Olá! Sou Gabriel Gonzalez. Trabalho com revenda de carros no Rio de Janeiro – ofício que divide opiniões por todo o Brasil, eu sei. Mas, para mim, este trabalho vai bem além de ganhar dinheiro. Afinal, qual gearhead não gostaria de ter a chance de experimentar um carro diferente quase todo dia? Não, não estou falando só de carros exclusivos, aliás, me refiro aos carros “normais” que muita gente não sabe como são bons ao volante… Corsinhas duas portas com motor 1.6, Renault Clio 1.6, Vectras, Kadetts, Civics… até um Uno furgão 1.3 eu já tive o prazer de dirigir. Fora alguns outros carros que são o sonho de consumo de muitos entusiastas, como um Mx-5 Miata 100% original.
Minha paixão por carros vem de muito tempo. Confesso não saber dizer exatamente onde e quando começou. Talvez tenha sido com o primeiro carro que dirigi, aos 14 anos – uma Ford Ranger STX 1994 4.0 V6, que eu quase destruí em uma árvore. Talvez tenha sido jogando Need for Speed Underground ou Gran Turismo 4. De uma forma ou de outra, tudo isso me levou ao meu primeiro carro, um Kadett GSi Conversível Amarelo, cuja história posso contar em outra ocasião. Porque o foco aqui é o Peugeot 306 Cabrio.
O começo
Certo. Para começo de história posso dizer a você que eu não sabia no que estava me metendo, ao menos no princípio. Mesmo com a bagagem do Kadett e com algum conhecimento automotivo, este branquinho me surrou bastante, e me surra até hoje! Nos conhecemos por intermédio de um amigo, chamado Ricardo, que tinha comprado o 306 Cabriolet para reformar, mas nunca teve tempo para fazê-lo. O carro ficou parado por quase um ano na garagem, até que sua esposa o obrigou a desistir do desafio e tirar aquela tralha velha da garagem.
A pintura magnífica do carro era um indício do quanto que este carro não estava conservado: não é todo dia que você acha um automóvel sem verniz e com a tinta branca amarelada! O interior do Peugeot… foi uma tarde inteira tirando “nhaca” dos bancos de couro, e o motor… não estava legal. Mesmo assim eu acabei levando este 306 para casa.
O primeiro passo foi refazer a sua pintura, o que foi um erro. Anote isso, caso você vá recuperar algum carro na sua vida: NUNCA COMECE PELA PINTURA. Foram quase dois meses entre preparação e pintura.
A cicatriz
Com a pintura pronta e um sorriso de babaca na cara, meu próximo plano já estava traçado: acertar a elétrica, ajustar os vidros e talvez botar a capota para funcionar novamente. Porém o destino não foi muito legal comigo. Em vez de colocar uma pedra no caminho, resolveu colocar logo um caminhão da Cielo!
Meu eletricista de confiança fica em uma rua íngreme e sem saída, onde este caminhão resolveu subir por engano! Até hoje acho que a culpa não foi do coitado do caminhão, mas sim do “dotô” que estava ao volante. O fato é que o caminhão despencou lá de cima da rua sem freio, e segundo o seu motorista, para não entrar com tudo na avenida principal, ele resolveu frear o caminhão no meu carrinho, que estava estacionado no canto da rua.
Com a força do impacto, o 306 foi arrastado e bateu em mais três carros, resultando na destruição da traseira, do eixo traseiro e da dianteira do meu carro.
O detalhe disso tudo é que eu ainda não havia andado nem um único quilômetro com o carro – e lá se foram quatro longos meses e duas semanas de lanternagem e de repintura.
O recomeço
Após a funilaria, ainda foi feito um serviço de retífica no motor e a regularização do carro junto ao DETRAN.
Foi quase um ano para deixar o carro capaz de rodar por ai livremente – e posso falar que faria todo o sacrifício novamente para ter o prazer de andar em um dos pouco mais de duzentos deste carrinho que foram importados para o Brasil. Somente quem lutou para conseguir trazer um automóvel de volta pela Highway to Hell sabe o quanto vale pra sua autoestima ver que aquele carro saiu do teu sangue derramado, do teu suor em cada detalhe.
Considero que o primeiro estágio da saga terminou quando ele ficou pronto para rodar, já com o jogo de rodas Ariane 16” originais do irmão mais velho, 307 CC, e uma capota nova de curvim vinda um amigo chamado William “Capoteiro”, cujo serviço eu recomendo. A quem quiser seu contato, seu fone (não sei se ainda é o mesmo) é 11 9 5297 4138.
Presente
Após dois anos e meio investidos, o carro estava rodando perfeitamente até dezembro do ano passado, quando um calço quebrou – e como todo carro velho, nenhum problema aparece desacompanhado. Além do calço, uma manga de eixo foi comida (adivinhem como…) e, claro, o calcanhar de Aquiles deste carro ressurgiu: os mecanismos dos vidros, que são altamente complexos, difíceis de arrumar. É isso o que me impede de andar com o carro atualmente.
E o futuro? Bem, ainda este ano estou me preparando para implementar a fase 2 do projeto, que vou falar no meu segundo post, junto com um pouco da história do meu antigo amarelinho…
Por Gabriel Gonzalez, Project Cars #70