Fala, pessoal! Sou Gabriel Maia, piloto de testes da Puma Automóveis. Neste espaço vou falar um pouco dos nossos projetos, explicar como tudo começou e sobre nossas escolhas e processo de construção dos carros.
Como sabemos, a Puma Veículos foi fundada na metade dos anos 1960 com a razão social Lumimari, uma combinação das primeiras sílabas dos nomes dos quatro sócios-fundadores: Luiz Roberto, Milton Masteguin, Mário César de Camargo Filho e Rino Malzoni — que foi o projetista do primeiro modelo, o GT Malzoni de competições.
Esse carro foi encomendado pela equipe Vemag por ter a carroceria em fibra de vidro e 150 kg mais leve do que a de metal dos DKW, além de ser mais aerodinâmica. Nas mil Milhas de 1966 Emerson e Jan Balder conseguiram o terceiro lugar na prova.
Em 2012 num Torneiro de Regularidade em Interlagos, que homenageava Milton Masteguin, os amigos Luiz Costa e Fernando Mesquita decidiram investir num Puma Tubarão 1972 para corridas. O veículo foi restaurado no início de 2013 e estreou numa prova de regularidade do mesmo ano. Na sequência entra para a nova equipe Puma o terceiro membro do projeto, Reginaldo Galafazzi. Repetindo o mesmo molde da Lumimari, foi criada a MESGAFERRE, as iniciais de Mesquita, Galafazzi, Fernando e Reginaldo.
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Foi voltando a correr que foi criado o slogan “Nas pistas nascemos , pelas pistas voltaremos” que utilizamos em nossos carros. E assim surgiu a ideia de criar carros de chassis tubular e carroceria de fibra de vidro e fibra de carbono.
Um dos primeiros passos foi escolher uma nova cara para o novo carro. Chegamos ao Du Oliveira, também conhecido como o “Irmão do Décio”, que acabou escolhido para a tarefa. Du já vinha trabalhando há tempos na releitura dos Pumas. Unimos o útil ao agradável. Abaixo um dos primeiros renders:
Como a ideia inicial era criar uma categoria de carros de corrida Puma, foi necessário que Du deixasse o carro mais racing. E o resultado foi esse:
Com a aparência definida e o plano de volta da Puma começando a se desenhar, o próximo passo foi criar uma maquete onde seria possível ver como o carro ficaria. Ela foi utilizada na apresentação para a Federação e possíveis pilotos. A seguir iniciou-se a construção do chassi. Enquanto isso os moldes da carroceria eram fabricados paralelamente.
Como era apenas um protótipo para apresentações e pequenos testes para ver a dinâmica do chassis, foi comprado um powertrain da linha Volkswagen — Gol G5. Como o carro era leve, estaria de bom tamanho.
Construir uma fábrica demanda tempo e dinheiro, por isso foi necessário alugar o maquinário e contratar profissionais por projeto para a execução do carro. Muitos contratempos e problemas com prazos surgiram, mas em uma nova prova de regularidade foi apresentado o chassi e a maquete do carro.
O chassi, a ser utilizado em testes, foi construído com tubos de aço carbono 40×40 com paredes de 2,5mm. A suspensão é do tipo duplo A, pois nos permite trabalhar diferentes setups de amortecedores e molas, deixando o carro mais macio ou mais duro dependendo do grau de aderência da pista ou condições climáticas, fora a vantagem de se trabalhar com o carro mais acertado, deixando seu centro de gravidade mais baixo, também ajudando na aerodinâmica. E diminuindo bastante a rolagem do chassi aumentando seu poder de aderência mecânica.
O entre-eixos de 2,45m, transforma o carro e um monstro de curvas de baixa, mas isso não significa que ele seja ruim em curvas de alta ou instável , pelo contrário ele também é bom devido seu baixo centro de gravidade e sua equalização de peso. O peso é relativamente baixo e com sua maior parte concentrada no centro do carro: motor, piloto, tanque tudo muito próximo. Por já ser um chassi tubular, ele já é o próprio santo antônio/gaiola aliado a carroceria de fibra o carro ficou bem seguro.
Os freios usam discos ventilados de 256 mm perfurados e frisados. Aliado ao baixo peso, podemos retardar ao máximo a frenagem. Os pneus são Pirelli P Zero Trofeo R 235/40 R18 na dianteira e 255/40 R18 na traseira. Os dianteiros são menores para reduzir o arrasto aerodinâmico na reta.
Claro, tudo isso não é simples de se conseguir. Além do automobilismo não ser incentivado no Brasil, tanto pela midia, como pelos empresários, federações etc, o país entra em uma crise em 2014. Estes fatores interferiram na decisão de desistir da ideia inicial, de se criar uma categoria de carros de corrida Puma e dificultou a volta do carro.
Nossos ‘antepassados’ os Lumimari , costumavam dizer: “raça é raça”, e toda vez que passamos por uma dificuldade lembramos disso e seguimos em frente de algum jeito. Entenderam o motivo de utilizarmos o adesivo Raça é Raça em nossos carros?
Sem pensar em desistir diante das inúmeras dificuldades, foi necessário vender um carro de uso pessoal para terminar a carroceria, pintar, colocar o chassi, dar acabamento para o carro ser apresentado em eventos para o público, mídia e conquistar patrocinadores Abaixo o modelo e a carroceria, ao estilo barchetta, na carreta em direção ao galpão da Puma no interior de SP.
Agora vou deixar vocês com vídeos que fizemos apenas para registro, mostrando a primeira partida e o primeiro fim de semana de testes:
Muito obrigado por podermos compartilhar nossa história com vocês. Espero que tenham curtido. No próximo capítulo vou contar mais sobre a evolução e acerto após os testes. Até lá!
Por Gabriel Maia, Project Cars #502