Todos nós gostamos de categorias diversificadas e inclusivas – nelas, equilíbrio é a chave: um bom piloto precisa ter um bom carro, uma boa equipe e uma boa dose de sorte. E é por isso que gostamos tanto da Improved Production, categoria australiana que permite que qualquer carro de rua seja preparado e, se tudo correr bem, se torne um vencedor.
Por outro lado, há quem pense que é somente com paridade de equipamento que poderemos conhecer realmente os grandes pilotos. E aqui entram as categorias monomarca. Nelas todos os carros têm a mesma origem e, em alguns casos, têm até mesmo a mecânica idêntica. Mas qual é a mais legal de todas?
Temos uma sugestão um tanto improvável para dar o primeiro chute: a Fórmula Uno. Mas você vai entender o motivo rapidinho.
Deixando o preconceito e o estigma de carro de baixo custo, o Fiat Uno oferece uma bela plataforma entusiasta. Ele é leve, tem boa aerodinâmica (apesar do formato de bota ortopédica), sua suspensão é independente nas quatro rodas (ao menos no modelo brasileiro, que usa um feixe de molas transversal na traseira) e, com uma dose extra de potência, pode se transformar em um belo foguetinho – veja nosso Fiat Uno Turbo, com seu motor 1.4 de 118 cv e visual para lá de radical, ao menos para a época.
Acontece que o Uno Turbo foi a última versão esportiva do popular da Fiat. Antes dele, já havia o Uno SX e a família R, com os modelos 1.5R, 1.6R e 1.6R MPI – mesmo sem sobrealimentação e com menos de 100 cv, o carrinho divertia em uma tocada mais animada. E foi por causa disso que a Fiat decidiu, em 1992, que o Uno se tornaria um carro de corrida.
A Fórmula Uno foi inaugurada em 1992, e usava o Fiat Uno 1.6R como base. O motor Sevel com comando no cabeçote era preparado pela Greco Competições, preparadora de Luiz Antonio Greco, e era idêntico em todos os carros. Os hatchbacks também eram aliviados e recebiam todos equipamentos de segurança necessários para uma competição oficial.
A potência do motor era de 105 cv, fosse com os carburadores do primeiro ano ou a injeção multiponto introduzida em 1993. Eles eram sorteados antes da corrida, de modo que dificilmente um carro competia duas vezes com o mesmo motor – era mais uma maneira de equilibrar o desempenho, pois mesmo produzidos em série os motores podiam apresentar pequenas diferenças de rendimento. Os pneus eram de medidas 175/70 R13, como nos carros que rodavam nas ruas, e o acerto da suspensão, com cambagem negativa na dianteira e positiva na traseira, ocasionava as famosas traseiradas, e não era raro que se contornasse curvas com apenas três rodas.
Era uma categoria de relativo baixo custo e com alto nível de competitividade – com carros idênticos, os resultados eram nivelados pela habilidade dos pilotos. Com isto, a Fórmula Uno mostrou-se extremamente popular logo de cara. Inicialmente voltada a pilotos iniciantes, a competição logo atraiu a atenção de pilotos experientes que queriam um desafio extra sem gastar muito. Assim, em pouco tempo, o grid chegou a 50 carros por prova. Dentro deles, caras como Ingo Hoffman, Chico Serra, Paulo Gomes e Fábio Sotto Mayor dividiam espaço com novatos, e o espetáculo era garantido.
Three-wheeler! Foto: Correio do Povo
O prêmio para o piloto iniciante melhor classificado era uma temporada na Fórmula 3 italiana, um importante passo na carreira para quem almejava chegar à elite do automobilismo. Já o prêmio para o campeão era um carro zero – na primeira temporada, Sotto Mayor ganhou um Fiat Tempra duas-portas.
As corridas eram televisionadas, e sempre serviam como atração de abertura para o Grande Prêmio de Fórmula 1. Em 1997, após a chegada do Fiat Palio, a Fórmula Uno se tornou uma categoria de acesso, e tinha até uma subcategoria feminina. Quem se recorda dos tempos de Fórmula Uno, porém, diz que poucas categorias nacionais eram tão empolgantes, competitivas e honestas.
Agora, é claro que existem categorias monomarca tão legais quanto, dentro e fora do Brasil, extintas ou ainda em atividade. Então, nos diga: qual é a categoria monomarca mais bacana que você conhece?