Por Flávio “Zaca” Diniz, Project Cars #521
Lembram-se que no post anterior eu falei do Rafhael do Thiago Carneiro? Então, não tenho palavras para descrever o tanto que estes dois irmãos manjam de bimmers, nem para explicar quão amigos ficamos. Por um momento, eu achei que fosse conseguir mexer na BMW sozinho, procurando oficinas para algumas manutenções e cuidando pessoalmente de itens estéticos (como as rodas das fotos abaixo que eu mesmo comprei). Mas eu estava redondamente enganado.
De cara, eles me ajudaram com a manutenção preventiva. Arrefecimento (que tende a ser meio sensível em E46), freios, fluidos, balanças da suspensão e amortecedores dianteiros (outro item que costuma ser meio fresco) e por aí vai.
Mas a questão é que o Rafha e o Thiago são (muito) mais doidos que eu. Basta dizer que dentre várias outras coisas, eles montaram sozinhos, na garagem de casa, duas M3 sobre E46 coupe/cabrio que são referência Brasil afora. Várias oficinas renomadas aqui de Brasília recorrem a eles quando não conseguem resolver diversas questões, em especial no que diz respeito a E36s e E46s.
E graças a estes projetos deles, acabou sobrando uma doadora de órgãos que era literalmente uma irmã gêmea da minha 323Ci. Ou seja, aquilo me permitia um swap de câmbio totalmente OEM, completo, sem adaptações! Me diga, cara! Como que se nega uma coisa dessas?
Pra piorar, além do preço extremamente “de amigo” que ia sair essa brincadeira, o Rafha e o Thiago ainda tinham lá dando sopa um conjunto de coletores inox para E46 com motor M52TU (observem a diferença deles para os originais com os catalizadores nas fotos) e o escapamento completo das 330i (o da 323Ci é bem mais restritivo, depois dos coletores vira um cano só de 2,5” e vai assim até o final, enquanto o da 330i segue em dois canos distintos de 2” até o final).
Repito minha pergunta.Como que se nega uma coisa dessas? E pra “piorar”, ainda estou para ver duas pessoas que mexem com a parte mecânica de um carro com tanto zelo quanto eles. Durante o processo, dava para comer um frango assado literalmente em cima do cofre do motor de tão limpo que eles deixaram. Acho que fotos vão falar mais do que qualquer coisa que eu possa dizer.
Óbvio que foi necessária certa dose de coragem. Todo swap tem seus riscos. Mas o fato de a doadora estar do lado deixou tudo mais fácil. Além disso, já pensando em um possível remap futuro (e sabendo que o M52TU da 323Ci não é exatamente a oitava maravilha do mundo em termos de preparação), optamos por manter o diferencial da AT, que tem uma relação bem diferente da MT.
O grande Fábio Aro (ele mesmo, fotógrafo automotivo renomado, parceirão do FlatOut e dono da 330i MT Motorsport mais linda do Brasil) me ajudou a fazer os cálculos do resultado das relações do câmbio MT com o diferencial AT.
Ótimo. Meu objetivo com ela nunca foi velocidade final ou arrancada, mas sim um carro extremamente esperto em baixa e que me permitisse “andar de lado” sem muita dificuldade, principalmente porque as opções que eu tinha para “blocar” o diferencial dela eram LSD de M3 E46 (o que além de custar um carro popular usado ainda me obrigaria a trocar o eixo traseiro inteiro) ou a boa e velha “solda”, o que eu não estava nem um pouco disposto a fazer. Seguindo o projeto, aproveitamos para colocar um kit de embreagem novo, uma short shifter e instalar o escapamento da 330i (observem a diferença do escapamento à esquerda, das 330i para o escapamento à direita, o original da 323Ci).
Com a parte mecânica pronta, a parte elétrica/eletrônica se resumiu a ligar os plugs corretos, trocar as centrais e acertar o odômetro do carro para a quilometragem original. Voilá! E que primeira volta, meus amigos… Sempre que me perguntam sobre se devem ou não fazer o swap de um carro, seja Honda ou seja BMW, eu dou a mesma resposta. Sim e não.
Não porque costuma dar um senhor trabalho (nem tanto pelo custo, mas mais pela dificuldade de se encontrar todas as peças). E sim porque você literalmente compra outro carro. Depois de pronta, eu saia a noite na velha senhora alemã só para curtir. Só pra aproveitar os retornos e o ronco do seis-cilindros.
Inclusive, “construí” meu próprio circuito oval para aprender a andar de lado (o que posteriormente me salvou de enfiar um Nissan 350Z bi turbo com kit Nismo original em um poste – mais sobre esta história em outro momento) numa via perto de casa. Vazia, quase ninguém passa lá, a noite voltando tarde do trabalho ou de um ensaio da banda (toco em uma banda de rock gospel), era o lugar perfeito para desopilar das pressões do dia a dia. Até hoje eu o chamo carinhosamente de Zaca-o-Ring.
O plano seguinte era um remap e coletor de admissão das 325i, mas não estava achando especialista nisso aqui em Brasília. Foi aí que a boa e velha “Síndrome de Falta de Sarna pra se Coçar” bateu de novo e começou o vai e volta desse carro na minha mão. E aí continuamos no próximo e último capítulo!