Por Eduardo Martinelli, Project Cars #532
Fala, pessoal! No primeiro episódio contei um pouco sobre os motivos da venda do Prelude (Project Car #512) e a compra da Dakota e meus planos.
Começando com o saudoso Aurélio:
Perfeccionismo: tendência de obstinar-se em fazer as coisas com perfeição.
Agora une um cara detalhista querendo o carro pronto mais rápido do que foi o Prelude com o pessoal da Gearhead Garage e você terá o doce sabor da desilusão. Poderia ficar com o carro pronto antes? Claro! Toca o barco e a vida anda, para tudo se dá um jeito, Citroen 2CV mostrou o quão é possível andar com simplicidade (vídeo do MAO no Clubsport).
Mas o V8 é diferente… o carro andou quase 200km logo no dia da compra, uma revisão básica bastaria, o que haveria para fazer eram detalhes, dava para andar com o carro por um bom tempo ainda antes de precisar encostar de vez.
Acontece que uma leve brisa gelada por menor que seja, em um dia frio, será congelante. Será o motivo de você não dormir direito. Me lembrou da saga de Ernest Shackleton e sua corajosa tripulação do Endurance. A jornada será longa, se prepare para o mais rigoroso inverno e não olhe para trás.
Assim como o Prelude era o Project Bach, apresento-lhes o Endurance Project (mas poderia também ser Iceberg Project).
20% está ok, 80% é a leve brisa gelada que incomoda a ponto de você falar: vamos fazer isso antes que vire uma tormenta. Ou melhor, virou logo que o carro chegou no estaleiro Gearhead Garage.
Quando o Felipe (caçador de carros) levou o carro até Guarulhos, um baita temporal o assolou e os pneus, apesar de estarem com os sulcos em ordem, estavam vencidos e ressecados com o carro aquaplanando constantemente, mesmo em baixa velocidade.
Por segurança, o Felipe optou por parar na estrada, almoçar, aguardar a chuva amenizar e voltar para São Paulo, pois bem… após aguardar umas duas horas o carro esfriou, e fazê-lo pegar? Parecia carro carburado, só pegou depois da quinta tentativa, outro ponto que reparou, o marcador de temperatura não funcionava, ou melhor, funcionava mas sempre ficava ligado, o motor nunca chegou na temperatura ideal, chegando no para e anda de São Paulo, notou uma certa falha do motor em baixa, e o marcador do câmbio automático não ficava muito bem no 2,1… apenas no D, N, R e P estavam ok.
Quatro problemas com algumas horas de estrada:
– dificuldade de pegar com motor frio,
– algo estranho na ventoinha,
– motor em giro baixo, falha e morre,
– marcador do câmbio automático não marca direito o 2, 1.
PS: não vou citar a aquaplanagem, pois a troca dos pneus por rolo compressor sempre fez parte dos planos.
Carro na Gearhead Garage e começamos o básico, avaliar as velas (não precisei trocar, já eram novas) e para a falha do motor, foi analisado os bicos injetores, todos os oito condenados, eram ainda originais Dodge, vamos atrás de de bicos originais à pronta entrega… depois de dois dias procurando, encontramos e dá-lhe a troca para ver se o motor parava de falhar.
Troca feita e falha continua, trocamos o rotor e a tampa do distribuidor também, achei MOPAR, então dá-lhe MOPAR.
A falha diminuiu mas continuava, cabos de vela tudo ok, perfeitos, a mistura está muito rica e há sinais de vazamento de pressão dos cilindros. Cabeçote? Bom… vamos ver outras coisas antes de perder cabelo e decretar a perda do Endurance.
A ventoinha estava ligada constantemente porque em algum momento da história fizeram uma gambiarra, mas é algo simples. Investigamos mais a fundo e vimos que colocaram uma de Astra ali… trabalho porco.
Enquanto não esquentamos a cabeça com a conclusão se é cabeçote ou não, fizemos outras coisas na picape, a Gearhead Garage anda “um pouco cheia” ultimamente, então não dá para abrir o motor sem antes colocar ela em um canto, neste período, trocamos os retrovisores, chegou o retrovisor da R/T gringa!
Mas… nenhum project car é fácil, não sei por que mas o vendedor (via Ebay) despachou dois pacotes, lado direito e lado esquerdo em pacotes distintos…. vai entender.
Aconteceu o esperado, um pacote foi entregue relativamente rápido e o outro ficou parado em Viracopos no armazém da DHL, seguimos a via sacra: abre protocolo, registra a reclamação, aguarda o retorno, cobra de novo…. até que o pacote chegou! E não foi tributado! Ainda bem por que com o dólar beirando R$ 6,00 qualquer coisa barata sai caro só na conversão.
Próximo passo, coisas simples: trocamos as lanternas traseiras pela versão americana. Devido a Dakota nacional ser praticamente uma versão americana naturalizada, toda fiação para o modo gringo já estava lá, foi só ligar os fios, lembre-se que no mercado americano o pisca não precisa ser de outra cor, a lanterna de freio é a mesma de luz noturna e a mesma do pisca, uma coisa só. Ficou muito bom o resultado.
Colocamos o alarme Positron, som Pioneer com caixas JBL nas furações originais, tudo tranquilo, sem stress, só nos preparando para o pior. Cabeçote? Sim ou não? O gelo vai cercando o Endurance e o casco começa a estalar…
Neste tempo meu aniversário já passou, adeus prazo de ficar pronto no dia 01 de fevereiro, paciência. Buscamos alguma empresa para fazer o escapamento de acordo com o projeto, é impressionante como foi frustrante a busca… ninguém quis pegar o serviço, alegaram excesso de trabalho. Não sei se há um preconceito por ser picape, não sei o que pensam mas esta parte foi frustrante, demoramos um bom tempo até achar alguém que faça.
Achamos óbvio! Indicação da indicação, procura, investiga…. o orçamento ficou muito acima da expectativa. Muito acima mesmo! Apenas o coletor em inox custou 10% do valor que paguei pelo carro, fora a tubulação e abafador. A brincadeira ficou séria, isso me fez lembrar do cabeçote. Deixei para decidir isto depois, aliás, neste Project car quero abrir todos os valores relativos gastos usando como referência o valor da Dakota em 100%. Assim, vale novamente a máxima do Barata: “Se for comprar carro antigo, que compre o mais íntegro possível”.
Deixamos a questão do escapamento para depois também, temos outras prioridades, enquanto o Caio da Gearhead Garage está trabalhando nos demais carros da oficina para poder encostar o meu e abrir o motor, vendi o quebra mato, o santo antônio e o protetor de caçamba, vendi barato para ir embora logo, ou vendia barato ou ia para o lixo. Neste tempo também ficamos pensando sobre o filtro de ar, o original dela estava todo quebrado, judiado pelos anos.
A dúvida pairou no ar, vamos atrás de um novo original ou vamos fazer um intake? Inicialmente estava indo para o lado do intake, colocar um filtro esportivo do tamanho de um boi ali embaixo do capô… mas ia ficar fora do period correct que estava direcionando o projeto. Procura vai e procura vem, encontro um filtro inteiro, em bom estado. Arremato na hora! O carro será original! 99,98% original!
Finalmente, depois de uma semana, conseguimos vaga para encostar a picape (ela é grande, tem 4,98m de comprimento, por 1,82m de largura. Chegou a hora da verdade!
Novo problema, o parafuso da polia do virabrequim não quis soltar, não havia santo capaz de fazer o negócio soltar, nem a força do próprio motor. Carro parado, agora é preciso construir uma ferramenta e uma alavanca com alguns metros para conseguir soltar o bendito parafuso, mais maçarico…
Neste trabalho todo vimos que a picape foi realmente usada para trabalho e depois lazer, não necessariamente nesta ordem talvez repetidas vezes assim, como um ciclo vicioso que estava destruindo algo tão belo. O último V8 nacional. Muitas gambiarras feitas no motor, muitas conexões mal feitas… tudo teria que ser resolvido, o motor precisa manter a harmonia, aliás, todo o carro.
O gelo quebrou o casco do Endurance, cabeçote condenado. O que estava no carro já havia sido retificado em algum lugar porco, não dava para consertar o que estava nele, era necessário comprar um outro. Lembrando que um V8 tem dois (2, two, zwei, due, dva, dos) cabeçotes!
Tripulação para fora do Endurance, era preciso sobreviver fora do navio até o resgate.
Aciono contatos daqui e ali, encontro um cabeçote novo de estoque antigo, peça zerada! Linda, reluzente! O preço era proporcional à beleza dele. Paciência, é preciso salvar o Endurance Project agora.
Foi diagnosticado que também seria necessário trocar a polia do virabrequim e a corrente, ok. Peça comprada nova! Edelbrock. Agora vamos fazer o negócio direito.
Motor aberto, envio a foto para um amigo que retorna: “Cara, você está com a faca e o queijo na mão, coloca um comandinho mais bravo aí.
De fato ele estava certo, ia precisar trocar o comando, por que não pagar um pouco mais e colocar um comando mais forte? Não precisa ser um que necessite trocar a injeção, apenas um ligeiramente mais forte mantendo a injeção original. Encontramos! Edelbrock. Lembrem-se da definição do perfeccionismo lá no começo. Save Mopar.
Como trocamos tudo, é preciso comprar juntas novas, dá-lhe juntas novas…. agora a nevasca é forte.
As peças chegaram, polia e comando Edelbrock novos, cabeçote novo, foi enviado para a retífica calibrar com as válvulas e peças recebidas na segunda, 08 de março. Até o momento o inverno tem sido rigoroso e os suprimentos são escassos para termina-lo, ainda não sabemos se teremos novas surpresas, alguns cães, trenos, banha, barracas e carne de foca.
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