Olá galera do Flatout! Meu nome é Guilherme Oliveira. Tenho 20 anos e faço engenharia mecânica na Universidade de Brasília. Sempre fui fanático por carros e por qualquer coisa ligada a eles, em grande parte por influência do meu pai. Ele sempre foi, e até hoje é, um amante de carros – recentemente, fui à sua casa e ele me chamou para assistirmos vídeos de WRC no PC, impressionado com o nível de habilidade dos pilotos!
Lembro até hoje de quando ele me levou a primeira vez para ver uma corrida de kart 125 cm³. Eu tinha uns oito anos e ele já me levava nos fins de semana para brincar de kart indoor. Até que, certo dia, me levou em um sábado de corrida ao kartódromo do Guará-DF (onde ele mesmo correu de 125 cm³ quando adolescente). Ficamos posicionados no cotovelo que antecede a reta dos boxes e ele começou a me explicar técnicas de pilotagem dos pilotos que estavam correndo no dia. Aquilo foi especial e acredito que, naquele dia, percebi o que queria fazer da minha vida.
Shifter de 125 cm³, num kartódromo italiano na região da Lombardia
Quando cresci, as coisas se apertaram financeiramente e meus pais não poderiam custear uma carreira no kart. Juntei uns trocados com um amigo e conseguimos comprar um kart para andarmos. Infelizmente a parceria não deu muito certo e acabei tendo de parar de fazer aquilo que gosto.
Mesmo sem poder praticar, nunca deixei minha paixão por automobilismo. Com o tempo, passei a ter cada vez mais convicção de que um excelente piloto também deve conhecer profundamente aquilo que pilota, como o funcionamento e as reações do automóvel. Comecei a pesquisar bastante sobre mecânica, matava aulas pra ficar em oficina e também decidi fazer engenharia. Nos meus passeios pela internet conheci o Jalopnik, gostei tanto do site que não conseguia deixar de ler nem por um dia! Quando soube que ele tinha seus dias contados foi bem ruim, mas durou pouco: logo depois surgiu o FlatOut e eu já sabia onde me saciaria diariamente!
A Equipe
Bom, mas este post não é sobre minha história de vida e, feitas as apresentações, vamos ao que interessa. Vocês querem mesmo saber sobre a Apuama! O nome veio do Tupi (“ser que corre”) e é para isso que a Apuama Racing nasceu: é a equipe de Formula SAE da Universidade de Brasília. Foi fundada em 2004 por alunos de engenharia mecânica da UnB. A Formula SAE é uma competição de monopostos organizada pela SAE International (sociedade dos engenheiros automotivos). O regulamento da competição em si é tido como um regulamento bem liberal, restringindo apenas o mínimo necessário para que seja mantida a segurança. Desta forma, os estudantes de várias universidades podem aplicar toda a teoria aprendida nas universidades e ver e experimentar os resultados. No Brasil, a competição acontece em Piracicaba – SP. Os dois primeiros colocados têm direito a correr no mundial, que acontece nos EUA (foto abaixo).
Minha entrada na equipe foi no ano de 2013. Após alguns amigos me falarem sobre a Apuama, me inscrevi no processo seletivo. Depois de algum tempo sem resposta, um amigo me liga, fala que o responsável pela seleção tinha se enrolado e que minha entrevista seria feita no dia seguinte. Quando cheguei, começaram a me perguntar coisas como altura, peso, etc. No princípio estranhei, mas logo depois o papo fluiu e mais a frente descobri o por quê daquilo.
Após muita conversa sobre carros e mecânica, recebi a notícia de que o antigo piloto da equipe teve de sair e que havia chances de eu ser, além de projetista, o novo piloto! Podem imaginar como fui para casa? Deixei o e-mail aberto praticamente em tempo integral nos três dias seguintes até que recebi a resposta. Fui aceito, trabalharia como engenheiro de powertrain e seria um dos pilotos da equipe. Eu não poderia ter recebido presente maior!
O Carro
Você, meu caro gearhead, já pode imaginar: quando estudantes de engenharia são soltos com a missão de fazer um carro de corrida, com grande possibilidade para inovação, o resultado é no mínimo absurdo. É por isso, que em uma competição de FSAE é possível ver carros consideravelmente diferentes mas que atingem, semelhantemente, desempenhos extraordinários. E este, é o resultado que esperamos obter.
Para conseguir isso no ano de 2014, estaremos trabalhando em um chassi tubular pregado ao solo por pneus slick Pirelli PZero. Quem cuidará de aproveitar ao máximo o potencial dos sapatos será uma suspensão duplo A de sistema pull rod na dianteira e push rod na traseira. Tudo isso será empurrado por um motor Honda de CB600F (presente inesperado da nossa amiga Honda), que produz 102 cv e 6,53 kgf.m de torque. Para conter todo esse ímpeto utilizaremos discos ventilados de 233 mm na dianteira e 220 mm na traseira, pressionados por pastilhas de freio de composto macio e cilindro mestre da Willwood.
Visto que os carros de FSAE normalmente não pesam mais que 200 kg, vocês já devem imaginar que o resultado alcançado deve ser no mínimo interessante. Mas não quero falar muito sobre o carro agora, acredito que não seria conveniente encharcá-los de dados logo no nosso primeiro encontro. Teremos muito pra conversar ainda e acredito que vocês gostarão dos papos!
Meu Propósito
Sei que a FSAE se trata de uma competição de engenharia e que, por isso, a preocupação com a eficiência e números são de grande importância. Mas, como alguém que é apaixonado por carros, não posso deixar de falar: Na minha opinião, carros têm muito mais a ver com sensações e emoções do que com números.
Já tive a oportunidade de andar em alguns carros legais na vida, não muitos, mas alguns. Dentre eles, tenho três na minha cabeça que me deram as melhores sensações a bordo de um automóvel. O primeiro deles é o kart de 125 cm³. Sinceramente, é indescritível a sensação de pilotá-los. Nunca andei em algo que reagisse mais rápido ou que me desse mais sensação de velocidade que aquilo. O segundo é um Caterham CSR 260 e também não sei descrevê-lo. Acredito que se você presenciar o fim dos tempos saberá como é (ou, é claro, se andar em um Caterham). O terceiro é um Civic EJ1 turbo, preparado para track days. O carro era tão redondo que chegava a me lembrar o Caterham, mas sem o charme da tração traseira.
Falo isso, pois carros de corrida excelentes não são feitos simplesmente comprando as melhores peças e socando lá dentro. São feitos quando todas essas peças conseguem trabalhar juntas. E é aí que entra meu papo cabeça sobre emoções. Quando se atinge esse nível, você não terá nas mãos simplesmente um campeão de Super Trunfo, mas terá algo que é capaz de te proporcionar sensações inesquecíveis. Acredito que falaremos muito sobre engenharia por aqui, mas também falaremos sobre o resultado prático dessa engenharia e, sobre o que é possível experimentar após muito trabalho, dedicação e capricho.
Bom galera, como a primeira impressão é a que conta, espero que tenham gostado deste primeiro post. Espero conseguir passar pra vocês um pouco daquilo que tenho aprendido e que isso contribua de alguma forma para seus futuros projetos. Obrigado pela paciência e até a próxima!
PS: caso queiram acompanhar nossa equipe no Facebook, clique na imagem acima e curta a fanpage da Apuama Racing!
Por Guilherme Oliveira, Project Cars #05