor dali, aproveitamos e também trocamos o garfo e toda a parte interna da capa seca.
Câmbio no lugar, bora testar.
Dou a partida e a caceta do barulho continuava lá. Igualzinho, parecendo que nunca tinha mexido.
Dei uma volta com o carro, na esperança ignorante de algo mágico acontecer depois de uns kilometros – como tudo nesses carros das nossas vidas – mas nada. Tenho que dizer que o câmbio ficou nitidamente melhor, apesar de tudo.
Liguei pra oficina, falei com o dono e ele comentou que tinha dito do barulho persistir. Pra resolver isso, provavelmente só um câmbio novo.
Da hora. Gastei uma bala, e nada de resolver justo o problema que eu tô atrás.
Eu quase chorando (sério), toca nóis atrás de um câmbio, porque eu, neste momento, tinha sido temporariamente derrotado pelo carro.
Buscamos muito, mas tava dificil achar um que estivesse em um bom estado.
Falando com alguns amigos, acabei achando um que o dono, depois de eu contar toda a epopéia até então, topou que eu testasse antes de pagar.
Da-lhe uns dias até conseguirmos acertar as agendas, e simbora malhar um pouco embaixo do carro.
Troca feita, partida dada E….. O. MESMO. BARULHO. CONTINUA!
Não é possível… Sério… Pra ser justo, ele estava bem mais baixo, o que foi um sinal de que não era algo nas demais adaptações. Digo isso porque, durante as pesquisas, vi que poderia ser algo relacionado ao volante e também aos coxins. Pra esclarecer: em resumo, um volante sem ser bimassa pode transferir algumas vibrações que fazem um barulho na lenta – mas o meu, graças ao trabalho da Displatec, não tem. Nos coxins, pelo fato de ter coxins de PU no motor (até então), as vibrações também poderiam passar e causar o barulho da “ré” pra frente. OBS: Descobri também, que alguns seres até fazem essa troca de propósito só pra tentar ganhar esse ‘efeito de carro de corrida’. É verdade, eu juro.
Bom, liguei para o dono do câmbio, expliquei tudo, e ele foi mega simpático em receber de volta. Valeu Juba!
Bom, agora eu continuava com um câmbio fazendo barulho e quase pintando o carro de verde e jogando no mato, porque vou te falar… É osso.
Ligo novamente pro Luciano e esse arcanjo me diz que um amigo tem alguns desses Getrags e poderia fazer um rolo no meu por um que eu escolhesse colocar.
Expliquei todo o histórico pra ele e, com isso, escolhemos o que parecia mais inteiro.
Agendamos pra levar o carro até Sumaré/SP e lá fomos nós! Uma semana depois, ele me liga e diz que tava tudo pronto. Troca feita, bora pro test drive.
Pausa dramática.
É ‘TRÉTRAAAA’!! É ‘TRÉÉTRAAA’!!! Não temos mais um zumbido infernal que vinha me tirando o sono, literalmente, há meses!
Vou falar inclusive que nos primeiros quarteirões com o câmbio novo eu ainda podia ouvir o barulho, mesmo ele não estando ali. Era 100% nóia minha pelos traumas passados. Isso porque depois dos primeiros metros, eu desci do motorista, coloquei meu pai no lugar e fiquei no passageiro de olhos fechados enquanto acionava e soltava a embreagem. O resultado era identico e não conseguia distinguir.
Um pouco do ‘supercharger’ continuava, mas depois desse episódio, passei a reparar em todos os carros que andei dali então, e literalmente todos tinham esse zumbido quando estavam lá pela segunda/terceira marcha, principalmente no freio motor. Fiquei feliz porque no meu é bem sutil, então tá ótimo! Lembrando que esse carro ainda não tem isolamento acústico algum, então em breve isso deve ficar belezinha.
UFA! Aqui chegamos ao estágio atual do câmbio, onde temos de volta uma caixa que não faz barulhos, mas tá precisando dum tratinho. Quando resolvermos alguns outros pontos, ela vai passar de novo com o pessoal da World Câmbios pra revisar e deixar zerinha, tendo certeza que durará pro resto da vida desse carro.
Afinal, o que está em andamento?
Depois de resolvido o problema do câmbio e a injeção encaminhada para a troca, chegamos a conclusão de que o diferencial da Schnitzel – um 4.11 original – é curto demais para ela. Pra se ter ideia, a 100km/h fica perto de 4.000 giros, o que é gostoso até de ouvir, mas pra pegar uma estrada é meio insuportável kkkkk
Com isso em mente, optamos por focar os esforços no diferencial, para o carro ficar mais confortável pra rodar. Toca nóis a estudar relação de marchas, calculos e mais calculos de quanto precisaria ser a nova relação, transferência de torque pras rodas etc.
Com estudos feitos, vimos que uma relação de 3.45 seria bacana, e provavelmente não mataria aquela sensação de arrancada que o carro tem, além disso, com os upgrades que temos em mente pro motor, seria mais do que ideal para recuperar esse fôlego no futuro, sem prejudicar a velocidade de cruzeiro.
Falamos com nossos amigos que tem uma oficina e topam umas loucuras com a gente e começamos a estudar o que fazer.
Nossa ideia inicial era de trocar o diferencial pelos modernos da BMW, então estudamos muito como fazer isso, visto que o atual é um ‘sideloader’, um estilo diferente do que temos hoje e é integrado ao agregado traseiro.
Vimos alguns sites gringos que fazem um kit para fazer uma troca como essa, então entendiamos que seria o melhor caminho mesmo e compramos diferencial e semi-eixos pra fazer tudo.
E você acha que deu certo? É claro que não meu jovem.
Quando pegamos para mexer com essa parte, além do nosso amigo, o mecânico responsável por tocar meu carro e meu pai, levei meu tio Tónio que é engenheiro mecânico pra ajudar a desvendar o quebra-cabeça. Tiramos as peças originais e começamos a desenhar o mesmo projeto que vimos lá fora, só que os gringo vacilaram bruto. O mecânico percebeu que a adaptação que eles fazem tira o apoio que o diferencial faz na estrutura do carro e transfere para os braços, deixando o agregado praticamente ‘solto’. Meu tio também olhou e confirmou, falando que não seria seguro.
Aqui tivemos dois aprendizados e tanto pra gente, que gostaria de compartilhar aqui:
1 – Não seguir a risca o que se lê/vê em foruns, youtube e etc. Existe muita coisa excelente, mas também existe muito doido fazendo doidera. Se tivessemos seguido com essa ideia, poderia até causar um baita acidente, segurança sempre em primeiro lugar!
2 – Quando forem mexer com algo importante como este caso, sempre busquem mecânicos experientes e de confiança, além de ajuda daqueles que puderem contribuir. Sem o querido Barquet e o tio Tónio, poderíamos ter entrado numa bela fria.
Isso nos deixou de mãos atadas (e pés descalços…), porque uma das únicas opções que vimos seria a de usar o diferencial original, mas trocando a relação dele.
Primeiro pesquisei melhor sobre meu diferencial e vi que ele é muito robusto e raramente apresenta qualquer tipo de problema, então fiquei tranquilo e continuar com ele.
Depois, caçando o que fazer com isso, vi que poderia fazer uma engrenagem – só que sem condições, dado o custo absurdo que é – ou buscar na gringa um conjunto de coroa e pinhão, que seria bem do complicado pra trazer pro Brasilzão da massa, mas a vida é cheia de surprezinhas e eu encontrei o conjunto certinho pro projeto, em relação 3.45. Além disso, o cara tinha todos os rolamentos novos e retentores pra refazer o diferencial inteirinho.
Nem pensei muito, comprei e mandei pra um amigo que mora fora, e agora, finalzinho de setembro, consegui as peças aqui no Brasil e já deixei na oficina para trocarmos!
Aqui tem uma fotinha das bonitas:
Bom, aqui eu fecho esse post dividido e agradeço imensamente a paciência e leitura de todos que chegaram até aqui.
Os próximos textos conterão como ficou o novo diferencial, a instalação do novo hidrovácuo – um kit montado com peças da Wilwood, com panela de 7″, sendo o tamanho máximo que meu coletor de admissão permite, a restauração das pinças de freio dianteiras, correção do parachoque e troca das grades com os farois novos, que ainda são um segredo.
Isso tudo deve vir em breve, pois o carro saindo da oficina, já começaremos nisso – e prometo que documentarei tudo bonitinho.
Aqui ficam fotos dela atualmente. Lembrando que ainda está em fase de Mula, então não fizemos nada da estetica (nem as hastes de apoio do parachoque, uma vergonha, eu sei.)
Até a próxima!
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