Tal qual os Beatles, o Pink Floyd é uma daquelas bandas que continuam relevantes mesmo quando não existem mais e não têm a mais remota chance de voltar à ativa. Alguns integrantes já faleceram, os que sobraram não têm qualquer interesse em se reunir, mas os fãs continuam com opiniões extremamente fortes quanto ao melhor álbum, a melhor formação, a melhor fase.
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No caso do Pink Floyd, há quem diga que a melhor fase da banda durou até 1968, ano em que Syd Barrett, guitarrista, vocalista e membro fundador, foi demitido da banda por seu comportamento errático – acredita-se, induzido pelo consumo excessivo de LSD que lhe desencadeou esquizofrenia. Outros dizem que sua fase áurea culminou com The Dark Side of the Moon, álbum de 1973, e que a banda acabou quando Roger Waters, baixista e principal mente criativa por trás dos conceitos do Pink Floyd, abandonou o barco. E também há aqueles que enxergam nos trabalhos mais comerciais, com David Gilmour à frente do grupo, uma banda mais madura e acessível, porém com identidade muito forte e qualidade acima da média.
Qualquer que seja sua opinião sobre o Pink Floyd, é evidente o quanto qualquer coisa relacionada à banda, qualquer novidade envolvendo algum de seus membros, ainda atraia a atenção das pessoas. Como a recente carona que o baterista Nick Mason deu a Brian Johnson, do AC/DC, em sua Ferrari 250 GTO. Se você gosta de carros clássicos e rock clássico, a combinação é lendária. Duas lendas vivas da música em um dos carros mais raros e valiosos do planeta, batendo um papo bacana ao som de um V12 italiano. Que premissa!
Esses dois caras são entusiastas de verdade. Brian Johnson tem uma equipe de corridas, uma coleção matadora – que vai de supercarros como o Audi R8 V10 ao emblemático Citroën DS, passando por Ferrari 458 Italia e até um Bentley 1928 de competição. Em seu programa de entrevistas, A Life on the Road, que passa no Canal Bis e também está disponível no Prime Video, Johnson bate um papo com colegas de profissão. E alguns deles calham de ser igualmente entusiastas.
Recentemente, Johnson foi conversar com Nick Mason, o baterista do Pink Floyd – e um cara esperto, que investiu a fortuna ganha com a banda em uma coleção absurda de automóveis e várias corridas de longa duração. E um desses carros é simplesmente uma Ferrari 250 GTO. O real deal, e não uma réplica (e mesmo réplicas desse carro, se bem feitas, são brinquedos para poucos. Brian, que tem seu histórico de piloto e um Jaguar Project 7 na garagem (o modelo especial projetado por um brasileiro que só teve 250 unidades fabricadas), ficou parecendo uma criança em loja de brinquedos quando adentrou o santuário de Nick Mason.
Ele também não conseguia conter a empolgação ao andar de carona na GTO – um carro que segundo Mason é surpreendentemente robusto e pode ser usado com tranquilidade em qualquer situação, a qualquer momento. Para um cara que tem um McLaren F1 GTR e um Jaguar D-Type de 1955 na mesma garagem, é fácil falar.
Mas o carro vale muito para Mason – que só dá uma condição para o passeio com Brian Johnson: “Eu dirijo!”
E há um motivo até pessoal para que seja assim. Em 1987, quando Roger Waters abandonou o Pink Floyd e tentou tomar a banda para si, ficaram apenas David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright – que, para bancar a turnê do novo álbum, A Momentary Lapse or Reason, fizeram um empréstimo usando a GTO de Mason como garantia. Mason havia pago £ 35.000 pelo carro em 1978, quando ainda era só uma Ferrari velha. Hoje, ela vale £ 40 milhões, sem exagero. E Mason, do alto de seus 77 anos, não tem medo e colocar o V12 para berrar nas estradinhas ao redor de sua garagem.
Mas a GTO não é o único ponto que une o Pink Floyd, o álbum de 1987 e os carros de corrida.
Poucos anos depois, em 1991, Nick Mason e David Gilmour participaram da Carrera Panamericana, uma das mais emblemáticas provas de longa duração para carros de corrida clássicos. A prova foi disputada originalmente entre 1950 e 1954, no trecho de 3.300 km da Rodovia Panamericana que atravessa o México de norte a sul.
Foi em 1988 que os organizadores Pedro Dávila, Loyal Truesdale e Eduardo de León Camargo, todos envolvidos havia anos com corridas de carros e motos no México e nos EUA, decidiram trazer a Carrera Panamericana de volta, mas como uma corrida para carros antigos, todos fabricados até 1954. O trajeto de 3.200 km usava parte do traçado original, com trechos onde era possível atingir os 290 km/h.
A banda foi atraída pela ideia de viajar para a América e disputar uma corrida – e aproveitou para transformar sua participação em um filme: La Carrera Panamericana, lançado em 1992.
Os dois membros do Pink Floyd usaram carros iguais – dois Jaguar C-Type brancos com detalhes em azul, gaiola de proteção e freios melhores (o regulamento da Carrera Panamericana não permitia modificações mais radicais). O empresário do grupo, Steve O’Rourke, também participou da corrida como navegador de Gilmour – Mason, por sua vez, dividiu o carro com o piloto Valentine Lindsay. Nick já declarou que Richard Wright foi convidado, mas preferiu ir velejar.
O filme acompanha o trio em sua aventura pelo México ao som de músicas de A Momentary Lapse of Reason e também composições inéditas, feitas especialmente para o filme. Destas, destaca-se “Carrera Slow Blues” e “Pan Am Shuffle”, primeiras canções inéditas do Pink Floyd desde 1975 a trazer contribuições de Mason e Wright.
No terceiro dia da corrida, David Gilmour entrou em uma curva com muita vontade e acabou perdendo o controle do carro, próximo à cidade mexicana de San Luis Potosí. O guitarrista saiu praticamente ileso, mas O’Rourke quebrou as duas pernas. Nick Mason se deu melhor: acompanhado de um piloto profissional, seu carro foi o oitavo a cruzar a linha de chegada.
Quando chegou a hora de editar o filme, com as entrevistas nos bastidores , cenas da corrida e músicas, o acidente foi minimizado como um pequeno contratempo – uma decisão curiosa, já que sua inclusão poderia ter tornado a obra bem mais interessante. Afinal, a banda quase acabou ali mesmo.
La Carrera Panamericana costuma ser descrito como “dispensável” por fãs do Pink Floyd – um documentário de uma hora com seis músicas inéditas e imagens de uma corrida de carros antigos. Como se a banda tivesse tirado um tempo para participar de uma corrida e aproveitado para produzir um vídeo só por diversão. Tanto que a própria banda não se preocupou sequer em lançar o EP com a trilha sonora em formato físico, conforme planejado. O que se encontra em mídia física são apenas bootlegs (ou seja, material não-oficial, porém com certo grau de legitimidade).
Para quem curte automobilismo, porém, é uma ótima chance de ver automóveis que hoje têm quase 70 anos de vida acelerando tudo o que dá. E com uma trilha sonora bacana, porque Pink Floyd é bom até quando não é tão bom assim.
Por sorte, você não precisa se preocupar em encontrar o filme por aí. Dá para assistir tudo, na íntegra, bem aí embaixo.
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