Fala, galera do FlatOut! Meu nome é Felipe Conde, sou de Fortaleza/CE e hoje vou começar a contar pra vocês a história da minha CBX750F 1987, mais conhecida por nós Brasileiros como Sete Galo Hollywood.
Desde de pequeno tinha fascínio por carros e motos. A história do moleque que junta a mesada curta pra comprar miniaturas de moto 1/18 da Maisto e Hotwheels de carros como o Porsche 959 provavelmente soa familiar para muitos de nós leitores do FlatOut. Futuro gearhead não poderia ser destino diferente.
A primeira moto veio antes que o primeiro carro, no meu caso. Cansado de perder horas esperando ônibus e vans para ir para a faculdade, consegui mudar o pensamento dos meus pais (“moto só por cima do meu cadáver”) e aos 21 anos, com meu dinheiro suado do estágio e um empréstimo com as melhores condições do mercado oferecido pela minha avó, comprei minha primeira moto. Na hora da escolha nunca consigo optar pelo convencional. O convencional nunca teve graça pra mim. Assim, motos como CG estavam fora de cogitação. Já bastava a experiência das aulas de habilitação, por que enfim, não tinha opção.
Por sorte, minha esposa (na época, ainda namorada) é filha de um motociclista e também gearhead, e dessa forma a paixão por motos teve lenha na fogueira jogada pelo sogrão. Com supervisão dele, comecei com uma Mirage 250 e nos anos que se seguiram a Mirage evoluiu pra minha primeira Harley, uma 883 e em seguida para uma V-Rod.
Em 2014 tive a oportunidade de vir morar em Londres. Nos preparativos de visto e mudança vi minha V-Rod dar adeus. Mas o que eu não esperava era que um processo previsto para demorar dois meses acabaria se multiplicando e virando mais de sete meses de espera. Aquele tempo sem ter uma moto na minha garagem parecia uma eternidade e percebi que não iria conseguir ficar tanto tempo sem moto. Foi aí que a 7 Galo entrou na minha história.
Paixão à primeira partida
Foi em um final de semana na casa de um tio meu. Ele, policial militar recém aposentado e mecânico do CIOPAER (Centro Integrado de Operações Aéreas) sempre foi a referência gearhead na família. Lembro, ainda pivete, de ir à casa dele e topar com peças de carro por todo lado, motores abertos pelo chão e aquele cara todo sujo de graxa.
Naquele final de semana ele estava fazendo um serviço na moto de um amigo, uma galo 1988 “Magia Negra”. Ao ligar aquele motor, foi paixão à primeira partida. Mesmo sabendo que mudaria de país em alguns meses, sem data prevista para retornar para o Brasil, tive a louca idéia de iniciar um projeto (cada um com suas loucuras né?). Infelizmente a moto em questão não estava a venda, mas naquele instante que ouvi o som do motor… eu soube que tinha que ser uma Galo.
Alguns dias depois, recebi a ligação do meu tio: “Felipe, encontrei uma Galo pra ti. É de procedência, vamo lá ver!”. Marquei no final de semana, peguei meu consultor (sogro) e fomos todos juntos ver a moto. A Galo era uma Hollywood 1987 (mesmo ano que nasci!). A pintura e carenagem estavam totalmente detonadas. Haviam remendos com silver tape em vários lugares da carenagem, os retrovisores não eram os originais, a bolha estava toda torta, tanque amassado e o painel tava todo rachado, só para citar algumas coisas. Pedi pra dar uma volta e a boa surpresa foi que a mecânica estava perfeitamente em ordem. Das motos que eu já tinha pilotado e vinha cogitando usar em projeto, ela me surpreendeu positivamente dado que era uma moto de 27 anos de idade. Conversa vai, barganha vem, arrematei a moto por um preço justo.
Dá pra ver a silver tape ali segurando a peça da carenagem
Assim, dei inicio ao meu projeto. A princípio eu não fazia muita ideia o que iria fazer. Vinha cogitando algo estilo café racer, mas quando comecei minhas pesquisas sobre as CBXs e todos os mitos que envolvem essas motos e nós brasileiros, café racer ficou fora de cogitação. Seria uma blasfêmia fazer isso com uma moto tão apreciada por tantos — além do seu peso também não ajudar. Decidi, então, que a moto vai ter que ser toda original! Mal eu sabia a dificuldade que essa decisão me traria.
Desmontando tudo…
Claro que não houve surpresas boas. Como disse, a moto realmente se encontrava em bom estado mecânico, mas sempre tem aquele detalhe que você não vê no dia que avalia o veículo. No meu caso, parece que eu estava vendado na hora que fechei o negócio.
Sorte minha que desmontar uma moto não é o mesmo trabalho de desmontar um carro. O fato de o meu tio ter sido mecânico de aeronaves pode ser considerado um ponto positivo e negativo ao mesmo tempo. Eu explico: quando o cara é mecânico de aeronaves, a precisão nos detalhes é algo fundamental. A vistoria de aeronaves é algo meticuloso. Não podem existir “gambiarras” e tudo tem que ser como consta no manual. Basta um parafuso com o torque errado e…já sabe né.
Bem, isso é o lado positivo, pois sabia que minha moto ficaria impecável. O lado negativo é que a medida que eu e meu tio fomos desmontando a moto ele não queria parar, pois tudo pra ele precisava de reparo/troca. Pensei comigo: “Não vai dar tempo! Vou embora liso e não vou ver a moto ficar pronta!“
Em dois dias, a moto já se encontrava nesse estado:
Será que eu acerto montar de novo?
E tendo surpresas
Quando você desmonta qualquer coisa de 27 anos de idade e nesse nível/estado, pode ter certeza que você vai encontrar peças que nem imaginava e começa a se questionar como é que podiam estar rodando naquele estado.
O eixo desgastado. Da pra ter ideia de como estavam os rolamentos né?
E esse fio azul?
Não consegui acreditar a quantidade de sujeira que tinha por aqui
No melhor estilo Sherlock Holmes
Tive a sorte de na época já estar trabalhando para empresa remotamente e a diferença de fuso ajudava bastante. Apesar de já estar em reunião as 6h da manhã, por volta das 2:30 da tarde eu já me encontrava livre.
Era a hora que eu começava cascavilhar a internet numa busca incançável por peças originais.
Quase que diariamente eu recebia encomendas dos Correios. Até o “seu”Raimundo, porteiro do prédio, chegou a comentar comigo que o carteiro certa vez falou: “Mas esse tal de Felipe recebe é coisa, né?”
E minha rotina a tarde era sempre a mesma; Aproveitava o caminho pra oficina, passava na Clarinto de Queiroz (uma rua no centro de Fortaleza que possui dezenas de lojas de motos) pra comprar alguma coisa que precisasse e entrava pela noite na oficina do meu tio.
Pontualidade Britânica? No way!
Apesar de meu tio também manjar de funilaria e pintura, sabiamos que eu não tinha tanto tempo assim. Precisava terminar a moto o quanto antes pra curtir um pouco ela antes da viagem.
Resolvemos passar o trabalho para um terceiro. Posso dizer que o cara é sem dúvida o melhor funileiro de motos de Fortaleza. Mas todos nós sabemos como são os funileiros, não é?
No próximo post eu conto mais da saga com o funileiro e do resto da montagem da moto.
Só pra dar uma prévia do que estar por vir
Até breve!
Por Felipe Conde, Project Cars #184