As corridas de grand tourers – ou GT – estão entre as favoritas dos entusiastas. Não é difícil entender a razão: elas trazem carros mais próximos de esportivos de rua, e evocam o espírito de competitividade entre as fabricantes que não aparece em provas de monopostos, por exemplo. Além de dar origem a algumas das linhagens mais adoradas pelos entusiastas, como os modelos GT3 e GT4 da Porsche.
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , , e muito mais!
Mas o termo “GT” é um guarda-chuva, usado para referir-se a diferentes categorias do automobilismo – atualmente, GT4, GT3 e LM GTE. Em comum, todas elas trazem carros produzidos em série (mesmo que limitada) com carroceria de duas portas, dois lugares (ou configuração 2+2) e motores que estejam em linha. É diferente das corridas de touring cars, que podem ter mais de quatro lugares – os carros do DTM e da Supercars australiana, por exemplo.
Os critérios para as categorias GT permitem uma ampla variedade de carros elegíveis. Para administrar melhor esta variedade, toda categoria GT utiliza um mecanismo chamado Balance of Performance (BoP). Trata-se de uma série de medidas, que incluem restritores no sistema de admissão, lastros, limites de pressão nos turbocompressores (no caso dos motores sobrealimentados), que variam de carro a carro e equilibram a performance de todos eles. É graças ao BoP que, por exemplo, um Camaro com motor V8 naturalmente aspirado, um Audi R8 com motor V10 e um Porsche Cayman com motor flat-six naturalmente aspirado podem competir em pé de igualdade dentro da mesma categoria. Até mesmo a quantidade de paradas para abastecimento e a duração das mesmas é afetada pelo BoP, que é atualizado todos os anos levando em consideração todos os carros que estão homologados para a temporada. Cada carro tem suas especificações, o que dá origem a uma lista bem extensa divulgada em todo início de temporada, com parâmetros definidos individualmente pela comissão organizadora de cada campeonato. Nem sempre é uma decisão justa – alguns carros acabam favorecidos pelo BoP em uma temporada e favorecidos na seguinte – mas o objetivo é sempre equilibrar peso, potência e arranjo mecânico.
As categorias GT4, GT3 e LM GTE (ou só GTE) diferenciam-se pelo no nível de potência dos carros, bem como a quantidade de modificações permitidas em cada uma delas e a quantidade de assistências ao piloto presentes nos carros. A GT4 é composta por esportivos bastante próximos de carros de rua comuns; a GT3 permite mais modificações e tem carros mais extremos tanto em visual quanto em mecânica; e a LM GTE é a mais liberal das três, sendo também a mais veloz e mais cara. Além disso, as categorias GT4 e LM GTE também possuem subdivisões que levam em conta o nível de experiência e idade dos pilotos.
Mas esta é a versão mais resumida – e não é para isto que você está aqui, é?
GT4
Na base da pirâmide das categorias GT fica a GT4. A categoria foi concebida em 2006 pela Stéphane Ratel Organisation (SRO) para oferecer a pilotos amadores uma categoria de base que pudesse servir como degrau para o ingresso no automobilismo profissional. A SRO foi fundada em 1995 pelo piloto francês Stéphane Ratel, e tem o apoio oficial da FIA em suas atividades.
Sendo uma categoria de acesso. A categoria GT4 consiste nos carros mais próximos de suas contrapartes de rua entre todas as categorias GT. Os carros são acertados para render até 450 cv, e seus componentes aerodinâmicos são bem mais contidos que nas categorias GT3 e GTE – razão pela qual a potência é limitada. Os motores mais potentes devem ser equipados com restritores homologados pela FIA no coletor de admissão.
Ainda que não exista um padrão para a configuração mecânica – tanto o Chevrolet Camaro quanto o Audi R8, por exemplo, são homologados na categoria GT4 – a performance dos carros é bastante equilibrada. O peso mínimo do carro varia de acordo com a configuração mecânica, o deslocamento do motor e a quantidade de cilindros. Por exemplo, para a atual temporada (2020), o Porsche Cayman GT4, que é movido por um flat-six central-traseiro de 3,8 litros, tem peso mínimo de 1.330 kg. Já o Audi R8 GT4, por sua vez, tem um V10 de 5,2 litros e peso mínimo de 1.490 kg. Todos os carros são equipados com freios ABS e controle de tração.
Toda competição que segue o regulamento GT4 prioriza pilotos amadores e utiliza critérios de eliminação rigorosos para evitar que profissionais participem. Pilotos com menos de 30 anos de idade não podem ter ficado entre os dez primeiros em nenhuma competição de monopostos nacional ou internacional, e nem possuir uma carreira de sucesso em provas de turismo nacionais ou internacionais – a chamada categoria Silver. Os que tiverem mais de 30 anos de idade não podem ter experiência prévia com monopostos e não podem ter recebido suas licenças de pilotagem após ter completado 30 anos – estes formam a categoria Bronze.
A principal competição que utiliza o regulamento GT4 é a GT4 European Series, mas campeonatos como o British GT Championship, o Austrialian GT Championship e o ADAC GT Masters (Alemanha) também têm categorias GT4.
GT3
Logo acima da categoria GT4 está a GT3, que é a classe intermediária das corridas de turismo desde 2005, quando também foi concebida pela SRO. Na época, a GT3 ficava abaixo das categorias GT2 e GT1, mas a GT1 foi extinta em 2011, por questões de custo, e a GT2 foi transformada em GTE. A GT3 cresceu bastante em popularidade nos últimos anos, e atualmente é vista como a favorita entre pilotos e equipes.
Os carros da categoria GT3 devem pesar entre 1.200 kg e 1.300 kg, com potência entre 500 cv e 600 cv – sempre definidos de modo a dar aos carros uma relação peso-potência parecida. Carros como o Porsche 911 GT3 e a Ferrari 488 GT3 apostam em peso e potência mais baixos, enquanto outros, como o Bentley Continental GT3 ou o M6 GT3, têm peso e potência mais altos.
Os carros que competem na categoria GT3 têm freios ABS e controle de tração. Os carros podem ser fabricados e preparados pelas próprias fabricantes, como fazem Porsche, Mercedes-AMG, Lamborghini e Audi; ou montados por equipes independentes com apoio de fábrica – os Aston Martin GT3, por exemplo, ficam aos cuidados da Prodrive. Há uma liberdade maior quanto a modificações na carroceria e aerodinâmica, sendo permitidos para-lamas mais largos e apêndices maiores (spoilers e asas).
Diferentemente da GT4, a GT3 não coloca restrições quanto à experiência dos pilotos – é uma categoria estritamente profissional, com nível mais alto de competitividade.
LM GTE
“GTE” quer dizer Grand Touring Endurance – a categoria nasceu com foco nas provas de longa duração. Seu nome completo é LM GTE por conta de Le Mans, mas na verdade a categoria é utilizada pelos campeonatos WEC (World Endurance Championship), do qual as 24 Horas de Le Mans fazem parte; e IMSA GT, que é disputado nos EUA. Até 2011, a LM GTE era chamada GT2, mas isto mudou com a primeira temporada do WEC em seu formato atual. Não existem, no momento, outras competições que incluam a categoria LM GTE – diferentemente do que ocorre com as categorias GT4 e GT3, que estão presentes em uma série de campeonatos nacionais e internacionais, além de categorias monomarca (como a Lamborghini Super Trofeo).
Os carros da LM GTE devem ser baseados em modelos de rua que tenham campanhas publicitárias e sejam vendidos em uma rede de concessionárias. O deslocamento do motor é restrito a 5,5 litros para carros naturalmente aspirados (com a exceção especial para o Dodge Viper, que tem oito litros na versão GTE) e quatro litros para motores sobrealimentados. O peso mínimo é de 1.245 kg para todos os carros, e inclui o piloto (com macacão e capacete), combustível e demais fluidos. O câmbio deve ter no máximo seis marchas e a tração deve ser sempre traseira. ABS não é permitido, apenas controle de tração. E os carros devem ter limpadores de para-brisa e iluminação (faróis e lanternas) funcionais, bem como câmera de ré.
O motor deve ser, preferencialmente, baseado no propulsor da versão de rua daquele modelo. O carro de rua deve ter pelo menos 100 exemplares produzidos caso a produção total de sua fabricante seja de mais de 2.000 exemplares por ano. Empresas consideradas pequenas, que produzam menos de 2.000 exemplares por ano, podem homologar seus carros assim que 25 unidades de rua sejam produzidas. Até mesmo os materiais usados no carro são restritos – materiais mais leves, como fibra de carbono, magnésio e titânio, só podem ser utilizados em componentes menores, como rodas e aparatos aerodinâmicos. O cockpit pode ser feito de fibra de carbono, desde não seja fixado diretamente à suspensão.
É importante lembrar que o regulamento não proíbe a alteração do posicionamento do motor, desde que se mantenha a plataforma. É por isso que, mesmo que a Porsche não venda um 911 de motor central-traseiro, o 911 RSR compete na LM GTE desde 2017 sem problemas.
O uso de recursos aerodinâmicos possui limites bastante severos, bem como a quantidade de alterações no projeto ao longo do tempo – apenas um conjunto de modificações a cada dois anos, além de pequenos ajustes permitidos para as 24 Horas de Le Mans. As dimensões também são limitadas: no máximo 4.800 mm de comprimento e 2.050 mm de largura (excluídos os retrovisores). O tanque de combustível é padronizado, com 90 litros, porém seu volume pode ser alterado posteriormente caso isto seja definido pelo BoP daquele modelo em específico.
Embora a natureza das regras favoreça o uso de superesportivos, carros com a configuração clássica de um grã-turismo, como o Chevrolet Corvette, os BMW M3, M8 e Z4, e o Jaguar XKR também têm versões homologadas para a GTE. Como na categoria GT3, a GTE faz uso do BoP para equalizar a performance entre todos os carros do grid, utilizando lastros e restritores quando aplicável – o teto de potência é de 650 cv. Contudo, o tempo para pit-stops é padronizado, sem variações de acordo com o carro.
Nas 24 Horas de Le Mans, os carros da LM GTE são divididos em duas subcategorias: LM GTE Pro e LM GTE Am. Enquanto a LM GTE Pro não faz restrições quando à composição da equipe, a LM GTE Am só permite equipes com dois ou três pilotos amadores (sendo pelo menos um deles da categoria Silver). Além disso, a GTE Am aproveita o regulamento do ano anterior – medida que visa evitar que um carro da GTE Am, que tem caráter mais amador, vença um carro da GTE Pro por questão de desempenho.