O que você faz quando é um milionário que adora supercarros e, de repente, é proibido de dirigir em vias públicas para sempre? Essa é fácil: você simplesmente constrói sua própria estrada!
Essa é exatamente a história de Dean Wills, um ex-executivo australiano da Coca-Cola. Até 1996, em todos os sábados e domingos ele e seus amigos donos de supercarros saíam para dirigir pela old Pacific Highway, um trecho de rodovia quase deserto e perfeito para acelerar esse tipo de máquina com gosto. Exceto em dias de chuva, quando eles se mantinham abaixo dos 60 km/h recomendados pela lei. Havia um ou outro excesso, mas a polícia local conhecia o hábito dos amigos e sabia que não havia risco nenhum em uma rodovia deserta. Os policiais até apareciam no local às vezes para conversar sobre os carros.
Só que um dia, eles foram denunciados por alguém a um posto policial de outra região próxima e quando Wills voltava para casa em sua Ferrari 512 M, ele ouviu o som de sirenes e as luzes piscantes em seu retrovisor. Como resultado de seu hooning, ele acabou com a licença de motorista cassada permanentemente.
Um fã incondicional de carros e esportivos foi condenado a viver em um mundo sem carros. Inicialmente Dean pensou em vender toda a sua coleção e nunca mais olhar para um carro novamente — algo perfeitamente compreensível diante de sua sentença. Mas então sua mulher entrou em cena: “se você não pode dirigir em estradas públicas, por que você não arruma sua própria estrada?”
A ideia parecia absurda inicialmente. Quanto custaria uma estrada? Uma pequena fortuna, certamente. Talvez ele pudesse comprar um trecho abandonado de alguma estrada pública, mas elas não estavam à venda. Então ele decidiu que a melhor solução seria construir sua própria estrada.
E assim ele fez: ele colocou uma bússola sobre o mapa de Sidney, centrado em sua casa, e traçou um circuito pelas estradas que costumava dirigir por uma hora, selecionando os melhores trechos.
Dean acabou encontrando três terrenos contíguos, que juntos somam 740.000 m² e lá construiu seu refúgio automotivo: uma pista de 5,1 km de extensão com sete metros de largura, como as estradas rurais de pista simples e mão dupla de todo o mundo, alternando uma boa combinação de 22 curvas de todos os tipos (de hairpins e curvas de alta) e duas retas relativamente longas.
A construção levou um ano para ser terminada e, embora tenha a descrição de uma pista de corridas, ele se recusa a considerá-la assim. Ela é sua estrada particular, com sinalização, divisão central de sentidos de trânsito e até mesmo placas com velocidades recomendadas. Nada de zebras, nem áreas de escape. Dean reconstruiu uma verdadeira estradinha rural para se divertir quando bem entender, sem problemas com a lei.
Além disso, ele nunca registrou tempos de volta. Ele só quer saber de se divertir com a família e amigos, como o falecido piloto Jack Brabham, que frequentava sua casa. Os tempos de volta nunca foram registrados e, segundo seu filho, as corridas duram enquanto Dean fica com o sorriso estampado no rosto.
Um dia ele decidiu fazer um salão perto da garagem para receber convidados. Depois o salão ganhou um quarto, e mais tarde uma sala, e depois uma cozinha e, quando se deu conta, Dean estava morando em sua pista.
Entre os carros que hoje moram na garagem de Dean, estão as Ferrari que você vê nas fotos que ilustram este post — uma California, uma Scuderia Spider 16M e uma 599GT — , além de um McLaren F1, um Jaguar E-Type V12.
Esta logicamente não é a primeira pista particular que conhecemos — só no Brasil temos três desse tipo que são publicamente conhecidos: o Autódromo da Capuava, o Velo Cittá e o da Fazenda Dimep — mas esta é, sem dúvida, a mais interessante delas devido à forma que foi criada: um motorista é banido das ruas e constroi seu paraíso de asfalto onde irá dirigir para sempre.
[ Fotos: Ferrari, AdelaideNow ]