Por Yuri Franzoni, Project Cars #509
E aí, gurizada, tudo beleza? Estamos de volta com o segundo capítulo da história do meu Miata. Quem teve a oportunidade/tempo/paciência/saco/perseverança de ler meu primeiro texto, deve lembrar que essa saga teve início depois de uma viagem de férias em que eu e a esposa alugamos um Miata NB e ao voltar ao Brasil, o primeiro Miata escapou das nossas mãos, mas no fim das contas, abraçamos um classic red com câmbio manual, em bom estado geral mas com uma série de coisinhas pra fazer.
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Terminei a primeira parte dessa história contando alguns dos primeiros ajustes que eu fiz, comentando da decisão de trazer o som original de volta ao painel e principalmente, que neste segundo capítulo vocês seriam brindados com o inferno burocrático que um Detran é capaz de colocar na vida da gente.
Instalando de volta o áudio original, take 1
Vou começar pela parte mais fácil de contar: lembram que eu havia comprado uma penca de itens no eBay logo nos primeiros dois meses com o carro, certo? Entre eles, havia o chicote do rádio original – que havia sido cortado em algum momento do passado para instalação do CD player Kenwood que estava no painel. Quando recebi a encomenda, parti para a instalação do chicote, pois o rádio Mazda que veio com o carro estava guardado no armário da garagem e eu estava esperando pelo chicote para trazê-lo de volta à ativa.
Uma das coisas mais bacanas do Miata é que, devido ao fato dele ser um sucesso estrondoso de vendas nos Estados Unidos, a busca por informação de qualidade é ainda mais fácil do que a própria busca por peças no eBay e desmanches. Um dos fóruns favoritos que eu utilizo é o Miata.net – com um site cujo design grita início dos anos 2000 –, que tem um volume absurdo de conhecimento acumulado sobre todas as gerações do Miata (e até mesmo do Fiat 124 Abarth Spider, o famoso Fiata).
Poucos minutos de procura por lá e encontrei um guia completo dos sistemas de áudio original dos Miatas NA e NB – atualizado apenas até o ano/modelo 2003, mas já serve! Nesse guia, encontrei o wiring diagram que mostrava a fiação certinha do carro e do chicote, além de demonstrar todos os modelos de rádio OEM que vieram nos Miatas desde o lançamento até então – inclusive os modelos de séries especiais, com recursos como equalizador gráfico e ajuste automático de volume de acordo com o ruído ambiente (chique demais para um carrinho do início dos anos 90).
Bom… vamos começar pelo chicote. De posse do diagrama da fiação e de um passo-a-passo bem detalhado sobre como desmontar o painel do carro, parti para a luta e retirei o rádio Kenwood e o porta-trecos que vieram com o carro.
Lendo os manuais com calma, ficou claro que eu não precisaria desmontar o painel inteiro como descrito somente para retirar o rádio. Bastou trabalhar nem dez minutos na seção central e eu já estava com o rádio e o porta-trecos fora do carro:
Além da surpreendente facilidade em desmontar essa parte do painel, eu também fui brindado com uma informação nova (bom, era nova pra mim): ao contrário do que eu achava inicialmente, o carro tem seis alto-falantes no seu interior – dois nas portas e mais dois em cada encosto de cabeça. No entanto, os dois alto-falantes das portas estão em bom estado e resolvi não trocá-los, pois minha intenção não é aumentar a potência ou a fidelidade do áudio – prefiro curtir o ronco do motor e o som do vento quando estamos passeando.
Poucos minutos depois, consegui fazer a instalação do chicote corretamente e pude testar o rádio Mazda OEM que eu tinha em mãos. Conectei o rádio e vi que a iluminação do painel e dos botões do rádio estava em boas condições. Os botões também respondiam corretamente. Porém, não saía áudio de nenhuma das quatro saídas… além do tape deck estar com defeito, a fita cassete com adaptador para plugue P2 não ficava dentro do deck de jeito nenhum, aparentemente o motor do deck estava com problemas. Nem perdi muito tempo, terminei de colocar o rádio no painel apenas para preencher o espaço e montar tudo de volta como estava.
No mesmo dia comecei a pesquisar por opções de rádio OEM da Mazda para colocar no painel, pois claramente o meu rádio não valeria o esforço para consertá-lo. Acabei descobrindo que o rádio Mazda que eu tinha em mãos não era original do Miata, mas da van MPV, que também foi vendida por aqui até a saída da Mazda do nosso país.
Achei que em breve eu teria o som original de volta ao painel, mas a parte difícil da história me fez esquecer do rádio por um tempo, esse rádio “provisório” acabou ficando no painel por mais de seis meses. Nesse meio tempo, tive que começar a sofrência da transferência, a qual vou contar em detalhes a seguir. Senta que lá vem história… de novo.
Burocracia 7×1: Round 1, fight!
Deixa eu recapitular a linha do tempo dessa história: o carro foi comprado no início de fevereiro de 2017 e chegou até minhas mãos na última semana daquele mês. Nesses quinze dias, o Miata passou pelas mãos do Alexandre para revisão geral e foi transportado de SP para o RS.
Quando o carrinho chegou, é óbvio que eu ia dar atenção para aquilo que interessava: empilhar quilometragem (ou melhor, milhagem) no painel! Então, naquele final de semana, fizemos os passeios que relatei no primeiro capítulo deste PC #509. Acontece que na semana seguinte, eu estava com uma viagem a trabalho marcada, que me afastaria da cidade por alguns dias. Então, quando eu retornei, na semana seguinte eu estava no limite do tempo para realizar a transferência do veículo pro meu nome – são 30 dias após o reconhecimento da firma do vendedor no documento de propriedade, sob pena de multa.
Sabendo disso, tirei um dia e fui ao CRVA da gringolândia para iniciar o processo de transferência. Entrei na fila, entrei com a documentação e…
Primeira bola na trave. O antigo proprietário havia me enviado por correio o documento de propriedade com a firma devidamente reconhecida. No entanto, alguma criatura que trabalha no cartório de notas, do alto da sua incompetência, fez o reconhecimento da firma do vendedor com uma letra diferente do que constava no documento. O nome correto do proprietário era Pedro Paulo Fulano di Tal – e era isso que constava no documento – e a firma foi reconhecida com o nome de Pedro Paulo Fulano de Tal.
Por causa dessa leve diferença, o CRVA daqui da gringolândia recusou a documentação para dar entrada no processo de transferência. Entrei em contato com o sr. Pedro Paulo, que ficou de ver o que deveria ser feito neste caso. Lá se foram meus 30 dias de prazo para transferir… e assim começa a minha novela para botar o carro no meu nome.
Dia seguinte, o sr. Pedro Paulo me retornou dizendo que foi até o cartório para verificar o que deveria ser feito. Eu precisei enviar o documento de propriedade de volta a São Paulo, para que ele pudesse retornar ao mesmo cartório, onde seria realizado um segundo reconhecimento de firma – que retificava a informação incorreta da primeira autenticação – e em seguida, ele me enviaria o documento de volta. Assim fizemos, enviei o documento para SP e cerca de dez dias depois, o documento estava de volta ao meu endereço para iniciar novamente o processo de transferência.
Burocracia wins. Vamos lá tentar novamente.
Burocracia 7×1: Round 2, fight!
Àquela altura, já estávamos na segunda quinzena de março de 2017. Peguei o carro com o documento retificado e voltei ao CRVA. Dessa vez, consegui dar entrada no processo de transferência, o CRVA ficou com o documento anexado ao processo e me entregaram as guias para pagamento das taxas. Paguei as taxas no mesmo dia e fui orientado a voltar a partir do dia seguinte para fazer a vistoria.
Voltei uns dias depois – afinal, eu trabalho e pasmem, tenho mais o que fazer além de correr atrás do CRVA – e entrei na fila para fazer a vistoria. Fiquei cerca de uma hora aguardando ser chamado. Quando chegou minha vez, encostei o carro no box para vistoria, veio um elemento fazer a vistoria. Farol baixo, farol alto, seta pra direita, seta pra esquerda, freio, ré, tudo certo. Na época, o extintor ainda era obrigatório, OK. Macaco, chave de roda, estepe, beleza. Aí o elemento passou a tirar as cópias dos números do chassi na carroceria e fotografou o carro. Tudo normal até aí.
Em determinado momento, o elemento resmungou que o número do motor não constava no documento atual e seria preciso tirar a cópia desse número para anexar no processo. Onde fica o tal número? Num lugar de terrível acesso, que além de exigir que o carro fosse elevado, também exigiu um pouco de contorcionismo do elemento que fazia a vistoria.
Beleza, o elemento perdeu quase uma hora só pra chegar nesse local do carro, tirou a cópia que ele precisava, aí encasquetou que o documento do carro estava com informações erradas (capacidade de passageiros, potência…). Lá foi ele e alterou os dados que julgava incorretos. A essa altura, eu já tinha perdido a manhã inteira por lá e já passava das 13:00.
Quando o elemento finalmente veio falar comigo, o diálogo foi o seguinte:
– OK, terminamos a vistoria.
– Beleza, agora tenho que esperar sair a autorização pra confecção das placas?
– Não, o teu carro foi reprovado.
– Cuméquié??
– Teu carro tem uma avaria severa na área crítica do para-brisa. Não posso aprovar teu carro desse jeito porque ele não oferece segurança para rodar.
Antes que eu começasse a mandar o cara tomar no cucuruto, pedi para ele me mostrar do que ele estava falando. A seguir, vocês verão duas fotos, que eu sofri bastante para captar, que mostram a “avaria severa na área crítica do para-brisa”:
Tratava-se de uma minúscula marca de pedra no vidro, tão minúscula que a unha nem chega a prender quando passa por cima… e que eu não tinha visto até a hora que o elemento me mostrou do que ele estava falando. Era uma marquinha tão pequena, menor do que a bunda de uma tampa de caneta Bic, que não gerou qualquer trinca ou rachadura ou qualquer outro efeito no restante do vidro. Porém, como ela estava estrategicamente localizada na área à frente do volante, foi considerada como uma “avaria severa na área crítica” – fosse no lado do passageiro, estaria fora da “área crítica” e não reprovaria o carro na vistoria. Mas essa “avaria severa” fez com que o meu carro “não oferecesse segurança para rodar”…
O interessante é que o Chevette rebaixado com insulfilm G20 e escapamento duvidoso, que estava no box ao lado, aparentemente não oferecia qualquer risco para rodar, pois foi aprovado e trocou de placas naquele mesmo dia. Enfim…
Chamei o cara aí de elemento porque não quero e nem posso chamá-lo com o termo que eu realmente tenho vontade de usar. Deixemos assim…
Burocracia wins. Vamos atrás de reparo no para-brisa.
Burocracia 7×1: Round 3, fight!
Já que eu tinha perdido a manhã inteira no CRVA, já tinha perdido o almoço em casa e já passava das 14:00 (ou seja, já ia perder o resto do dia sem conseguir atender cliente nenhum), resolvi ir direto para uma oficina de reparo de vidros automotivos. Mostrei a “avaria severa” para os caras, deixei o carro lá e retirei no final do dia seguinte. Gastei R$ 120,00 pelo reparo, que confesso que piorou mais do que melhorou a situação – inicialmente, eu nem sabia da existência do problema, depois da vistoria, passei a enxergar um pontinho minúsculo, depois do reparo, o ponto aumentou…
Mesmo assim, uns dias depois – já estávamos no início de abril de 2017 – resolvi tentar novamente. Mesma coisa: pega fila, espera quase uma hora, vai pra vistoria. Desta vez fui chamado por outro vistoriador, que irei denominar meliante. O meliante fez toda a novela da vistoria – exceto pelo número do motor e dados do documento, que já constavam no processo iniciado anteriormente – e me reprovou novamente, rindo, repetindo a mesma coisa que eu ouvi da primeira vez e sendo enfático: “tu não vai conseguir aprovar esse carro na vistoria em lugar nenhum sem substituir esse vidro”. Como se fosse fácil encontrar o para-brisa de um carro japonês de quase 30 anos, do qual vieram menos de 200 unidades para o Brasil desde então. Então, o meliante saiu com aquela cara de vitória (não sei o que é que ele ganharia com isso, mas enfim), me deu as costas e foi vistoriar o próximo carro da fila.
Resolvi voltar à oficina que fez o reparo do para-brisa. Me cobraram mais R$ 80,00 para lixar e polir a área do vidro onde foi feito o reparo, para melhorar um pouco o resultado do conserto. Uns dias depois, voltei pra buscar o carro novamente e dessa vez, o conserto tinha ficado bom, apesar de ainda ser possível enxergar uma marca tão minúscula quanto a anterior no local onde foi feito o reparo.
Desta vez, chamei o vistoriador de meliante porque também não quero e nem posso chamá-lo com o termo que eu realmente tenho vontade de usar – que é tão ruim ou pior que o anterior. Deixemos assim novamente…
Burocracia wins. Vamos outra vez tentar a vistoria.
Burocracia 7×1: Round 4, fight!
Àquela altura, estávamos na segunda quinzena de abril de 2017. Eu continuava preocupado com essa situação do vidro, pois se tivesse que trocar o para-brisa, não era nem o prejuízo que me causava pânico, mas sim a dificuldade de encontrar um para-brisa novo para colocar no carro!
Pensando nisso – e considerando que eu preciso trabalhar, eu viajo bastante e nem sempre posso estar por aqui para correr atrás desse tipo de coisa – resolvi contratar um despachante para fazer o serviço para mim.
Deixei o carro com o despachante, que foi ao CRVA fazer novamente a vistoria. Segundo ele, o carro estava sendo vistoriado por outro profissional e quando estava prestes a concluir e dar o veredito, apareceu o meliante para ver como tinha ficado a “substituição do para-brisa”. Quando o meliante viu que eu havia feito novo reparo, ele teria meio que “ordenado” o colega a reprovar meu carro mais uma vez.
Burocracia wins. E o desespero começava a pegar.
Burocracia 7×1: Round 5, fight!
Depois dessas três tentativas frustradas de aprovar o carro na vistoria, eu estava sem saber para onde correr. Falei com pelo menos mais três despachantes, de cidades diferentes inclusive, para ver o que poderia ser feito. A resposta foi unânime: nada, pois a essa altura meu processo – e as respectivas reprovações – já estavam registradas no sistema do DETRAN/RS, o que faria com que qualquer tentativa de fazer o processo em outra cidade redundasse em novo fracasso, pois a nova vistoria teria de anexar provas de que o motivo de reprovação anterior havia sido corrigido pelo requerente.
Outra possibilidade seria deixar o processo baixar por falta de andamento, ou seja, desistir de transferir para meu nome no endereço indicado na comunicação de venda, e tentar transferir para algum endereço em meu nome em outro Estado, de forma a começar tudo de novo. Porém, teria toda a questão de mandar documento de volta a SP para o antigo proprietário solicitar uma segunda via do documento que ele assinou e reconheceu firma, além de precisar levar o carro até o local em questão para fazer a vistoria – fora o fato de que eu não tenho um endereço fora do RS para registrar em meu nome. Fora de cogitação.
Traduzindo, ou eu trocava o para-brisas, ou não conseguiria transferir pro meu nome. Fácil, né?
Já estávamos em maio de 2017 e ao mesmo tempo em que procurava por soluções para o meu caso do para-brisa, deixei meu caso com um outro despachante que prometeu verificar minha situação. Como mencionei acima, primeiramente seria necessário esperar coisa de um mês para o processo atual ser baixado automaticamente no sistema do DETRAN e aí sim poderíamos começar o processo novamente em outro CRVA, então ele me ligaria novamente dali a uns 45 dias para me ajudar. Não levei muita fé… e estou esperando retorno dele até hoje.
Os meses de maio e junho de 2017 se passaram enquanto eu procurava solução para o meu problema – e o carro seguia emplacado em São Paulo, com o documento de rodar do exercício de 2016. Procurei por para-brisa de MX-5 no Mercado Livre, em desmanches (sonhar não custa nada…), em importadoras de peças, em lojas de vidros automotivos e só tive respostas negativas – a menos ruim delas foi um anúncio que apareceu no Mercado Livre, de um vendedor de SP que tinha um para-brisa usado por módicos R$ 1.800,00, mais frete e instalação. Imagine o medo que eu passaria de ter de trazer um vidro precioso como esse para o RS…
Até que lá no início de julho de 2017, numa tentativa desesperada, entrei em contato com mais algumas lojas de vidros automotivos aqui da região, ainda que sem muita esperança de encontrar. E não é que encontrei?!
A loja que salvou a lavoura foi a Rey do Vidro, de Caxias do Sul, a 50 km daqui de casa. Eles tinham o vidro na matriz em Canoas (grande Porto Alegre) e prontamente enviaram para a loja de Caxias para que eu pudesse fazer a substituição. Dia seguinte, vidro na loja, desmarquei meus compromissos e fui correndo pra lá.
Levou o dia inteiro – atendimento por ordem de chegada… – mas finalmente consegui sair de lá com o vidro trocado, chassi gravado no para-brisas e tudo o mais. Trocaram também a borracha de vedação, que estava bem ressecada. Custo total da brincadeira: R$ 1.000 entre peças e mão de obra – mais ou menos o preço que se gasta para trocar o vidro de um veículo nacional comum. Dei sorte!
Pedi encarecidamente para que eles guardassem o para-brisa substituído. Poucos dias depois, passei lá novamente e levei pra casa, guardei como “reserva” até hoje – vai que, né?
Vidro substituído, achei que tinha vencido essa batalha. Empolgado com a chance de finalmente resolver essa novela, fui ao CRVA mais uma vez tentar a vistoria:
Burocracia wins. Já tinha esquecido o quanto eu odeio esse lugar.
Burocracia 7×1: Round 6, fight!
Mais uns dias, já estávamos na metade de julho/2017, voltei ao CRVA para entrar novamente na fila para vistoria. Dessa vez, nem cheguei a pegar a senha: ao dar entrada com os documentos no processo, para gerar a senha de vistoria no sistema, descobri que meu carro estava com uma restrição administrativa, que impedia a continuidade do processo de transferência. Detalhe: era o mesmo processo que iniciei ainda na metade de março, quando recebi o documento com a autenticação corrigida. Mas caceta, eu já tinha tentado fazer a vistoria pelo menos três vezes e nunca tinha aparecido qualquer restrição, afinal de contas, que cazzo que aconteceu desta vez?!
Como vocês já devem esperar, é claro que o CRVA da gringolândia não tinha como informar que tipo de restrição impedia o processo. Estranho seria se eles conseguissem me ajudar… Então, tive de entrar em contato com o DETRAN/SP para ver o que estava acontecendo.
Constatei o seguinte: o sr. Pedro Paulo, antigo proprietário, havia realizado a Comunicação de Venda do veículo lá em fevereiro de 2017, quando fechamos negócio. Em seguida, quando recebi o carro, eu tinha apenas o documento do exercício de 2016 para poder rodar por aí e esse documento tinha validade até o dia 30/06/2017. Como já estávamos em julho/2017, o prazo para licenciamento do carro em São Paulo havia expirado; então, a “restrição administrativa” que trancou o processo por aqui era a simples falta de licenciamento no estado de origem. Eu teria de licenciar o carro em SP para poder tentar seguir com o processo de transferência novamente por aqui.
Fácil né?
Tentei fazer o pagamento do IPVA, licenciamento e DPVAT do carro usando placa e RENAVAM no meu internet banking. Não consegui. Como o banco que eu trabalho não tinha, na época, agências em SP, pensei que fosse por esse motivo e me dirigi a uma agência do Santander para fazer o pagamento. Paguei uns R$ 156 no total, saí com o comprovante e aguardei uns dias, acompanhando no site do DETRAN/SP para ver quando é que o carro constaria como licenciado 2017.
Passou uma semana e nada. Entrei em contato novamente com o atendimento do DETRAN/SP, que afirmou ser algum problema com a SEFAZ/SP. Entrei em contato com a SEFAZ/SP, que afirmou – Adivinha? Adivinha? Adivinha? – ser algum problema com o DETRAN/SP. Nessa hora eu pensei seriamente em desistir de tudo, devolver o carro e desfazer o negócio.
Desiludido, resolvi entrar em contato com o sr. Pedro Paulo para ver se ele poderia me auxiliar de alguma maneira – ou até mesmo desfazer o negócio… sei lá. Liga no celular, toca e ninguém atende. Liga de novo mais umas duas ou três vezes, sem sucesso. Deixei recado no WhatsApp e no dia seguinte a secretária dele me retornou:
Quando recebi essa mensagem, me caiu o c* da bunda e eu só conseguia dividir as minhas preces entre a alma do falecido e que o carro não tivesse entrado em algum processo de inventário dos bens dele. Ficou claro que em alguma encruzilhada, tinha um tonel de cachaça e uma galinha preta com o meu nome anotado num papel.
Recuperado do susto, consciência recobrada, uns dias depois resolvi pegar o touro pelos chifres e retomei as ligações aos órgãos públicos de SP. Como nem DETRAN nem SEFAZ se entendiam, resolvi abrir um chamado na ouvidoria da SEFAZ/SP via internet, explicando a situação e pedindo orientação sobre como proceder. Para minha surpresa, a resposta veio rapidamente:
Finalmente um fato novo. No mesmo dia, entrei em contato por telefone com o DETRAN/SP, quando depois de muito explicar o caso inteiro para três pessoas diferentes, o terceiro funcionário me deu o caminho das pedras para solicitar o desbloqueio da comunicação de venda. Tive de tirar cópias autenticadas do RG, CPF, CNH, comprovante de endereço, CRLV do carro e ainda escrever uma carta de próprio punho descrevendo minha solicitação. Assim o fiz e enviei tudo para o Protocolo do DETRAN/SP.
Passaram-se alguns dias, nada de cair a comunicação de venda na consulta da placa do carro. Início de agosto, recebo retorno deles dizendo que já havia sido feita a baixa da comunicação, entretanto, na consulta web, ela continuava por lá… Voltei a ligar pra lá, abriram novo processo, desta vez junto à SEFAZ para que eles verificassem o que houve.
A resposta da SEFAZ foi… empolgante. O licenciamento do carro ainda constava como pendente, pois eu fiz o pagamento no Santander quando a comunicação de venda ainda estava em vigor. Resultado: tive de pagar os R$ 156,00 novamente para que desta vez fosse registrado o licenciamento do veículo. Quanto ao valor que paguei em vão anteriormente? Bastaria eu comparecer pessoalmente a uma unidade do Poupatempo… em São Paulo. Claro que eu tive que engolir mais esse prejuízo e deixei pra lá.
Finalmente, no dia 14/08/2017, me retornaram informando que constava licenciamento 2017 desde o dia 10/08 – e que eu deveria proceder com a transferência aqui no RS, enquanto a comunicação de venda não voltasse a vigorar.
Burocracia wins. Mas finalmente eu tinha uma luz no fim do túnel.
Burocracia 7×1: Round 7, fight!
O dia era 17/08/2017. Consegui me liberar mais cedo de um cliente e cheguei a tempo na cidade para tentar a sorte no CRVA da gringolândia – pela sétima vez. Entrei com os documentos para nova vistoria – OK, tudo aceito, a “restrição administrativa” estava resolvida. Peguei nova senha, fui pra área de vistoria.
Veio outro vistoriador (que não era nenhum dos anteriores). Repete toda a dança de verificar luzes, buzina, esguicho, estepe… aí veio um dos caras perguntando se eu tinha conseguido o para-brisa. Quase mandei tomar no cucuruto, não diss uma palavra sequer, só apontei para o vidro. Empilharam-se três vistoriadores sobre o para-brisa até constatarem que cabeça de cavalo não tem chifre. FINALMENTE! Meu carro estava aprovado!
No entanto… como já era quase final de expediente… sabe como é… 16:45… né… Brasil… muito convenientemente, o sistema do CRVA caiu de novo! Me fizeram voltar no dia seguinte, mas pelo menos a aprovação da vistoria tinha sido registrada, seria somente para eu pegar a autorização para confecção da tarja das placas e finalmente, lacrar a placa com a tarja da gringolândia.
A essa altura, eu já nem me estressava mais. Voltei na manhã seguinte, uma sexta-feira ensolarada, pontualmente às 9:00.
Yuri wins. Levou só seis meses. E ainda fiz questão de sair de capota baixa, sem pressa nenhuma e de alma lavada.
Os primeiros eventos
Enquanto essa novela mexicana não terminava, eu não tinha segurança nenhuma de sair com o carro para passeios ou participar de eventos – eu nem sabia se iria conseguir regularizar o carro no meu nome, afinal de contas.
Nesse meio tempo, em meados de julho de 2017, rolou mais uma edição do tradicional Rally dos Vinhedos. Como nessa data eu já estava até mesmo sem documento para rodar com o carro – pois eu só tinha o CRLV de 2016, que deixou de valer em 30/06/2017 – eu não pude nem pensar em participar com o meu carro. Infelizmente não consegui acompanhar o evento, então tenho poucas fotos para compartilhar:
Nessa mesma semana, eu estava fazendo a troca do para-brisa do meu carro – mas o evento serviu para conhecer dois grandes amigos do grupo Miata Brasil, o presidente Marcelo e o ex-presidente Reinaldo, o lendário ex-proprietário que ficou 15 anos com o meu carro! O Marcelo veio com o seu Miata 95 e o Reinaldo, com seu fabuloso Triumph 1959:
Ainda ganhei de presente algumas lembranças do grupo Miata Brasil, as quais estão comigo sempre que saio com o carro. Essa galera é show de bola!
Com o documento definitivo em mãos, finalmente pudemos começar a sair com o carro com mais frequência e sem medo. Para quem ainda não tem uma noção do tamanho do bichinho, vejam que beleza estas fotos do Miata entre gigantes:
Mais alguns dias, coloquei no devido lugar os detalhes que eu já tinha recebido para colocar no carro – o emblema dianteiro e os adesivos do FlatOut! que adicionaram 15 whp ao carrinho – bem como o adaptador USB 12v para ligar no lugar do acendedor de cigarros do painel. Aproveitei para dar uma conferida com calma no top boot, que deixa o visual bacanudo demais.
Em novembro de 2017, tivemos um evento bem bacana aqui na gringolândia, que ocupou boa parte do centro da cidade com veículos antigos de membros e amigos do Veteran Car Club dos Vinhedos. Oficialmente falando, foi minha primeira participação com o japinha em um encontro de antigos:
Instalando de volta o rádio original, take 2
Naquele mesmo mês de novembro, eu e a esposa saímos em férias para o Canadá (que aliás, rendeu uma road trip simplesmente maravilhosa, que uma hora dessas quero contar para vocês aqui no FlatOut!) e aproveitamos a passagem por um país onde a Mazda está presente (e vende bem, obrigado) para correr atrás de algumas coisas para o carro que são mais difíceis de achar por aqui. Recebi uma pequena encomenda de peças pro grande amigo Thiago – que foi atrás e me passou de antemão os part numbers das peças que ele queria – a qual fiz questão de buscar numa concessionária Mazda em Toronto.
Claro que aproveitei a passadinha na Gyro Mazda para conhecer o Miata da geração ND pessoalmente e também para conferir o (então) novo Miata RF, com teto rígido retrátil.
Quanto ao meu projeto, a minha intenção era de pegar um rádio OEM para instalar no painel, mas dificilmente uma autorizada da marca teria uma peça original da linha 1991 à venda. Além disso, segundo minhas pesquisas no eBay e lojas online, eu já tinha visto que esse item não seria tão fácil de se encontrar também, ainda mais em pleno funcionamento. Poucos são os proprietários de Miatas que ainda possuem o rádio original no carro ou encostado em algum armário de casa, pois queira ou não, trata-se de um carro de quase 30 anos.
Quem quiser um visual OEM, como eu queria, ou sai à caça de exemplares usados (funcionando ou não) ou parte para soluções alternativas, tais como a instalação de unidades OEM de modelos mais novos, como os Miata NB e também de outras linhas (Protegé, Millenia, MPV, etc.), que utilizam até o mesmo chicote para instalação. Outro mod muito comum (inclusive aqui no Brasil) é instalar no carro a unidade 2,5 DIN original do Hyundai Tucson, cujo visual externo é muito semelhante ao painel original do Miata, bem como a iluminação verde, porém oferecendo qualidade de som superior, além de comodidades como porta USB, CD com leitor de MP3 e até mesmo bluetooth em alguns modelos – fora a tela maior, que dá um ar de modernidade ao painel.
No entanto, como não era esse o meu objetivo, me concentrei na procura de unidades Mazda, ainda que de outros modelos da marca ou gerações do Miata. Quase fechei a compra de vários exemplares, sempre no eBay, até que um dia, resolvi pesquisar nos classificados do fórum Miata.net. Não achei nada à venda por lá que encaixasse com o que eu procurava, mas tinha uma seção “Wanted to buy”, onde você deixa seu contato dizendo o que está procurando. Fiz isso… e não é que apareceu um cara me oferecendo o toca-fitas original do seu Miata 92 por US$ 25, já com o envio incluído dentro dos EUA/Canadá?
Detalhe 1: o vendedor era do Canadá, e eu estava por lá exatamente quando ele me mandou a mensagem no fórum. Eu poderia até mesmo retirar pessoalmente… não fosse o detalhe 2: ele me contatou na véspera da minha viagem de volta, quando eu já estava prestes a devolver o carro à locadora. O rapaz era dos arredores de Toronto e eu tinha saído de lá na noite anterior. Que beleza…
De qualquer maneira, o cara me garantiu que o rádio estava em pleno funcionamento quando foi retirado do carro. Então, resolvi abraçar e pedi que fosse enviado ao armazém da Qwintry, um serviço agregador de encomendas que eu utilizo para compras nos EUA. Assim foi feito e dali a alguns dias, o pacote estava pronto para ser despachado ao Brasil.
Outra peça que eu queria ter trazido do Canadá, mas desisti quando vi as dimensões, era o famoso windblocker, um defletor de vento que vai instalado atrás dos bancos, assim eu poderia aposentar aquele defletor plástico que eu comentei no primeiro texto. Como o Miata NA, de primeira geração, não tinha esse defletor de vento como peça original de fábrica – somente como acessório aftermarket –, pesquisei mais um bocado no Miata.net e encontrei uma listagem de peças que são compatíveis entre o NA e o NB. Nessa listagem, descobri que o defletor original do NB é perfeitamente compatível com o NA, então, bora procurar um windblocker para o NB!
O pessoal da CSS Mazda que visitei em Toronto até conseguia a peça se eu encomendasse, mas o preço era bem alto – coisa de uns 120 dólares se não estou enganado –, levaria alguns dias e de qualquer maneira, eu teria a dificuldade de trazer pra casa dentro da bagagem. O defletor mede cerca de 1,2 m de largura e pesa uns 2 ou 3 kg, então socar dentro da mala seria impossível (que já estava bem cheia, pois era início de inverno por lá). Despachar como bagagem especial também não seria nada barato.
Então, peguei o part number e quando voltei para casa, dá-lhe eBay… acabei encontrando um exemplar em bom estado por módicos US$ 37,50. Comprei e mandei entregar no armazém da Qwintry, onde já tinha o rádio esperando para ser despachado. Comprei também uma vareta do óleo do cárter (pois o puxador de plástico da minha tinha quebrado) e uma maçaneta interna da porta do passageiro, pois desde que comprei o carro, aquele indicador vermelho que estava quebrado me saltava aos olhos. Coisa de zé frisinho mesmo.
Recebidas as encomendas no armazém da Qwintry, comandei o fechamento da encomenda, que foi empacotada e, após preenchimento da declaração de conteúdo, foi despachada para o Brasil. O serviço da Qwintry mais frete dos EUA pro Brasil custou no total uns 40 dólares, se não estou enganado. Naturalmente, nesse tipo de serviço, as encomendas estão sujeitas à fiscalização e tributação pela Receita Federal, o que efetivamente acabou acontecendo.
Entre impostos e tarifa de entrega (os famosos 15 reais dos Correios), gastei mais R$ 306,00 nessa brincadeira. Mas faz parte… uns 90 longos dias depois (dos quais, cinco dias foram gastos no trajeto entre os EUA e o Brasil, uns 80 dias para chegar na Unidade de Tratamento Internacional dos Correios, passar por fiscalização, gerar o imposto e liberar a encomenda após o pagamento, mais uns cinco dias pra chegar do RJ até minha casa), pelo menos chegou tudo são e salvo.
Assim que recebi o pacote, não resisti e parti pra instalação dos brinquedos novos:
O windblocker foi uma das melhores compras que fiz pro Miata. Conforme o pessoal do Miata.net já havia dado a dica, a compatibilidade do defletor do NB com a estrutura do NA foi total – bastou parafusar no local correto e voilà, tá instalado. Se meu carro fosse um exemplar com motor 1.8, ano 94 em diante, seria necessário também fazer um furo extra de cada lado para a correta fixação, mas no meu caso nem isso foi preciso fazer. Ficou do jeito que eu imaginava, com toda a cara de acessório de fábrica, totalmente funcional – nem parece que foi adaptado de um exemplar mais novo!
No mesmo pacote, vieram também a maçaneta nova pro lado do passageiro, a nova vareta de óleo e, é claro, o tão esperado rádio toca-fitas original que acompanhava o carro. Coloquei a vareta no devido lugar, troquei a maçaneta com o indicador quebrado pela nova que recebi e parti pra instalação do rádio no painel. Tudo muito simples, pois já tinha o chicote instalado corretamente e eu sabia que os falantes estavam todos em pleno funcionamento – pois tinha aquele rádio Kenwood instalado anteriormente. Quando terminei a montagem, puxei meu velho iPod Shuffle, que estava jogado numa gaveta, e em conjunto com a fita cassete adaptadora para plugue P2 ganhou uma nova funcionalidade: jukebox pro Miata!
O momento da estreia do conjunto foi este. Quase chorei.
//youtu.be/V_TFHOiaOFE
No próximo capítulo, a conclusão desta história (mas não o final, pois Project Car que se preze nunca tem fim): mais alguns ajustes e melhorias, a minha participação no Rally dos Vinhedos de 2018 e a situação atual do carro como se encontra no momento. Abraço a todos!