Se você é do tipo que curte um bom Porsche (e quem não é?), certamente já viu as criações insanas de Akira Nakai-San à frente da RAUH-Welt Begriff, ou simplesmente RWB. Em uma oficina escura, cheia de fotos na parede e cinzeiros espalhados por todo canto, Akira Nakai cria máquinas com sua própria identidade: para-lamas alargados, cores vibrantes e motores turbinados de mais de 600 cv. Com eles, sua equipe participa de corridas quase semanais pelos mais importantes autódromos do Japão — ou você acha que o negócio dele é all show, no go?
O fato é que o Nakai-San não é o único a apostar no potêncial do clássico 911 para criar carros velozes, agressivos e estilosos — na verdade, o que ele faz é se inspirar nas pistas e exaltar ainda mais as características que já existiam nos Porsche de competição desde os anos 1970, quando o Porsche 911 Carrera RSR, com seu flat-six de três litros e pelo menos 280 cv, venceram diversas corridas em circuitos importantíssimos como Daytona e Nürburgring Nordschleife. Isto sem falar no Porsche 935 Turbo, derivado do 911, que em 1979 venceu as 24 Horas de Le Mans.
No entanto, há outros que se inspiram nos Porsche de competição das antiga para criar projetos sensacionais. Os caras da preparadora americana D-Zug, cuja sede fica na Carolina do Norte, por exemplo, também seguem esta filosofia. E eles entendem do riscado, como fica óbvio quando se dá uma olhada no “Projekt Mjølner”, este Porsche 911 Turbo (o famoso 930) 1986 com um boxer de 3,5 litros e mais de 600 cv.
De acordo com a D-Zug, a ideia por trás do Projekt Mjølner era usá-lo como vitrine para os serviços da preparadora. O nome, como alguns já devem ter sacado, é inspirado no lendário martelo de Mjölnir (pronuncia-se “miólnir”), uma arma tão poderosa que é capaz de quebrar montanhas. De acordo com a religião nórdica, apenas Thor, filho de Odin e Deus do Trovão, seria capaz de operar o Mjölnir.
Imaginamos que os caras da D-Zug queiram dizer que o Projekt Mjølner é tão insano que nem todo mundo é capaz de pilotá-lo. E, de fato, as especificações técnicas indicam fortemente que é exatamente este o caso.
Originalmente, o Porsche 930 fabricado entre 1978 e 1989 era equipado com um boxer de 3,3 litros arrefecido a ar que, com turbo e intercooler, entregava 300 cv. Quem entende de Porsche sabe que, sem qualquer tipo de assistência ao motorista, motor traseiro, entre-eixos curto o caracol no motor, o 930 era um dos 911 mais ariscos de se guiar.
Dito isto, o motor do Projekt Mjølner teve o deslocamento ampliado para 3,5 litros e recebeu dois turbocompressores Garrett GT-30. Além de respirar melhor, o flat-six também recebeu diversos componentes internos de alto desempenho: pistões Mahle de 98mm, bielas Pauter, virabrequim do Porsche 993 Turbo (que também cedeu bomba e filtros de óleo), comandos de válvulas do Porsche 911 GT2 e coletores de escape do lendário Porsche 935. O motor é alimentado por um sistema de injeção eletrônica MegaSquirt II com corpo de borboleta de Mustang.
O resultado: 615 cv a 7.000 rpm e 75,2 mkgf de torque a 5.400 rpm — no mesmo nível dos carros que Akira-Nakai usa em provas de endurance. Não há dados de desempenho mas, na boa? Isto é só um detalhe. Escuta só este ronco:
A força é levada para as rodas traseiras através do câmbio manual de quatro marchas do Porsche 930. A suspensão, por sua vez, usa amortecedores ajustáveis do tipo coilover da Bilstein nos quatro cantos, com componentes (como pratos de suspensão e braços triangulares) do 935 e do Carrera RSR dos anos 70. Top notch mesmo.
As rodas foram fabricadas pela Forgeline sob encomenda da D-Zug, com desenho exclusivo. São 18×10,5 polegadas na dianteira e 19×14 polegadas (!!) na traseira, todas calçadas com pneus Pirello P-Zero.
Visualmente, a inspiração nos Porsche de pista dos anos 70 é evidente. Diversos componentes foram reaproveitados dos 911 esportivos e de competição — o para-choque dianteiro veio de um Carrera RSR 2.1, o para-choque traseiro e o enorme aerofólio ajustável vieram de um legítimo 935 e os para-lamas dianteiros e traseiros, de um RSR 3.0. A pintura preta com detalhes vermelhos é o toque final, dando ao Projekt Mjølner um visual maligno, quase diabólico.
Por dentro, a mistura de esportivo e carro de corrida continua, com boa parte dos acabamentos no lugar (incluindo couro e camurça nos bancos e revestimentos de porta), instrumentação auxiliar, alavanca de câmbio inspirada no Porsche 935 e bancos concha de fibra de carbono (menor para o passageiro) forrados apenas com uma fina almofada. O banco do carona é bem menor que o banco do piloto — até porque certamente este carro passa a maior parte do tempo na pista. Serious business.
Aliás, fica difícil ver este carro e não lembrar de outro Porsche 911 preto todo fuçado: o Blackbird, projeto de Akira Nakai que, segundo consta, foi o carro que inspirou o carro do mangá/anime Wangan Midnight. Sabendo que o Blackbird hoje tem cerca de 500 cv e é capaz de chegar aos 300 km/h, não fica difícil deduzir que o Projekt Mjølner é ainda mais veloz.
Se quiser descobrir na prática (e tiver uma bela conta bancária) . A D-Zug está pedindo US$ 108.950, o que dá cerca de R$ 430 mil em conversão direta. Cadê aquele prêmio da Mega Sena agora, hein?