Por Flávio “Zaca” Diniz, Project Cars #521
Dizem que o passo seguinte de todo Hondeiro inveterado é um BMW. Desde os tempos do antigo fórum do HondaClub (que por sinal continua ativo – – indiscutivelmente a maior fonte de conteúdo sobre Honda 92-2000 em língua portuguesa) eu leio esta afirmação. Acho que algo me fez tomá-la como verdade.
Como já disse em outros Project Cars, eu sou daqueles que curtem a viagem, e não o destino final. Sempre me diverti muito mais fazendo, mexendo, modificando, construindo, do que exclusivamente utilizando os carros. Óbvio, durante o processo e quando prontos, eu sempre curtia um bocado também. Mas poucos meses depois vinha aquele sentimento chato de que não tem mais nada a fazer no carro, o que acaba por me desanimar. Eu chamo carinhosamente de “Síndrome de Falta de Sarna pra se Coçar”.
Após mais um Hondinha pronto (esse VTi EK4 aí da foto), aquela frase lá do primeiro parágrafo bateu forte no meu coração. Até porque eu já havia “montado” uns seis ou sete Hondas (EG, EK, Si 07-11 e por aí vai) e não tinha nada no momento me chamando a atenção tanto assim no mundo dos esportivinhos japoneses. E foi aí que eu resolvi procurar uma BMW pra chamar de minha.
Admito que eu nunca tinha dado tanta atenção assim para as bimmers, mas me lembrei que lá pelos idos de 2012, nos finados Track Days do autódromo de Brasília, eu havia visto uma M3 E36 preta que me chamou muito a atenção. Daí defini que este seria mais ou menos o rumo que eu iria seguir. Série 3, coupe (ou sedã de duas portas, mas isso é conversa pra todo um outro artigo) e manual.
Quando você está muito acostumado com uma marca, a mudança para outra, com outras especificações, outro tipo de manutenção, outros cuidados e detalhes pode ser um pouco intimidador. E é por isso que sempre que eu dou estes passos eu procuro amigos.
Neste caso, fui atrás do meu parça Rodrigo Veloso da Pavanini Design (que estava montando uma M3 E36 do zero) e acabei conhecendo os irmãos Rafhael e Thiago Carneiro – mais sobre eles em breve. Vendi o EK muito rapidamente e com a verba que tinha em mãos saímos atrás de uma BMW E36 coupé seis-cilindros manual e “não-M3” (a verba não comportava). Se você já fez essa busca no OLX, no Webmotors e outros sites de venda de veículos na internet, sabe que encontrar uma assim não é exatamente tarefa das mais fáceis. E realmente não foi fácil. Ou o carro que eu achava era “resto de rico”, ou estava muito acima do que eu conseguia pagar.
Eram idos de 2014. Os preços de E36 estavam começando a subir e os de E46 estavam começando a cair. Opa! Porque não uma E46 então? O problema é que se já estava quase impossível achar uma E36 como eu queria, quanto mais uma E46. Mas “Milagres são reais quando se crê…” – licença poética – O Príncipe do Egito – Disney, Walt (1998)! Eis que apareceu lá em Araras – SP uma E46 bem imaculada pelo ano, baixa km, segundo dono e coupe! Era uma 323Ci 2000/2000 que, ao menos pelas fotos, prometia muito, apesar de ser AT.
Na época, isso me desanimou um pouco. Mas no fim das contas este “problema” acabou sendo o motivador principal desse Project Car, então há males que vem para o bem! O preço? Exatamente dentro da verba. E aí eu “startei” o modo “gearhead doido aventureiro” que de vez em quando eu ligo. Não tinha ninguém sequer pra olhar o carro pra mim lá. Confiei nos vídeos e fotos, comprei duas passagens de ônibus, peguei meu grande amigo de aventuras automobilísticas Bruno Campos (que me contou cada história nessa viagem que se eu abrir o bico aqui a boa reputação dele se esvai para sempre), mendiguei com o motorista do ônibus a possibilidade dele deixar a gente na beira da estrada e às 19h de uma quinta-feira rumamos para SP. Chegamos lá às 7h da manhã moídos de sono e cheios de medo e expectativa. O dono do carro nos pegou em um trevo, também sem nos conhecer. Ou seja, um bando de doidos. Ele poderia ser golpista, nós poderíamos ser ladrões ou sequestradores. Mas ainda existe gente honesta neste mundo.
Cartório, banco, oficina para uma troca de óleo e por volta de 12h já estávamos na estrada de volta para Brasília. Paramos em Uberlândia para dormir e seguimos no dia seguinte. Chegamos em Brasília no sábado por volta do horário do almoço, e eu preciso dizer… Essa foi a melhor viagem de carro que já fiz na vida!
O carro estava perfeito, sem barulhos, sem sinais de desgaste, tudo funcionando perfeitamente bem. Parecia que eu havia comprado um carro 0km. Além disso, não há como se negar a evolução de projetos com o passar do tempo, especialmente na época em que as marcas se preocupavam com esse tipo de coisa. O comportamento dinâmico, os acabamentos, os itens de conforto e opcionais e até mesmo os desgastes e barulhos internos eram muito superiores a todas as E36 nas quais eu já havia andado. Assim que estacionei o carro em casa eu tive certeza de que tinha feito a compra correta.
Mas lá estava eu com o meu bom e velho problema de novo. Eu não vou conseguir andar com esse carro sem fazer nada! Qual vai ser o meu projeto pra essa velha senhora alemã? Tem um Easter Egg aí embaixo!
Mais sobre isso no próximo capítulo!