Pinturas de corrida são extremamente populares entre os entusiastas no geral. Dificilmente você vai encontrar um cara que goste de carros e não tenha suas opiniões e preferências a respeito dos vários esquemas de cores que se tornaram famosos nas pistas.
Algumas destas pinturas tornam-se invariavelmente associadas aos carros que as vestiram. É o caso do azul-e-laranja da Gulf Oil, que em parte graças a sua aparição na carroceria do Ford GT40 que venceu as 24 Horas de Le Mans de 1968. O carro, de chassi nº P1075, pertencia à equipe de John Wyer, um dos engenheiros que participaram do desenvolvimento do protótipo, que em 1968 comprou alguns exemplares mais antigos, da temporada de 1966, e os modificou com motores small block mais potentes, de 4,9 litros e 430 cv, no lugar dos antigos V8 de 4,7 litros e 390 cv usados em 1965. Não era possível mais usar os big block de sete litros e 470 cv que garantiram as vitórias de 1966 e 1967 por causa de uma mudança no regulamento.
O GT40 P1075 venceu em 1968 com o mexicano Pedro Rodríguez e o belga Lucien Bianchi revezando no volante, e o nº 9 estampado na carroceria. No ano seguinte, desta vez usando o nº6, o GT40 da JW Automotive venceu novamente –agora com o britânico Jackie Oliver e outro belga, Jacky Ickx, dividindo o posto.
Ainda que para 1970 John Wyer tenha pressentido a obsolescência do Ford GT40 e migrado para o Porsche 917, que também tinha pintura da Gulf, o esquema de cores tornou-se praticamente um sinônimo de GT40. De fato é uma combinação intrigante, que junta duas cores que não deveriam harmonizar, mas harmonizam perfeitamente.
Tanto é que, entre as milhares de réplicas do Ford GT40 que já foram feitas em garagens e oficinas independentes de réplicas, muitas delas usam as cores da Gulf. E a própria Ford já embarcou nesta: quando o primeiro Ford GT foi lançado, em 2005, foi apresentada a versão Heritage Edition. Dos 4.038 exemplares fabricados entre 2005 e 2006, apenas 343 pertenciam à edição especial.
O Ford GT Heritage Edition era exatamente igual a qualquer outro Ford GT de primeira geração, com o mesmo visual retrô impecável, o mesmo V8 supercharged de 5,4 litros e 558 cv e os mesmos equipamentos. A diferença é que ele tinha uma pintura especial da Gulf Oil que realçava ainda mais a fidelidade do supercarro às linhas do original dos anos 60.
Com a atual geração, a fabricante tem se dedicado a soltar, uma vez por ano, uma edição especial em homenagem a uma de suas vitórias em Le Mans. Em 2016, um Ford GT preto com faixas brancas e rodas douradas homenageou os 50 anos da vitória em 1966…
Em 2017 foi a vez do carro vermelho-e-branco que venceu em 1967 ser o homenageado…
E, em 2018, foi a vez do vencedor de 1968. Não imaginamos o que a fabricante fará no ano que vem, quando for relembrar a vitória de 1969 – na qual o carro também venceu com as cores da Gulf, como já mencionamos há pouco.
Foi por causa do Ford GT que decidimos listar aqui outras vezes em que as fabricantes decidiram homenagear seus carros de competição mais lendários com pinturas especiais. Também incluímos algumas exceções – você vai saber quando for o caso. E esta é só a primeira parte!
Porsche 918 Weissach Package
Falando em Porsche e Le Mans: o 918 Spyder foi outro superesportivo que homenageou seu passado no automobilismo. O hipercarro híbrido, porém, não se inspirou pelo Porsche 917 da Gulf, e sim em outras duas pinturas de corrida históricas para a Porsche: o azul e vermelho da Martini Racing (e coincidentemente também do FlatOut), visto em carros como o Porsche 917 que venceu as 24 Horas de Le Mans em 1971…
… o Posche 936 que venceu a prova 1976 e 1977…
… e outros carros de corrida como o 911 Carrera RSR e o Porsche 935 do Grupo 5, conhecido como Moby Dick por causa de seu exagerado kit aerodinâmico.
Também havia a a pintura vermelha e branca da equipe Salzburg Racing, responsável pelo Porsche 917K que venceu as 24 Horas de Le Mans de 1970 – que foi a primeira conquista da Porsche em Le Mans, aliás.
Ambas as liveries eram adesivadas e disponíveis como opcionais para o kit Weissach Package, que consistia em rodas mais leves, mais fibra de carbono exposta, menos isolamento acústico e bancos revestidos com tecido à prova de chamas em vez de couro, resultando em uma redução de 40 kg no peso do carro – ou seja, de 1.674 kg para 1.634 kg. O motor é exatamente o mesmo V8 naturalmente aspirado de 608 cv, auxiliado pelos mesmos motores elétricos para entregar a mesma potência combinada de 899 cv. O Porsche 918 Spyder como Weissach Package é capaz de ir de zero a 100 km/h em 2,5 segundos.
Toyota GT86
O “Toyobaru” já tem seus sete anos de idade – foi lançado em 2011 – e, a essa altura, não faz mais sentido discutir se ele é um esportivo bacana ou não com seu motor boxer quatro-cilindros de 200-e-poucos cv, tração traseira e câmbio manual. Basta dizer que fazemos parte da galera que curte o GT86, e que por esta razão a homenagem que a Toyota fez a seu passado nas pistas usando o honesto esportivo é uma das nossas favoritas.
O carro em destaque é, naturalmente, o que homenageia a pintura da Castrol, que foi parceira da Toyota em suas conquistas com o Celica no WRC em 1990, 1992, 1993 e 1994; e em 1999 com o Corolla, também no Mundial de Rali.
Também houve outro carro de corrida da Toyota patrocinado pela Castrol: o Supra Mk4. É bem provável que você já tenha visto este carro em algum grupo de JDM na Internet, em vídeos japoneses da Best Motoring ou mesmo em todo Gran Turismo desde 1997.
Isto porque a Toyota correu com o Supra da Castrol no Campeonato Japonês de Turismo (JGTC) no fim dos anos 90, sob a batuta da TOM’S, que atuava como equipe de fábrica da Toyota na época. O carro disputou contra rivais do calibre do Nissan Skyline GT-R e do Porsche 911 GT1. O mais incrível é que o motor não era o icônico seis-em-linha biturbo 2JZ, mas sim um quatro-cilindros de dois litros e 16 válvulas turbinado muito semelhante ao do… Corolla WRC, preparado para render 480 cv.
Graças ao coração de carro de rali o TOM’S Supra foi superior a todos os rivais, conquistando o título da categoria GTC 500 no Super GT de 1997, com Pedro de la Rosa e Michael Krumm ao volante. O sucesso nas pistas refletiu-se em sua reputação no game, e desde então o carro se tornou um dos mais queridos dos fãs da série.
Os outros carros decorados usam cores que não possuem a mesma relevância fora do Japão – o que é uma pena, pois todos eles são notáveis por seus feitos. O carro amarelo e verde aí em cima, por exemplo, foi inspirado no 2000GT que, em outubro de 1966, percorreu o circuito de Yatabe, no Japão, por 72 horas consecutivas a uma velocidade média de 207,22 km/h. De acordo com a fabricante, na ocasião 13 recordes internacionais de velocidade e resistência foram quebrados pelo 2000GT. O esportivo, equipado com um seis-em-linha de dois litros e 150 cv na dianteira, é considerado um dos esportivos mais bonitos já feitos.
Nenhum dos carros foi pintado – as “pinturas” de corrida são adesivos. Todos eles receberam rodas Rota, com desenhos adequados o período do carro homenageado.
O GT86 vermelho, por exemplo, é um tributo ao Toyota Celica 1600GT que competiu no RAC Rally de 1972, no Reino Unido, e terminou a prova na nona posição. Ele foi o primeiro Toyota de corrida a não usar a tradicional pintura branca da fabricante.
O carro laranja é uma referência ao Toyota Supra Esso Ultron Tiger, que participou das temporadas de 1999 e 2000 do JGTC. Não foi um grande ano para o Supra, que teve como ponto alto uma volta mais rápida na etapa de Fuji Speedway em 1999, mas o esquema de cores imitando as listras de um tigre era legal demais. Como o Supra corria na categoria GT500, seu kit aerodinâmico era mais agressivo, com dianteira mais baixa para reduzir o arrasto aerodinâmico e traseira mais longa para aumentar a downforce.
E que tal um tributo à Shelby? Quer dizer, ao 2000GT da Shelby. Para provar a capacidade do 2000GT em solo norte-americano, a Toyota cedeu três exemplares a Carroll Shelby – dois para correr e um para ser o protótipo de testes. O motor ganhou um novo cabeçote com maior fluxo e teve a suspensão preparada com barras estabilizadoras e amortecedores Koni. Com isto, passou de 150 cv para 200 cv.
O carro participou do campeonato de turismo da SCCA e, ainda que tivesse menos potência que o Porsche 911, favorito e eventual campeão, ficou com o segundo lugar na competição em 1968, com os pilotos Scooter Patrick e Dave Jordan conquistando o segundo e o terceiro lugares, respectivamente.
Por fim, este GT86 homenageia o Toyota Celica IMSA GTU. O bólido, que foi um dos primeiros montados pela divisão norte-americana da TRD (Toyota Racing Developments), correu entre 1981 e 1985 no campeonato de turismo da International Motor Sports Association. Em 1985 ele foi o vice-campeão da temporada.
A estreia dos carros aconteceu no Goodwood Festival of Speed de 2015, e na época a Toyota já disse que aqueles seriam estritamente os únicos carros a receber a decoração temática.
Ferrari F12tdfDSKL
Apostamos que esta aqui é no mínimo inesperada. Não se trata de uma série especial, e sim de um exemplar único: uma F12tdf, gran tourer com motor V12 de 6,3 litros e 780 cv, cuja pintura é uma releitura da Ferrari 250 GT Lusso Competizione 1964. O carro, que pertence ao colecionador David Lee (que também possui seu galpão modelos como a 288 GTO, F40, F50, Enzo e LaFerrari), foi pintado de amarelo com uma faixa nas cores da bandeira italiana que percorre todo o seu comprimento.
Só fizeram 351 exemplares da Ferrari 250 GTO Lusso, e apenas três são da versão Competizione. O carro também pertence a David Lee, e nos anos 60 participou regularmente de provas de subida de montanha com seus proprietários – sendo que um deles foi o grande construtor de carrozzerias Piero Drogo.
Por mais que seja um one off, o carro – que foi batizado F12tdfDSKL – foi, de fato, customizado pela Ferrari depois da compra por David Lee. Então, de certa forma, é um tributo “oficial” – a Ferrari não recusaria um pedido especial de um de seus melhore e mais fiéis clientes, dono de uma frota que também inclui F40, F50, 288 GTO, Enzo e LaFerrari.