Por Roger Bueno, Project Cars #519
Olá, FlatOuters! Em primeiro lugar, eu quero me desculpar pela demora em escrever a parte final desse processo de restauração. Aconteceram várias coisas desde o último capítulo que me impossibilitaram de escrever essa parte antes. Mas sem mais desculpas, vamos a história, pois isso é bem mais interessante.
Na parte 2, o carro havia acabado de ficar pronto na pintura e nesse momento iria iniciar o processo de montagem. Como vocês devem lembrar, eu optei por fazer todo o trabalho de restauração do carro em uma única oficina, pois já tinha ouvido muitas histórias de problemas no deslocamento do carro de plataforma, até que todas as etapas dos processos fossem concluídas. Sendo assim, meu carro estava na Garagem Spadari para fazer tudo por lá mesmo e evitar os dissabores que esse vai e vem podem ocasionar.
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A montagem
Essa etapa, que começou em meados de outubro de 2017, ficou sob a responsabilidade de um grande profissional, o Jefferson Salatiel, o proprietário da JEMS – Elétrica e Montagem especializada, empresa associada da Garagem Spadari. Ele possui muita experiência na montagem de carros antigos de todas as marcas, tendo especialização no Maverick, pois já havia montado mais de 30 até aquele momento. O Jefferson foi conduzindo de forma muito profissional a montagem e também, me ajudando na solicitação das peças e no tempo adequado para o desembolso financeiro.
Porque sabemos que é muito caro restaurar um carro mais ou menos e com a profundidade que fiz, sairia bem mais caro. Por isso, seria muito importante fazer compras nos tempos adequados, para o projeto não parar por falta de recurso. Além disso, ele cotou e comprou peças de forma que o projeto não parasse e depois eu fazia o acerto com ele. Ter esse gerenciamento do projeto é fundamental para quem não tem tempo. Sem dúvida alguma, isso foi um grande diferencial em todo o processo.
Vamos as peças para a montagem. Conforme já falei acima, eu fiz questão de colocar tudo novo no carro, para que não tivesse problemas depois com peças coladas ou já usadas. Sendo assim, comprei muita coisa e de acabamento nos EUA e outras coisas eu comprei no mercado local. Além de peças que já existiam no carro, mas não tinham reposição e aí sim, nós partimos para a restaurar outras, tais como: partes internas de plástico, frisos metálicos e peças de metal que seriam desmontadas, lixadas e pintadas. Tudo isso, para deixar o carro com o aspecto de realmente novo. Porém, se houvesse algo que estivesse comprometido, tudo foi trocado para deixar o carro sem problemas futuros.
Frisos, para-choques e acabamentos do cofre
Foram colocados todos no padrão metálico. Alguns vieram com o carro e outros tiveram que ser comprados. Preferi colocá-los assim, pois para meu gosto, eles ficariam mais alinhado como o que eu idealizei.
Para dar um toque de personalidade e modernidade a esse clássico, eu comprei parafusos especiais para dar um toque no cofre do motor. Sim! Porque um clássico não deve ser bonito somente por fora. Afinal, o motor é o seu coração e nada mais justo que refinar o acabamento dele também. Foram comprados parafusos especiais da Performance V8, para prender os paralamas e dar um destaque a essa montagem.
Os para choques foram todos retrabalhados. O dianteiro que teve que ser comprado um novo, pois a ferrugem havia o destruído e não conseguiria fazer uma funilaria nele para recupera-lo. Tendo o para-choques dianteiro comprado, os dois foram mandados para funilaria e posteriormente, para serem cromados. Posso dizer que nunca pensei que ficariam tão caros.
Vidros
Eu troquei todos os vidros originais do carro. Sei que os puristas poderão me recriminar, pois isso mexe com originalidade do carro.
Em parte, isto é muito verdadeiro, mas só quem já teve carro antigo com vidros riscados, saberá dizer o quanto isso incomoda na estrada. E os que vieram no carro não tinham condições positivas para um possível polimento. Sendo assim, eu comprei vidros verdes e novos para o carro.
Maçanetas e milos de fechaduras
As maçanetas eu comprei nos EUA. Muito mais baratas que as do Brasil, assim como os trincos de porta. Agora, os miolos de portas e porta malas, esse item eu comprei os do Corcel, porque além de serem os mesmos, são mais baratos que os do Maverick. A impressão que tenho é que falou Maverick, as coisas dobram de preços.
Rodas e pneus
As rodas do carro foi outro ponto de muita discussão. Por vários motivos: harmonia com o caro, medidas, valor de compra e durabilidade. Inicialmente, eu pensei em colocar as rodas Magnum, que equipa os Dodges, mas depois me encantei com as Ridler 695. Em princípio elas seriam cromadas, depois optei pelas escovadas. Até que um dia, eu vi, em site americano, as rodas escovadas com a parte interna toda preta. Ela combinou muito no carro que apareceu na foto. Fiquei decidido naquela hora, era aquela. Agora, onde comprar essas rodas no Brasil? Até que depois muita pesquisa, eu consegui achar o contato do pessoal da Rally Som, loja de Curitiba, que é a representante da Ridler no Brasil. Falei com o Josias, que me atendeu muito bem, me ajudou no processo de comprar e entrega e fechei com ele. Pronto! Agora, só faltavam os pneus que foram comprados pela internet e assim que chegaram, eu providenciei a montagem das rodas e pneus.
A configuração de rodas e pneus ficou assim:
Dianteira – Rodas Ridler 695 Black 17×8 com pneus 215/50
Traseira – Rodas Ridler 695 Black 18×9,5 com pneus 255/45
Como a suspensão foi levemente rebaixada na traseira e dianteira, foi necessário rebater os paralamas dianteiros e rebater a caixa de rodas traseira, pois logo que o carro saiu da oficina, ele continuou raspando e fiz o serviço em outra oficina, pois já havia passado mais de ano da restauração.
Elétrica e instrumentos
A parte elétrica do carro foi toda ela refeita, chicote novos, caixa de fusível moderna e nova, instalação de nova iluminação do painel em led branco, para combinar com os instrumentos auxiliares e rádio que também tinha display branco. Faróis novos e também em led foram instalados nesse carro. As lanternas dianteiras e traseiras são novas com lâmpadas comuns.
Além disso, foram calibrados todos os instrumentos do caro, para que não houvesse problema de aferição com velocímetro e tanque de combustível.
Tapeçaria
Os bancos eu havia comprado logo no início da restauração, os originais do Maverick, os famosos bancos picolés. Comprei e guardei, para quando chegasse a hora da tapeçaria. O carpete central eu importei dos EUA. O Jefferson levou para seu tapeceiro que fez a reforma dos bancos, a nova forração do teto do caro e também, um novo estofamento para o dashpad do carro (acima do painel), para que tudo ficasse pronto. Os forros de porta, eu comprei da Maverick Parts BR. Produtos de qualidade e que dão um acabamento sensacional.
A etapa de montagem fluiu muito rápido, entre meados de outubro até meio de dezembro de 2017, o carro ficou pronto. Posso afirmar que essa foi a etapa mais rápida de todo o processo. Quando falo de montagem compreende: vidros e borrachas, frisos, tapeçaria interna, instrumentos, faróis e lanternas e toda elétrica em geral. Nessa etapa houve muito pouca surpresa, pois além da experiência do Jefferson, o que dava algum problema, logo era resolvido com alguma solução e não comprometeu prazo para a finalização.
O prazo
O prazo inicial que trabalhamos o carro inicialmente foi para setembro de 2017, mas devido os ocorridos, já sabíamos que isso não ocorreria. O novo prazo que fora estipulado era dezembro de 2017. Mas infelizmente, mais uma vez não ocorreu. Isso por desencontros de planejamento da montagem mecânica, porque não foi cumprido o cronograma que deviria ser feito. Isso foi um fato que me deixou muito chateado com tudo, porque em nenhum momento faltou entrega de peças ou pagamento para a oficina. Mas isso é algo que tive que engolir e seguir em frente, porque nesse momento faltava pouco. A montagem mecânica aconteceu em paralelo a montagem do carro, mas não na velocidade que necessitávamos para entregar o carro em dezembro de 2017. Até entendi que final de ano é um período mais complicado, mas infelizmente expectativa é algo muito complicado quando não é atendida.
Não havia muito o que ser feito. Era seguir em frente e aguardar o prazo que a oficina iria entregar.
Montagem mecânica
Motor
Enquanto a etapa de montagem interna do carro era concluída, eu comprei um motor que veio com cabeçote de dutos largos o que melhora o desempenho do motor. Ele foi enviado para a retifica para ser todo refeito. Foram compradas em novembro de 2017, TODAS as peças novas (pistões, bronzinas, anéis e etc.) para quando o motor voltasse da retifica fosse montado e depois, ele seguiria para a Retsam Balanceamento de motores.
Eu havia trazido dos EUA, em julho de 2017, um comando de válvulas levemente mais “apimentado” para equipar o motor do carro, porque eu havia definido que não queria uma preparação muito forte para o carro, até para poder curtir o carro tranquilamente. Então, todas as peças internas do motor foram originais, ou seja, nada forjada ou com preparação especial.
O kit de comando completo comprado foi um kit de válvulas hidráulicos simples com levante em: .434 “/. 467”, Duração: 255 ° / 263 °, ângulo de separação do lóbulo: 110 ° e faixa do RPM em 1000-5500.
Além disso, foram comprados esses itens:
- Coletor de admissão Edelbrock Performer;
- Carburador Holley Quadrijet CFM 600 sem vácuo;
- Distribuidor Eletrônico – Spectra Premium FD09~
- Tampas de Válvula – Logo Maverick Americano;
- Radiador Importado de Alumínio
- Mangueiras cromadas Art Billit;
- Bomba d’água normal;
- Bomba de óleo tradicional;
- Polias cromadas da Rota V8;
- Fuel Line em alumínio;
- 2 ventoinhas elétricas, para possibilitar estabilidade no sistema de arrefecimento;
- Toda a linha de combustível do carro feita em aeroquip com malha de inox.
Direção hidráulica
Foi instalada a direção hidráulica do Ômega GM no Maverick. Além disso, foi instalado um reservatório de óleo da Art Billit em alumínio escovado. Esse foi um dos itens de conforto que solicitei para instalar no carro, pois só quem teve um Maverick com rodas e pneus largos e sem direção hidráulica é que sabe o trabalho que dar para estacionar o carro em garagens apertadas. Toda a linha de abastecimento da bomba para reservatório trabalhada também em aeroquip.
Freios e suspensão
Esses deram um pouco de trabalho, pois decidi trazer um kit de pinças duplas da marca Wilwood para as quatro rodas. Eu só não sabia, que para o freio traseiro, essas pinças não funcionariam, pois elas não permitiam a utilização do freio de mão. Sem contar que elas eram muito estreitas para serem colocadas nos discos. Mas a Wilwood tem prolongadores para esse tipo de pinças, mas não chegariam a tempo. O caminho foi ir até um torneiro mecânico, para que ele produzisse esses espaçadores para os freios dianteiros. Já nos freios traseiros, eu adaptei os freios do Golf, pois eles permitiam a utilização do freio de mão. Mas além disso, precisei trocar as mangas de eixo dianteira, porque o fase 2 não permitiam a adaptação de tais pinças.
Além disso, ele possui discos de freios do Maverick fase 2 e cilindro mestre Wilwood de alta capacidade. Deixando o freio bem firme para um carro antigo.
A suspensão foi mantida original, com amortecedores dianteiros e traseiros e molas Helicoidais na frente e feixe de molas na traseira. Sendo que esse último item passou por uma revisão e melhoria em seu arqueamento.
Câmbio
Eu já havia tido a experiência de ter um V8 com quatro marchas e sabia, o quanto ele precisava de uma 5 marcha para ter o desempenho total do motor. Sabendo disso, eu me planejei e adquiri um cambio T5 TREMEC– cambio do Mustang dos anos 90. Esse é um item caro e tive que fazer algumas parcelas para deixar esse item de fora do setup idealizado. Mas claro que precisou ser feita uma adaptação na manga de eixo do cambio, para que ele servisse com perfeição no meu carro. OK, vamos em frente, porque restauração é dor de cabeça e quase nada é plug and play. Uma vez ajustado, foi colocado sem maiores problemas.
O diferencial do carro é um Dana 44 3:73 e permite uma economia em marchas mais altas. Esse foi um item mantido, revisado e trocada as cruzetas do eixo cardã.
O primeiro ronco
Depois de três longos meses de montagem mecânica e ajustes e de espera pelo motor na retifica, posterior a isso, o balanceamento, finalmente chegou o grande dia: O coração do Maverick roncou em 14/03/2018! Nesse dia, eu não estava na oficina e não acompanhei o ronco do motor, mas um vídeo foi feito e me mandaram. Posso dizer que essa emoção só foi substituída pela primeira volta no carro.
Após mais 10 dias, o carro seguiu para a montagem do escapamento do carro e entendia que essa era a fase final do carro…
No dia 06/03/18 o escapamento finalmente ficara pronto e faltavam os ajustes finos do carro. Mas no meio do caminho havia uma pedra!
Não havia sido feita nenhuma analise quanto ao tamanho das rodas no início do processo. Então, houve a necessidade de o carro voltar para a funilaria, para rebater os paralamas dianteiros. Ou seja, funilaria e pintura, tudo novamente, para que não houvesse problema na condução desse clássico. Então, o prazo que havia sido mudado para março de 2018, foi para um pouco mais para a frente.
No dia 21/04 daquele ano, a maior emoção de todas: dirigir o carro pela primeira vez. Esse é um dia que felizmente está registrado em vídeo e mostra a minha emoção de estar a bordo do sonho que planejei, patrocinei e vi se concretizar através das mãos dos profissionais que havia escolhido para isso.
Grandes emoções
Outra grande emoção que tive, durante esse processo, foi poder traze-lo para casa no dia 28/04, para que eu testasse e visse se havia algum ponto para ser reparado e ou ajustado. Isso fora combinado no início do processo. Foi lindo o caminho pelo Rodoanel até minha casa, quase chorei de ver aquele sonho concretizado. Andei com ele no final de semana e no final do sábado, ele apresentou um defeito no motor de arranque que fazia um barulho estranho. Como só soube disso depois do defeito ser reparado, eu tive que levá-lo de volta, para a oficina de plataforma. Isso já era 05/05/2018.
Anotei a lista de itens a serem ajustados, e passei para os responsáveis. Seriam necessários 15 a 20 dias para que o carro ficasse pronto. E no meio do caminho havia outra pedra, o tempo a mais que tomou o reparo dos serviços, quase 30 dias e também, a greve dos caminhoneiros. Com isso, não havia combustível para colocar no carro e traze-lo de volta. Então, passado esse momento eu fui busca-lo no dia 13/06/2018. Esse é o dia de São Joao, o santo casamenteiro, com isso espero ficar com esse carro até o final da minha vida, ou seja, casar com ele. Recentemente, eu entrei numa pequena crise financeira e cheguei a colocá-lo a venda, com muita dor no coração, pois eu brincava que esse carro eu fiz, mas eu rasguei o DUT (Documento Único de transferência), mas felizmente vendi meu carro de uso diário, fiz uma nova engenharia financeira em minha vida, mas não vendi o carro.
Ele já está morando em minha garagem há dois anos. E posso dizer que está sendo maravilhoso ter esse carro, pois além dos elogios, olhares e fotos que ele arranca por onde ele passa, fiz muitas amizades por conta do carro. Amizades que só a magia do antigomobilismo permite que ocorra.
Além dos amigos, ele já mostrou bravura. Fui com ele até Curitiba, para marcar presença no 20 aniversário do Maverick Clube de Curitiba, já esteve na Basílica de Aparecida e por 2 oportunidades no maior palco do automobilismo brasileiro, o autódromo de Interlagos, além outras pequenas viagens menores.
Tudo isso está registrado nas fotos que o carro coleciona em seu perfil do Instagram: @Maverickmav8 e no grupo do Facebook que conta com detalhes toda a história de restauração desse carro: MAVERICK A CONSTRUÇÃO DE UM SONHO – O MAV8. Além de várias fotos, vários passeios e muitos encontros de antigomobilismo que o carro já participou, conta aqui a satisfação pessoal que tenho em andar em um carro, que eu idealizei do começo ao fim. Isso não tem preço!
Quero aqui agradecer imensamente, todos os profissionais envolvidos na construção desse sonho, pois apesar dos desencontros, o carro ficou sensacional.
E por fim, meus agradecimentos à Flatout por esse espaço. Não só por poder contar minha história, mas também, porque eu li muitas histórias quando ainda estava na fase de restauração e isso servia como um estimulo para quem está envolvido nesse processo. Espero que minha história sirva de inspiração para quem pretende recuperar um carro antigo ou construir o seu sonho.
E deixar uma mensagem para todo aquele que sonha em ter um carro como esse: NÃO DESISTA! Porque quando comecei meu processo de compra e restauração, eu não tinha a condição para fazer isso naquela ocasião. Comprei, fui fazendo conta, foi dando certo, fui ajustando tudo e no fim o carro estava pronto. A vida passa muito rápido e o que levaremos dela serão os bons momentos vividos e o tempo sim, esse é o nosso maior ativo e o mais escasso, pois ele não volta.
Viva a vida com alegria e de V8 é muito melhor.
Gratidão!
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