Sejamos honestos: se você curte carros e está lendo o Flatout, é grande a possibilidade de você já ter pensado, em algum momento da sua vida, em comprar um BMW M3 E36. Há uma boa razão para isto: trata-se de um cupê esportivo de alto nível, potente, bonito e ainda relativamente acessível que não é tão raro assim no Brasil.
Se for mesmo este o caso, também temos certeza de que você sabe que o M3 europeu é muito mais carro do que o modelo americano, como já dissemos no nosso Guia de Compra. E, naturalmente, mais caro – coisa de R$ 5-10 mil, dependendo do estado de conservação. Que é um carro mais potente, já e bem sabido. Mas não é só isto, e nós vamos destrinchar as diferenças agora!
Por que os carros são diferentes?
A verdade é que, quando o BMW M3 E36 foi apresentado, durante o Salão de Paris de 1992, a fabricante não pensava em produzir uma versão para os Estados Unidos – os modelos M andavam em baixa por aquelas bandas, e não fazia sentido colocar mais uma opção em um mercado tão frio.
Contudo, a notícia do lançamento chegou ao BMW Car Club of America, que iniciou uma campanha incentivando os entusiastas a mandarem cartas para a marca. A adesão foi tamanha que a fabricante decidiu rever a possibilidade.
O BMW M3 americano foi aprovado, mas o braço americano da marca não queria que ele custasse mais de US$ 35 mil. Por isso ele recebeu um motor mais simples e barato, sem alguns dos recursos da versão europeia. O M3 a ser exportado para os EUA começou a ser produzido em 1994, ano em que fez sua estreia no Salão de Los Angeles.
Motor e câmbio
A diferença mais importante – e por isso vamos abordá-la primeiro – é o motor. Tanto o M3 E36 americano quanto o europeu usam o motor S50, de seis cilindros em linha com deslocamento de três litros (2.990 cm³). Em ambos os motores, o bloco é de ferro fundido e baseado no motor M50, seis-em-linha com cabeçote de 24 válvulas que era encontrado em diversos modelos da BMW na década de 1990.
Costuma-se dizer que é mais fácil apontar as semelhanças entre os motores do que as diferenças. Em comum, ambos têm curso de 85,8 mm e diâmetro de 86 mm, taxa de compressão mais alta, volante bimassa, válvulas de admissão maiores e molas de válvulas reforçadas. E os dois têm quatro válvulas por cilindro e comando duplo. No entanto, os cabeçotes têm projetos bastante diferentes.
O motor europeu tem tuchos mecânicos e comando VANOS com variação contínua nas válvulas de admissão. A taxa de compressão é de 10,8:1, e o sistema de alimentação usa corpos de borboleta individuais. É um cabeçote bem mais complexo.
A versão americana traz o chamado S50B30US. O cabeçote é menos sofisticado, perdendo os corpos de borboleta individuais, e tem taxa de compressão mais baixa, de 10,5:1. Além disso, o comando VANOS traz variação em dois estágios, e não contínua. Um aspecto interessante é que o motor americano tem tuchos de válvula hidráulicos em vez dos mecânicos do europeu. Para alguns, isso é uma vantagem, pois os tuchos hidráulicos dispensam regulagem periódica.
Com isso, o M3 E36 europeu com motor de três litros entregava 286 cv a 7.000 rpm e 32,6 mkgf de torque a 3.600 rpm, com redline a 7.280 rpm. O motor americano, por sua vez, tem 243 cv a 6.000 rpm e faixa vermelha do conta-giros a 6.500 rpm.
Em ambos os casos, contudo, o câmbio era idêntico: uma caixa manual de cinco marchas da ZF, com relações idênticas. O diferencial dos dois tem bloqueio de 25% e relação final de 3,15:1. Dito isto, o diferencial do modelo europeu era maior e mais resistente.
O modelo americano foi o único a oferecer a opção pelo câmbio automático – uma caixa de cinco marchas, também da ZF, com três modos de condução (normal, manual e inverno). O diferencial, neste caso, tem relação final de 3,23:1 e deslizamento limitado.
S50B32
Em 1996, a BMW promoveu uma atualização em ambas as versões do M3 E36. O modelo europeu ficou ainda melhor, recebendo uma versão de 3,2 litros do motor S50, o S50B32. Para deslocar 3.201 cm³, o motor teve o curso ampliado para 91 mm e o diâmetro, para 86,4 mm. A taxa de compressão também aumentou para 11,3:1.
O comando variável VANOS agora estava presente também nas válvulas de escape, enquanto as válvulas de admissão ficaram maiores. Foram adotados também pistões mais leves, válvulas revestidas com grafite, coletores de admissão e escape com fluxo otimizado, um novo volante para o motor e um módulo BMW Siemens MSS50, capaz de processar 20 milhões de instruções por segundo. O novo motor do M3 europeu entregava 321 cv a 7.400 rpm e 37,7 mkgf de torque.
Já a versão americana recebeu um motor diferente, o S52. Bastante parecido com o S50, ele tinha deslocamento ampliado para 3,2 litros (3.157 cm³, na verdade), com curso ampliado para 85,8 mm e diâmetro para 89,6 mm. O sistema VANOS continuava presente apenas nas válvulas de admissão, mas os comandos ficaram mais leves, assim como molas e atuadores das válvulas. Coletores de admissão e escape foram retrabalhados, e o módulo de controle passou a ser compatível com o protocolo OBD II.
As modificações não afetaram a potência, que continuava nos 240 cv a 6.000 rpm, mas o torque agora era de 32,6 mkgf a 3.800 rpm.
Com a atualização, os câmbios também mudaram: o M3 europeu passou a ser equipado com uma caixa manual Getrag de seis marchas. Uma caixa sequencial de seis marchas, com exatamente as mesmas relações e componentes internos, também passou a ser disponível como opcional.
Suspensão e freios
Baseada no Série 3 E36 comum, a suspensão do M3 também é do tipo McPherson na dianteira e multilink do tipo “Z-Axle” na traseira. Mas é claro que com algumas modificações: o esportivo é 31 mm mais baixo e tem bitolas mais largas na dianteira e na traseira (55 mm e 90 mm, respectivamente). Molas e amortecedores são mais firmes, e os suportes das molas são reforçados. As barras estabilizadoras são mais grossas, e toda a geometria da suspensão foi revista. Nisto tudo, euro-spec e US-spec são praticamente idênticos, exceto que o modelo americano tem barra estabilizadora dianteira mais fina (característica compensada pela alteração do ponto de fixação da bieleta) e acerto mais macio.
Os freios do M3 europeu tinham discos 315 mm de diâmetro na dianteira e 313 mm na traseira, com espessura de 28 mm, sendo que os da dianteira eram ventilados. O modelo americano tinha discos com as mesmas medidas, porém sólidos nas quatro rodas. Diz-se que a BMW americana considerava os discos ventilados menos seguros do que os sólidos, pois podiam falhar caso não fossem mantidos corretamente.
No modelo europeu, as rodas são de 17×7,5” na dianteira e 17×8,5” na traseira, calçadas com pneus de medidas 235/40, enquanto o americano tem tala 7,5” nas quatro rodas. A partir de 1996, foram adotados pneus de medidas 225/45 na dianteira e 245/40 na traseira.
Visual
Euro-spec
Havia bem poucas diferenças estéticas entre as versões americana e europeia do M3 E36. O modelo vendido nos Estados Unidos, por exemplo, não tinha projetores nos faróis e as lentes eram de plástico mais barato. Além disso, apenas o modelo europeu tinha lavadores de farol.
Por dentro, o velocímetro do modelo americano marcava até os 260 km/h, enquanto no modelo europeu a marcação ia até os 280 km/h. E só na Europa havia o mostrador de temperatura do óleo, que nos Estados Unidos foi substituído por um marcador de consumo de combustível.
U.S. Spec
Por outro lado, a lista de equipamentos de série do M3 americano era mais extensa, incluindo ar-condicionado, sistema de som Alpine com toca-fitas e disqueteira, além da opção entre tecido e couro nos bancos, sem custo adicional.