A asa traseira ou aerofólio é a primeira coisa que você deve colocar em um carro não apenas para fazê-lo parecer mais rápido; ele poderá andar mais rápido mesmo. É por isso que toda fabricante coloca aerofólios em seus modelos esportivos — mesmo os que só querem parecer esportivos. Capisce?
Brincadeiras à parte, a asa traseira é um dos componentes aerodinâmicos mais usados por fabricantes e proprietários pois é capaz de dar outra cara para um carro, mesmo quando não traz funcionalidade alguma. Mas qual é o aerofólio mais emblemático de todos? É aí que entram vocês, leitores, em mais uma Pergunta do Dia.
Se tivéssemos que escolher só um aerofólio icônico, não seria de nenhum supercarro absurdamente avançado ou de um superesportivo clássico. Seria um carro muito mais mundano, mas ainda assim um verdadeiro ícone entre os entusiastas, principalmente os que curtem carros europeus e ralis.
Foto: Mike S
Nós até daríamos uma dica, dizendo que ele é uma versão única de um modelo conhecido entre os brasileiros, porém cheio de características que o tornam, em essência, um carro totalmente diferente. Mas você já deve ter visto a foto aí em cima, e por isso nós vamos falar logo: é o Escort RS Cosworth.
O Escort foi fabricado de 1968 a 2000 na Europa, e com o lançamento da terceira geração, em setembro de 1980, adotou o layout de motor dianteiro transversal e tração dianteira, como era norma na época. A maioria dos entusiastas, contudo, prefere as duas primeiras gerações, com motor longitudinal e tração traseira. Dá para entender o motivo facilmente assistindo a este vídeo:
Ou a este:
No início da década de 1990, porém, a Ford decidiu colocar o Escort de volta nos ralis — mais especificamente, no Grupo A do WRC que, poucos anos antes, foi dominado pelo Lancia Delta HF Integrale. Para isso, a ideia inicial era usar o Ford Sierra Cosworth, que tinha tração traseira e um fantástico motor projetado com a ajuda da… Cosworth — um quatro-cilindros de dois litros com comando duplo no cabeçote e um turbocompressor Garrett T3/T04B, capaz de entregar 220 cv na versão de rua e mais de 300 cv nas versões de competição.
Acontece que, com tração traseira e peso relativamente elevado o Sierra era bom nas provas de asfalto do Mundial de Turismo (WTCC), disputando posições com caras do calibre do BMW M3 E30 e do Mercedes-Benz 190E 2.3-16 Cosworth. Para as provas do WRC, porém, era um carro grande e pesado demais, e um sistema de tração integral o tornaria ainda mais pesado. A solução? Colocar o motor e boa parte do conjunto mecânico em uma versão adaptada do Escort, com tração integral, e jogá-lo na terra.
Foto: Alan Blackmore
A Ford fez exatamente isto, e o resultado foi animador — dez vitórias no WRC entre 1993 e 1997, além de diversos títulos regionais na Europa. Seu maior legado, contudo, foi a versão de homologação feita para as ruas.
Foram exatamente 7.145 exemplares produzidos entre 1992 e 1996, bem mais do que os 2.500 necessários para a homologação, tamanha a procura pelo carro — que herdou, além da mecânica do Sierra, sua asa traseira de dois andares. A peça foi projetada pelo designer Frank Stephenson, que tem no currículo a geração anterior do Mini, lançada em 2001 e o BMW X5. que havia acabado de sair da faculdade de design e estava empolgado com novas ideias — e revelou que, originalmente, a peça teria três andares. Dá para imaginar?
A Ford chegou a oferecer a opção de remover a asa a partir de 1994, mas exemplares sem ela são raríssimos — uma prova de que Stephenson estava certo. Hoje a asa do RS Cosworth é considerada uma das características mais marcantes do Escort Cossie, como se chegar aos 100 km/h em 6,3 segundos não fosse o bastante.
Não parece que falta algo? (Foto: Ford)
Obviamente que a asa traseira do Escort é só uma entre as diversas peças icônicas lançadas pelos fabricantes ao longo dos anos, seja por sua beleza, seja por sua excentricidade. E nós queremos saber de você: qual é a asa traseira mais fodástica já colocada em um carro? Talvez nem precisemos dizer, mas lá vai: a caixa de comentários é toda sua!