Por mais de vinte anos a Volkswagen apostou todas as suas fichas nos motores boxer refrigerados a ar — dos primeiros protótipos do Fusca (ou Käfer) até a década de 1970, quando lançou o Passat. Sendo assim, não nos surpreendemos em saber que a maioria esmagadora dos projetos da VW ao longo daquelas quatro décadas fosse movida pelo flat-4. Mas que tal uma perua de seis lugares com o motor flat-6 do Porsche 911 pendurado na traseira? Sim, este carro existiu, foi feito em 1965 e se chamava EA 128.
Cinco anos antes, do outro lado do Atlântico, a Chevrolet lançava o Corvair, um carro revolucionário que remava na contramão das tendências automotivas americanas. Em vez de um carro grande, imponente, cheio de detalhes cromados, rabos de peixe e um V8 na dianteira, o Corvair era mais compacto, baixo e elegante, dotado de um flat-six com arrefecimento a ar na traseira, acoplado a um compacto transeixo automático.
A impressão passada pelo Corvair foi tão boa que a revista Motor Trend deu a ele o título de Carro do Ano em 1960 e, não fosse pelo infame livro Unsafe At Any Speed, publicado em 1965, talvez a indústria automotiva mundial fosse bem diferente. É claro que não dá para ter certeza, mas é possível que a VW tivesse levado adiante o projeto do EA 128 caso a publicação do advogado Ralph Nader não tivesse manchado para sempre a reputação do inovador Chevrolet.
Foi o Corvair que fez com que as fabricantes europeias, como a VW, percebessem que havia, sim, demanda por carros menores e mais eficientes nos EUA. O EA 128 poderia ter sido o Corvair killer da VW se não tivesse sido cancelado naquele mesmo 1965.
Mas de que se tratava, afinal? De um carro nos moldes do Corvair, só que maior — com 4,7 metros de comprimento, era mais de 15 cm mais longo que o Chevrolet e, provavelmente, mais largo. O carro levava seis pessoas e, pelas imagens do interior — como esta acima, publicada pela revista Volksworld —, com bastante espaço e conforto.
Havia também uma versão sedã que, sem surpresas, se parecia uma versão maior e mais quadrada do VW 1600 “Zé do Caixão”. O design dos dois carros não era muito diferente do que se via nos showrooms da Volks pelo mundo nos anos 1960 e 1970, porém com mais linhas retas — talvez para agradar mais aos americanos, público alvo previsto para o EA 128. A novidade ficava por conta dos componentes mecânicos: um carro maior e, certamente, mais pesado, pedia por um motor mais potente e freios melhores, algo de que a fabricante do carro do povo não dispunha.
Mas a Porsche, cuja história sempre esteve ligada intimamente à Volkswagen, tinha exatamente o que a companhia de Wolfsburg precisava — o flat-6 de dois litros que ocupava o cofre de um carro que havia sido lançado só dois anos antes: o 911.
Para o EA 128, a VW reduziu a potência do motor de 110 cv para 90 cv — provavelmente para preservar a imagem de esportivo do 911, que também emprestou o sistema de suspensão e os freios.
Embora o conjunto fosse promissor, a reviravolta na trajetória do Corvair assustou um pouco a VW diante da possibilidade de rejeição de um carro semelhante ao Corvair, ao mesmo tempo em que a fabricante decidiu que seria mais proveitoso continuar investindo na fabricação e desenvolvimento de seu modelo mais popular: o Fusca.
O conceito da perua EA 128 nos agrada bastante, e nos faz lembrar do fracasso comercial da Variant II que, apesar de ser um dos melhores VW da era da refrigeração a ar em termos de concepção mecânica, já era ultrapassada em relação a Ford Belina de primeira geração e durou pouco — de 1977 a 1980, quando foi aposentada para dar lugar à Parati. Se a Variant II fosse mais parecida com o EA 128, talvez esta história tivesse sido diferente.
[ Volksworld via / Sugestão de André Avancini ]