Por Eduardo Martinelli, Project Cars #532
Sim, é hoje. O último capítulo da Saga da Dakota, o Endurance Project! Schakleton ficaria orgulhoso.
Não foi fácil. Foi o projeto mais desafiador que já fiz, mais caro, mais tempo investido, e também, mais experiência ganha para o próximo (será?) e um sonho realizado.
Tanto tempo se passou e tanta coisa pequena (mas chata) que tivemos que fazer que o histórico dos detalhes acabou se perdendo no horizonte de eventos.
Recapitulando a saga (clique aqui para ver os demais capítulos): a Dakota foi o meu terceiro Project car e embora tenha gostado do Prelude (Project car 512), admito que ele passou mais tempo no estaleiro do que na garagem, principalmente devido à pandemia, que atrapalhou meus planos de fazer uma viagem até a Serra do Rio do Rastro.
O Prelude proporcionava uma ótima experiência ao volante, com excelente aderência devido aos pneus Toyo R888, amortecedores Koni, freios Willwood e uma dinâmica bem ajustada. No entanto, questionei o motivo de continuar com algo que não era minha verdadeira paixão e que meu filho não apreciava.
Refletindo sobre como a vida e os planos podem mudar ao longo do tempo e, graças a algumas reportagens de Dalmo e MAO, os sonhos adolescentes adormecidos despertaram novamente.
Sob influências de MAO e Dalmo, revivi o meu espírito de juventude. Relembrei um carro que vi em uma revista nos anos 90 e decidi procurar por ele. Depois de uma busca intensa em vários sites, encontro a escolha perfeita: uma Dodge Dakota R/T 5.2 V8 cabine simples, conhecida como a mini Dodge Ram, que foi o último V8 fabricado no Brasil. O carro possui um motor 318 Magnum modificado para produzir 232 cavalos de potência nas rodas traseiras.
No estilo meio outlaw, badass, com rodas pretas, rebaixamento e alguns detalhes exagerados. O santo antônio e o para-choque de ferro com faróis auxiliares não combinavam muito bem com o design do veículo, mas eu achava que seria um bom projeto. Além disso, o que tornava o carro especial era uma rara versão V8 cabine simples. Não tenho certeza de quantas foram fabricadas dessa versão, acredito que tenham sido poucas, já que o que se vê com mais frequência são as versões V8 cabine estendida, que também são lindas.
No último dia de 2020, realizei meu sonho de adolescente e comprei o carro dos meus sonhos.
O carro estava com o motor condenado, e o câmbio idem, minha ideia inicial, relembrando, era deixar o mais “zé frisinho” possível. Não rolou, retornar nas condições originais iriam despender um caminhão de dinheiro e ninguém queria dar garantia do câmbio automático após o conserto.
Motor refeito, cabeçotes novos, pintura eletrostática, tudo tinindo! A restauração/restomod dela foi algo grandioso, desmontamos ela inteira, trocamos todos os parafusos possíveis (quilos e mais quilos de parafusos com medição em polegadas), pequenos detalhes que fazem a diferença do projeto, se é para fazer, que seja bem-feito, é um carro antigo então quanto melhor se investe, menos tempo parada por algo que possa quebrar futuramente haverá. É um custo pré-pago do conforto e segurança. Fazer pela metade jamais. Como diria o filósofo Clovis de Barros Filho: “Para trás, nem para pegar impulso”.
E aqui, relembrando o check list inicial:
- Troca de fluídos: CHECK
- Troca de mangueiras: CHECK
- Troca de correias: CHECK
- Troca de retentores: CHECK
- Troca de velas: CHECK
- Troca de cabos: CHECK
- Revisão dos freios e suspensão: CHECK
- Upgrade no escapamento: CHECK
- Retirada do Santo Antônio e para barros: CHECK
- Retirada do adesivo da caçamba: CHECK
- Retirada do protetor de caçamba: CHECK
- Trocar os retrovisores pela versão R/T americana: CHECK
- Substituição das lanternas traseiras da versão americana: CHECK
- Substituição dos piscas dianteiros pela cor âmbar: CHECK
- Substituição da tampa de válvula por um da MOPAR: CHECK
- Colocar um som mais moderno Pioneer com caixas JBL nas furações originais: CHECK
- Pintar as rodas na cor prata original: CHECK
- Colocar pneus Cooper Cobra 255/60 R15 na dianteira e um rolo compressor Cooper Cobra 295/50 R15 na traseira: CHECK
E o que acabou entrando no meio do projeto:
- Motor refeito inteiramente: CHECK
- Chaves OEM do Dodge Viper: CHECK
- Cabeçotes novos: CHECK
- Comando Bravo da Edelbrock: CHECK
- Polias Edelbrock: CHECK
- Injeção Programável Injepro S4000: CHECK
- Swap para câmbio manual: CHECK
- diferencial novo para o câmbio manual: CHECK
- Funilaria completa: CHECK
- manopla de câmbio da Hurst: CHECK
- Alavanca de câmbio estilo Nascar das décadas de 80/90: CHECK
- Coletor de escape da Hedman: CHECK
- Radiador novo: CHECK
- Ventoinha nova e maior: CHECK
Na reta final, os freios foram complicados de ajustar, ficaram muito sensíveis, talvez pela questão dela estar mais baixa o freio ficou mais sensível por entender que há mais carga. Não conseguimos ajustar no modo usual então tivemos que colocar uma válvula para ajustar sua sensibilidade. Ficou excelente! O Caio e o Alexandre da Gearhead Garage fizeram as coisas parecerem de fábrica.
Um outro ajuste que tivemos que fazer neste período foi o ar condicionado que não estava segurando o gás e quando segurava não gelava muito, depois de muita procura encontramos o vazamento e trocamos a ventoinha por uma maior, agora o carro virou uma geladeira, excelente!
Da parte do motor, quando íamos começar o ajuste do mapa o motor começou a fazer barulho de máquina de costura, susto! Identificamos que o problema eram os balancins, estavam maiores que o necessário para o bom funcionamento do motor, usinamos alguns milímetros e pronto, motor redondo de novo.
Algo que foi bastante complicado de consertar foi a leitura do hodômetro, como trocamos a injeção por uma programável da Injepro, o painel não lia muito bem, coisa antiga…. tivemos que conectar o sensor original do conta giros por detrás do painel para haver a leitura correta do motor, à partir disto o hodômetro passou a marcar corretamente. Se não consertasse isso teria um problema com a documentação, pois o carro ficaria com ele travado.
Próximo passo foi levar o carro para o alinhamento, aqui teve uma pequena intervenção (dica) do Fabio Birolini (sim, do Lobini), lixamos, cortamos uma pequena parte e pá! Obrigado, Fabio! Alinhamento perfeito das rodas.
Mais uma etapa de acabamento? Insulfilm, tiramos os antigos, já bastante desgastados pelo sol e colocamos um novo, transparente, como deve ser um antigo. Protege do calor e mantém o carro clean, o objetivo desde o início do projeto.
Hora dos adesivos, nada de exageros aqui, adesivo remetendo a Indy 500 de 2000, logotipo da época devidamente reproduzido, adesivo do Flatout, adesivos de porta remetendo a gringa e, por último, adesivos do controle de qualidade Dodge: V8, Cerveja, Risadas, Gasolina, Burnout, Churrasco.
Andar nela foi um misto de satisfação e incredulidade, foram dois anos e meio montando o carro (para ser mais preciso 942 dias de trabalho), tudo de longe, muito do que conto aqui não foi vivenciado por mim presencialmente, foram fotos e áudios da Gearhead Garage. Mas ao acelerar com o escapamento livre….. senhores!
Que coisa! A alavanca de câmbio próxima ao volante (remetendo à Nascar anos 80/90), o som ardido, alto (ouvi Nascar mais uma vez? Sim), o modo como ela avança, para uma picape de quase duas toneladas (para ser mais exato 1.850 quilos), se demonstrou muito ágil na acelerada, pisa, ela vai. 5.2 V8 livre na mais pura ópera de Verdi.
É impossível não acelerar à cada momento, ouvir o estouro do escapamento (ainda necessita de refino no mapa), o sorriso é involuntário. A vontade foi de acelerar a marginal toda com pé embaixo para ser fotografado de todos os ângulos (Detran, estou brincando! Foi uma piada, ok?).
Ah, não posso deixar de esquecer os detalhes, a chave do Viper, coisa linda! Pequenos detalhes que fazem a diferença do projeto. O shift light acendendo onde originalmente era a luz do airbag do passageiro, a wideband integrada ao painel, o interior absurdamente imaculado, parece que saiu da loja ontem.
Impressionante como o interior dela se manteve em perfeitas condições mesmo após tantos anos de uso intenso com outros proprietários.
Mas o som…. ah o som…. isto foi incrível de ouvir, e espero ouvir tantas e tantas vezes, o V8 urra como um animal pré-histórico, selvagem, sem filtro e sem medo. Pensando aqui, por quê raios coloquei um som novo se o som do motor já completa meu coração e renova minhas esperanças pela humanidade?
Quanto ao consumo? Isto é algo que não se nota, não é foco e nem prioridade quando o objetivo é um sonho de adolescente que virou realidade. Sinceramente, se ela fará 1km/l ou 4km/l não me importa. É um carro para passear de vez em quando com a família, não é para o dia-a-dia. Penso nela como um relógio caro ou aquele vinho exótico que você ganhou de um tio distante, experimenta apenas em ocasiões especiais.
Do que falta agora? Bom… apenas o ajuste do mapa da injeção para ficar mais linear e um detailing que será feito na entrega definitiva, planejado agora para final de julho. Enquanto isto, segue uma sessão de fotos da “nariguda”. Que este Project Car sirva de inspiração para vocês gearheads.
Agora, se me dão licença, vou indo nessa, pois um belíssimo 5.2 V8 me espera na jaula para ser liberto.
Uma mensagem do FlatOut
Aí está um projeto exemplar. Um exemplo de como correr atrás dos seus sonhos sobre rodas, e também sobre como “levantar” um carro pode ser um caminho longo e tortuoso, mas que recompensa aqueles que decidem segui-lo até o fim. E também mostra o valor destes carros e novos clássicos em todos os sentidos. Agora dê a esse carro a acelerada que ele merece – e que ele espera há tanto tempo.