O Porsche 911 da geração 993 foi fabricado até setembro de 1998 – exatos 20 anos atrás. Você não precisa ser um profundo conhecedor do 911 para saber que a geração 993 foi a última a usar como base a plataforma clássica, de 1963, e a última a contar com o motor flat-six arrefecido a ar. Se fosse qualquer outra fabricante de automóveis, a decisão seria encarada com naturalidade – afinal, os anos 2000 já estavam batendo na porta e praticamente todos os carros do mundo já tinham radiador. Mas, no caso da Porsche, foi uma decisão delicada. Ou eles agradavam os puristas, ou adotavam o arrefecimento líquido para manter o alto nível de desempenho do 911 nos anos que viriam. Qualquer companhia em sã consciência, por mais tradicional que fosse, escolheria a segunda opção.
O que aconteceu depois é história: apesar de alguns problemas iniciais com os novos motores arrefecidos a água (e do visual esquisitão da dianteira), o 911 996 – o que também primeiro com um monobloco totalmente novo – conseguiu agradar aos fãs do 911 e, nos últimos anos tem conquistado cada vez mais admiradores. As gerações seguintes, 997 e 991, continuaram sendo referência, e o 911 jamais perdeu sua identidade, mesmo cada vez mais potente e tecnológico.
Acontece que nunca faltará quem prefira os 911 old school. Prova disso são as inúmeras versões atualizadas do 911 clássico, feitas por diferentes empresas espalhadas pelo mundo – a Singer Vehicle Design, com suas verdadeiras obras de arte, é só uma delas. Pois a Porsche decidiu entrar na onda, também, e comemorar seus 70 anos com um 911 aircooled reimaginado.
No entanto, em vez de fazer como todas as outras companhias – que geralmente usam como base carros dos anos 60 e 70 – a Porsche optou por construir do zero um Porsche 993, partindo de um monobloco sem uso que estava guardado desde o fim dos anos 90. Aprovamos totalmente a ideia, e se o intuito era se destacar, a Porsche conseguiu. Além disso, o 993 é um carro tecnicamente superior, mesmo usando uma plataforma antiga.
O carro foi batizado Project Gold porque a carroceria –foi pintada no mesmo tom de amarelo Golden Yellow usado no 911 Turbo S Exclusive Series da geração 991 (os dois carros até posaram juntos para algumas fotos e um vídeo). Todo o processo de fabricação seguiu os mesmos procedimentos usados para os carros produzidos pela Porsche hoje, incluindo tratamento anti-corrosão, pintura, acabamento e controle de qualidade. Foi como uma viagem no tempo, de ida e volta, entre 1998 e 2018.
Depois de pintado, o monobloco foi levado para a Porsche Classic, em Stuttgart, para a montagem dos componentes mecânicos e do interior – mais de 6.500 deles, todos fabricados novos pela Porsche Classic exclusivamente para o 993. De época mesmo, apenas a carroceria. No total, a divisão de clássicos da Porsche oferece uma seleção de mais de 52.000 componentes para as gerações passadas do 911.
Ou seja: painel de instrumentos, bancos, revestimentos de porta, volante, cintos de segurança, retrovisores, faróis, lanternas, grades e emblemas são novos. O interior foi revestido em couro preto com costuras douradas, e todo o acabamento foi feito à mão. Detalhes como saídas de ar, respiros nos para-choques, retrovisores e soleiras das portas são de fibra de carbono nua. As rodas de alumínio foram pintadas de preto e receberam filetes pintados em Golden Yellow.
O motor também é novo-em-folha, zero-quilômetro. E a Porsche não quis inventar moda: trata-se de um flat-six biturbo de 3,6 litros arrefecido a ar capaz de entregar 450 cv a 6.000 rpm e 60,2 mkgf de torque a 4.500 rpm. É o mesmo motor usado pelo Porsche 911 Turbo S 993, versão especial que teve apenas 345 exemplares produzidos n fim dos anos 1990. Este é o exemplar nº 346.
Com câmbio manual de cinco marchas e tração integral – que também foram feitos usando componentes de transmissão novos fornecidos pela Porsche Classic – o 993 Turbo S é capaz de ir de zero a 100 km/h em 3,7 segundos, com velocidade máxima de 301 km/h. Vale lembrar que a geração 993 do Porsche 911 Turbo foi a primeira a usar um setup com duas turbinas, e que no geral o 993 também foi o primeiro 911 com suspensão traseira do tipo multilink.
Agora, só há um problema com este carro. Quer dizer, o carro em si é o sonho dourado (literalmente) de todo fã de Porsche, mas não é legalizado para as ruas. O 911 Project Gold fará sua primeira aparição pública no dia 27 de setembro, no autódromo de Laguna Seca, na Califórnia, durante a sexta edição do Porsche Rennsport Reunion. Um mês, depois, em 27 de outubro, ele será leiloado pela RM Sotheby’s durante um evento no Porsche Experience Center em Atlanta, no estado da Geórgia. Os lucros serão doados para a Fundação Ferry Porsche, instituição de caridade recém-inaugurada e dedicada à educação, causas sociais e desenvolvimento da juventude. Quem comprar o carro, porém, só poderá utilizá-lo na pista.
O problema será ter coragem…