Por Victor Nissen, Project Cars #479
Saudações gearheads! Vamos para o terceiro post, que, infelizmente, é o último, pois teoricamente os projetos finalizam. Tudo aquilo que você idealiza no início nem sempre se materializa no final, algumas coisas mudam no meio do caminho, outras permanecem inalteradas. E não foi diferente no meu caso. Algumas coisas ficaram como eu esperava no carro, outras nem tanto…
No início da semana o carro estava pronto para a pintura, com tudo liso, limpo e devidamente isolado. Naquele dia eu não dormi direito sabendo que o carro seria pintado, fiquei a noite toda me virando na cama ansioso imaginando como o carro iria ficar, e não era só sobre a pintura que eu pensava: eu voltei para o dia que eu vi ele a primeira vez no rancho do Seo Oscar, aquele Fusquinha imêmore, esperando o dia em que ia dar suas voltas novamente. No dia seguinte finalmente pude ir ver o carro pintado.
Fui direto para a cabine de pintura – e esse foi um daqueles momentos que você não se lembra direito o que aconteceu de tanta ansiedade — entrando na oficina, vejo o Fusca mais lindo que eu já havia visto. Sensacional! Aqueles dois anos valeram a pena correndo atrás de tudo, vendo peças, indo em encontros, pesquisando em fóruns, estressando ao meu pai com tudo…
Fiquei alguns bons momentos fitando o carro, vendo todos os lados, de cima por baixo, me perguntando se era o mesmo carro branco enferrujado. Com ele finalmente pintado, o pintor iria deixar curar a tinta, lixar e pintar novamente três vezes, depois mais 3 camadas de verniz. O plano era deixar a pintura tão brilhante, que o pessoal enxergaria de longe que era um Fusca azul, e dar um baita murro no amigo ao lado. Era meta da cor azul.
Ao decorrer de três semanas o carro foi sendo pintado, pois também havia mais carros sendo pintados na oficina. Nesse meio tempo pesquisei novamente peças e acessórios e acabei encontrando em uma promoção os pneus linguicinha Firestone Campeão supremo, que saíram por uma bagatela de R$ 120 cada. Quando voltei para “Xaraguá” convidei a minha mãe para ver o bolido, afinal eu só falava dele e ela nunca tinha visto pintado. Quando chegamos o pintor já havia fosqueado o carro para o polimento final, e já tinha pintado todas as peças do interior na cor creme, freio de mão, bancos, coluna da direção entre outros.
Aproveitando o carro fosco, o que mitiga as chances de riscar, foi a hora de chamar o eletricista e fazer a fiação no carro. Então surgiu um problema que eu descobri alguns dias atrás: Comprei um chicote novo para o carro, pois o outro estava muito remendado e corria risco de pegar fogo. Vocês devem estar pensando, “mas qual problema?”, aqui está: Potência [Watts]=I[amperes]*V[volts], logo se eu tenho uma lâmpada do farol de 12v com 55w, passam aproximadamente 4,6 Amperes pelos fios do farol, até ai tudo bem, os fios do tinham a bitola recomendada para essa corrente.
O problema é que o meu carro iria ficar 6v, e como a lâmpada mantem à uma potência 55w, iria passar o dobro da corrente pelo fio!! O que gerou muito mais calor! Infelizmente eu descobri só agora. Em todo fio que passava alguma corrente mais forte tive que substituir, pois estava subdimensionada para a corrente nominal, e para comprovar isso, basta colocar a mão nos fios do farol após alguns minutos para notar que eles estão muitos quentes. Então fique como lição, se alguém for vender um chicote novo para um fusca 6v, ele venderá alegremente falando que atende 12 e 6 v, quando na verdade pode estar colocando a sua segurança em risco.
Terminando a elétrica, o Fusca pegou mais uma carona de guincho e foi enviado para fazer o estofamento em Pomerode (SC), uma terrinha do Vale Europeu que parece parte de Alemanha, limpa, organizada e com absolutamente todos os jardins das casas e praças meticulosamente aparados e bem cuidados (coisa de alemão mesmo). Sua estadia lá foi rápida, pois já estava combinado a data com o estofador. Escolhi o interior pijaminha original do carro e digo que gostei bastante! Nunca tinha visto um carro ao vivo com esse interior além do meu. Lá no estofador foram feitos os bancos, tetos, laterais e o estofamento do assoalho. Forros de porta foram comprados prontos, e recomendo fazê-los em vez de comprá-los, pois não encaixam bem na moldura da porta e descolaram com o tempo. Um grande defeito de interiores brancos é que suja muito fácil, e como eu gosto de mexer no carro em casa, isso provou ser um pouco incômodo.
Com o interior pronto, chegou um dos momentos mais legais da restauração, a parte em que o projeto começa tomar forma de carro e se aproxima ao que se tanto espera. Para isto comprei os debruns, borrachinhas que eu nem sabia que existiam, grampos e uma outra infinidade de peças. Tudo o que eu consegui aproveitar de peças antigas e originais eu aproveitei, pois queria manter ao máximo aspectos do passado do carro, o que não deu eu substituí e guardei as antigas (minha mãe ficou muito feliz com um estoque de peças velhas em casa). Eu gostaria de ter participado mais dessa parte, pois teria aprendido muito com o funileiro sobre macetes e técnicas, porem eu estava na faculdade e não tinha como participar… O que não me impediu posteriormente de desmontar e montar de novo.
Aaaaah o belo dia em que chegaram as férias da metade do ano e eu pude ir ver o Fusca. Como fiquei algum tempo sem vê-lo, meu pai já tinha levado o Fusca para o mecânico, que faria mais uma revisão nos freios suspensão e daria aquele talento no motor. Graxeiros, o momento tão aguardado finalmente chegou! O fim de uma ópera de 3 anos, palco de muito aprendizado e exercícios de paciência. Finalmente chegou o dia em o Fusca ficou pronto (Na verdade nunca termina, sempre há alguma coisa para ser feita). Quando o vi na minha frente, me lembrei do momento em que tinha visto o Fusca pela primeira vez, sujo e esquecido, e agora reluzente e pronto para mais 50 anos.
Como já havia passado por uma revisão mais extensa dois anos antes, dessa vez foi só trocar o óleo, limpar o distribuidor e regular o carburador, e posso dizer que com o escapamento original e as ponteiras novas, o barulho característico de Fusca voltou a soar:
Ah o barulhinho de fusca, como era bom ouvi-lo novamente. Fiquei uns bons momentos acelerando e conversando com o mecânico quais seriam os cuidados nos próximos quilômetros, e dicas para regular o carburador.
Ainda faltam alguns componentes originais do motor como o carburador, a saboneteira (a lata que fica logo abaixo da bomba de combustível), admissão e o escapamento com as bengalas (o sistema de aquecimento da admissão) e os tubos de combustível de aço. Eram poucas coisas, porem se tornaram uma dor de cabeça para encontrar.
Após o mecânico, o carro voltou para a funilaria para finalizar os últimos detalhes e ser “oficialmente” entregue. Nesse meio tempo o carro foi emplacado e a cor no documento alterada. Dali em diante seria somente curtir o carro. Quando fui buscar o carro me perguntei para onde eu iria? Direto para casa ou dar umas esticadas pela cidade? A resposta vocês já sabem.
Peguei o carro e fui ao posto abastecer. Fiquei mais ou menos 2h dirigindo o carro, descobrindo cada aspecto do carro, cada barulho. Gente, como aquilo foi bom, aquela vontade de andar, minha e do carro, finalmente foi morta. Poder dirigir o meu carro depois de tanto tempo foi muito bom. Engraçado que o carro não estava nem duas semanas pronto e já tinha o cheiro característico de Fusca.
Caros leitores, acho que esse é o fim deste projeto de restauro. Aprendi muito com ele e com as pessoas que conheci no meio do caminho, foi muito gratificante! Gostaria de agradecê-los por terem me acompanhado, elogiado e dado ânimo para escrever! Também gostaria de agradecer a toda equipe Flatout pelo trabalho muito bem feito e conciso.
Também tenho mais uma pessoa a agradecer: Pai! Muito obrigado por esses 3 anos que o senhor me deu um dos melhores presentes que você podia ter me dado: seu amor. Obrigado pela atenção, pelo “stress” passado, pelo tempo despendido e pelo imenso esforço que você fez. Que nos próximos anos nós possamos aproveitar muito esse projeto! Amo você!
Pera aí que tem mais! Depois de terminar o carro, aproveitei, e ainda aproveito muito ele. Aqui vão alguns passeios e viagens que fiz com o Fusquinha nesse tempo. Há, e também não pode faltar o agradecimento para a melhor navegadora de todas: minha namorada, que não reclama de andar de carro velho, pegar pó em entrada de chão, nem de eu tirar mais fotos do carro do que dela.
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