A indústria automotiva britânica é uma das mais antigas do mundo, e também uma das mais curiosas. Se por um lado alguns carros britânicos estão entre os mais adorados do planeta, outros são tão ruins que os próprios ingleses fazem piadas com eles. Mas qual é o carro made in United Kingdom mais emblemático de todos os tempos?
Nossa sugestão só podia ser uma: o Mini clássico, de 1959. Ora, você consegue pensar em algum carro mais quintessencialmente britânico do que ele? É o carro do Mr. Bean, cara!
Um detalhe bacana: todos os roncos de motor para o Mini do Mr. Bean na série animada foram gravados pelo próprio Atnkinson em um Mini de verdade!
O comediante Rowan Atkinson, criador do personagem, certamente não escolheu o Mini como carro do Mr. Bean por acaso: o cara é entusiasta de primeira, ex-proprietário de um McLaren F1 (que bateu duas vezes, aliás) e certamente reconhece o significado do Mini para a cultura automotiva britânica. Não por acaso, o próprio Mr. Bean tornou-se um ícone cultural do Reino Unido.
O Mini é a prova de que os britânicos sabem fazer bons carros quando precisam fazer bons carros. Seu nascimento tem a ver com a crise do petróleo que atingiu a Europa em 1956: Leonard Lord, chefe da British Motor Company, queria uma alternativa aos minicarros alemães, econômicos e baratos, que invadiam o mercado britânico na época – como o BMW Isetta.
Lord queria fazer um “minicarro de verdade”, que fosse um automóvel propriamente dito, e não uma motocicleta com carroceria — os chamados “cyclecars”, que pagavam menos impostos, mas só tinham três rodas. Então, no fim de 1956, ele contratou o designer Alec Issigonis e deu a ele um pequeno time de engenharia para tocar o projeto, que deveria ficar pronto o mais rápido possível.
Em 1957, os primeiros protótipos ficaram prontos. Em 1959, o Mini começou a ser produzido.
O pequeno sedã de dois volumes (a tampa do porta-malas não dá acesso ao interior do carro, portanto o Mini original não é um hatchback) tinha o mesmo quatro-cilindros de 848 cm³ utilizado em outros modelos da BMC. No entanto, em vez de ser montado na longitudinal, como era padrão na época, o motor era instalado na transversal. Logo abaixo dele ficava a transmissão, também na transversal.
O arranjo economizava espaço na hora de acomodar o conjunto mecânico à estrutura, permitindo que se aproveitasse muito mais para os passageiros e sua bagagem. Além disso, eliminava a perda de potência pela transmissão que acontece quando se adota um motor longitudinal na dianteira.
Comprovada a eficiência do layout, outras fabricantes também fizeram seus carros com motor transversal e tração dianteira. E até hoje este é o arranjo padrão nos carros pequenos.
Tipicamente britânico, o Mini não era exatamente potente ou veloz, mas era bom de guiar. A receita é conhecida: rodas bem nas extremidades, entre-eixos curto, baixo peso (apenas 620 kg nos primeiros modelos) e suspensão rígida (com cones de borracha em vez de molas convencionais), garantindo agilidade e precisão nas curvas. Não foi à toa que, em 1961, John Cooper viu potencial no Mini como carro de competição.
Cooper era dono da equipe de Fórmula 1 que levava seu sobrenome e também fabricava carros de corrida para outras categorias e, depois de algum tempo, convenceu Issigonis a trabalhar com ele em uma versão esportiva do Mini. Nascia ali o Mini Cooper, com decoração exclusiva e motor de um litro (997 cm³) com potência de 55 cv – 21 cv a mais que o original.
Além de ser elogiado por seu comportamento nas ruas, o Mini Cooper transformou-se também em um ícone do automobilismo na década de 1960: sua tocada compensava o desempenho bruto, e lhe garantiu vitórias em três edições do Rali Monte Carlo em 1964, 1965 e 1967, e só não venceu em 1966 porque foi desclassificado ao usar nos faróis lâmpadas diferentes das especificadas pelo regulamento. O Mini também venceu dezenas de corridas no circuito britânico de carros de turismo.
Outra prova de que o Mini era um grande carro foi sua longevidade: sem maiores alterações na receita (com exceção de uma mudança mais drástica de estilo em 1969), o Mini foi produzido de 1959 a 2000, o que dá exatamente 41 anos. No fim de sua vida, o Mini tinha um motor de 1,3 litro e 63 cv, acoplado a um câmbio de quatro marchas.
Àquela altura, a British Motor Company já pertencia à BMW desde 1994. A fabricante bávara vendeu boa parte da companhia, mas ficou com os direitos do nome Mini. E, já em 2000, apresentou o conceito que daria origem à primeira geração do Mini moderno, lançada em 2001.
Embora ainda fosse pequeno, o novo Mini era consideravelmente maior que o modelo clássico, o que para muita gente foi motivo suficiente para “deserdá-lo” da família Mini. Ele ainda é produzido no Reino Unido, mas o fato de ter sido desenvolvido por alemães impede os fãs mais radicais de considerá-lo um sucessor legítimo do ícone inglês.
Agora, é óbvio que o Mini não foi o único carro britânico a se tornar uma lenda no mundo automotivo. Queremos saber de vocês: qual é o automóvel britânico mais emblemático de todos?