Por Eduardo Martinelli, Project Cars #532
“Um homem deve sempre adaptar-se às circunstâncias que o cercam e dirigir seus esforços a um novo objetivo, quando vê o anterior ser destruído.” – Shackleton em seu diário.
Fazer o swap para o câmbio manual pode soar como uma decisão fácil: “V8 e câmbio automático focado em conforto? Esquece! Colocaria um manual sem pestanejar.”
Foi isto que li e ouvi em uníssono quando comentei a escolha que deveria optar, pode parecer fácil mas não foi, de fato manter a Dakota automático era o meu desejo inicial, queria mantê-la original neste aspecto, um carro para curtir em família, passear de vez em quando, “burnotear” às vezes.
Enfim, é preciso virar a página, o Endurance Project já estava consumindo muito além do planejado, tanto de tempo como de dinheiro, consertar o câmbio automático ia me consumir um rim (que já não tenho quando tive que trocar os cabeçotes) e um pulmão (que perdi quando resolvi trocar o comando e polia por um da Edelbrock). E a injeção ia vir por tabela e em boa hora, resolveria o ninho de ratos que aquela fiação virou e daria um adeus aquela injeção de Durango que foi colocado em algum momento no carro. E também daria um plus para retrabalhar o comando e tornar o carro mais, digamos, “muscle pick up car”.
E foi assim, resolvi pelo swap e injeção em dois dias de meditação na banquisa de gelo. Se for para fazer, que seja bem feito.
Arrematei todo o kit do câmbio e comprei a Injepro S4000. É hora de trabalhar, mudar a rota do navio em busca da terra firme.
Colocar uma Injepro na Dakota é simples na medida do que possa ser colocar uma injeção programável? Não, nada aqui tem sido fácil… tivemos que levar o volante do motor para um torneiro simplesmente criar uma nova leitura da roda fônica de acordo com os parâmetros que o suporte da Injepro enviou à Gearhead Garage. Isto matou quase 3 semanas de projeto. Por fim, etapa concluída.
Obviamente que um Project car deste nível precisa ser detalhado, aproveitei que a m#$&% estava feita e comprei uma manopla da Hurst. A ideia inicial era pegar a manopla comemorativa dos 50 anos da Nascar mas no final optei pela tradicional bolota branca. A manopla comemorativa é bonita mas com o tempo aquilo ia ficar com cara de caranguejo em manopla de Brasília (quem viveu nos anos 80 sabe o que estou dizendo).
Também tivemos que cortar a saída da manopla do câmbio na lateria. Pensou que a carcaça da Dakota manual e automática eram iguais, né? Eu também pensei… Dá-lhe Makita na lata para criar o buraco da alavanca.
Ótimo! Agora é chegou a hora de colocar o bendito câmbio, desce o automático, sobe o manual, ajuste daqui, ajuste dali e….. nada feito. O câmbio automático é mais comprido que o câmbio manual. Consequência: falta um “pedaço” do cardã.
Pesquiso em todos os lugares, nos grupos de Dakota, infelizmente pelo visto cada um faz de um jeito, alguns adaptam um prolongador, outros mandam fazer um cardã do zero… optei pela solução mais simples e aparentemente mais racional, colocar o eixo cardã de uma Dakota V6 cabine simples manual. Como o outro lado que conecta no diferencial da V6 e V8 é o mesmo, me pareceu uma boa idéia.
Aqui começou outra novela, onde conseguir um cardã com esta especificação em bom estado? Depois desta via sacra, cardã adquirido com outras coisas que precisavam como, por exemplo: coxim do motor e coxim do câmbio.
Hora da verdade, cardã instalado, câmbio instalado, mas…. o suporte do câmbio automático é diferente do manual, para tudo de novo, vamos pesquisar… descobrimos que a peça, apesar de igual em dimensão possui uma diferença, na automática o coxim é preso em um peça sólida enquanto na manual, há um vão onde é presa. Makita de novo…. ou acha um suporte original. Nesta altura do campeonato e impacto zero na qualidade optei pelo tempo. Vamos na Makita e ponto final.
Minha expectativa era terminar o carro no meu aniversário de 40 anos, isto foi ano passado, no dia 04 de janeiro deste ano a Dakota fez um ano de oficina. E pela primeira vez à vi ao vivo. Sim, comprei carro longe e só vi o carro agora. Não me arrependo. É meu sonho de infância e só de lembrar de como pretendo deixá-la me dá uma injeção de ânimo.
Na minha visita o interior dela já estava desmontado, tudo será enviado para lavagem e higienização, vou manter o interior original, no veludo. Está zero.
Também vi ao vivo onde a Injepro ficará, como tirei os airbags (carro de 21 anos com airbag? Vai saber se era Nakata, vai saber se vai explodir… enfim…), a injeção ficará no lugar do sensor do airbag, encaixou como uma luva e ficará escondido.
Quanto mais o projeto demora, mais idéias vem na mente, decidi por colocar um acabamento de madeira na caçamba. Ela será um carro preparado no period correct, final dos anos 90, precisa ter algo diferente. Optei por algo semelhante à foto abaixo, neste exato instante, estou aguardando o orçamento.
E “já que” as coisas fugiram do controle, optei por colocar um coletor da Hedman. Mereço este presente, ficou maravilhoso! Não vejo a hora de ouvir o ronco do V8 preparado…
Também no caminho do “já que” e como é um carro que conviveu na mesma época que o Dodge Viper, quis ter algo deste carro no meu, óbvio que não ia ser o motor por motivos financeiros inatingíveis. Dá-lhe E-Bay e encontro a chave OEM do Viper! Arremato na hora.
Agora poderei dizer para meu filho que nossa Dakota além de ser uma R/T V8 manual com injeção e comando bravo da Edelbrock também possui a chave original do Dodge Viper. Isto será demais!
Bom… hoje é dia 10 de janeiro de 2021, neste exato momento o pessoal da Gearhead Garage está colocando a injeção, nunca vi tanto fio junto. Boa sorte para nós e vamos em frente! Expectativa de terminar o projeto entre março e abril, coloquei um desafio para o pessoal de terminar até o meu aniversário de 4.1.
Vamos ver o que acontecerá.
A única certeza é a primeira música que ouvirei dentro dela: Last Note of Freedom do David Coverdale, trilha sonora do clássico Days of Thunder. Um dos melhores filmes sobre corridas da história segundo o autor que vos escreve.
A sorte está lançada.