Sua reação à foto do trânsito aí de cima provavelmente foi a mesma de todo mundo sempre que uma imagem desse tipo aparece nas timelines das redes sociais. A forma varia, mas o conteúdo é sempre o mesmo: a variedade de cores no passado e o mar de cinza e branco e prata que domina as ruas atualmente.
Não é muito fácil explicar por que o público consumidor de automóveis abandonou as cores vibrantes para se concentrar no preto, no branco ou nas várias proporções destas duas não-cores que formam os tons de cinza. O que podemos descobrir, é quando o mundo decidiu abandonar a beleza das cores em favor destes tons neutros, que combinam mais com o asfalto do que com nossas personalidades.
Isso porque o pessoal da Axalta, uma das principais fornecedoras de tintas da indústria automobilística, foi além daqueles relatórios anuais de cores mais populares mundo afora, e divulgou neste início de mês uma tabela com as cores mais populares em todo o mundo dos últimos 65 anos.
Sim, eles têm a classificação das cores mais populares desde 1953 na América do Norte, desde 1973 na Ásia, desde 1980 na Europa e desde 2000 na América do Sul. E ela nos leva a algumas conclusões. Veja só:
A “neutralização” das cores é uma tendência global
Do início dos anos 1950 até meados da década de 1990, os tons de azul, vermelho e verde eram predominantes sobre os tons neutros em praticamente todo o mundo. Foi a partir da virada do milênio que os tons neutros — cinza, prata, preto e branco — começaram a ganhar mais espaço até se tornarem a preferência mundial. Mesmo na Ásia, onde o cinza/prata e branco sempre foram as mais populares, o top 5 era composto por tons mais vivos.
Atualmente as cores mais populares são as mesmas em todos os continentes: branco, preto, prata, cinza e vermelho.
Os norte-americanos tinham uma queda inexplicável por marrom e bege
Na psicologia das cores, o marrom remete à maturidade, solidez, conforto e robustez. São características desejáveis em um carro e talvez por isso a cor esteve entre as preferidas dos norte-americanos em 34 anos — entre 1959 e 1987, 1953, 1954, 1992, e de 1996 a 1998. Em oito destes 34 anos ela foi a mais popular daquele mercado; imagine só um trânsito predominantemente marrom. Os asiáticos também curtiam as variações de marrom, mas a moda por lá foi passageira: os tons castanhos só foram populares por 11 anos, entre 1973 e 1984.
Os asiáticos sempre preferiram prata ou branco
Cinza, preto e branco, como você vê na foto acima
Os tons de cinza/prata e branco é que não foram uma moda passageira na Ásia. Desde 1973, quando o relatório começou a ser feito na região, eles foram os preferidos pelo público local. A explicação pode ter a ver com a imagem do automóvel como algo tecnológico e sofisticado, que são algumas das associações feitas aos tons de cinza pela psicologia das cores. Já o branco, embora seja a cor do luto e da morte na Ásia, também é relacionado à pureza e é uma das cores tradicionais do Japão, sendo usada como cor nacional de seus carros de corrida.
Amarelo é coisa do passado
O amarelo já esteve entre as cores mais vendidas em todo o mundo durante os anos 1970, mas desde 1981 ela não aparece nos top 5 regionais. No Brasil ela foi relativamente popular nessa mesma época, mas depois disso foi usada somente nos esportivos e em carros de serviço.
Os muscle cars colocaram o laranja no top 5 de 1971
Os tons de laranja/cobre nunca foram dos mais populares em automóveis — nem esportivos, nem carros de serviço (Telesp?) —, mas ela chegou a entrar no Top 5 de 1971 graças aos muscle cars. A Pontiac oferecia o Orbit Orange, a AMC tinha o Mustard Yellow, a Ford tinha o Medium Yellow Gold, a GM o Mesa Sand e a Mopar o Bahama Yellow e o Tunisian Tan.
Os europeus não abrem mão do azul e do vermelho
Quando o relatório da Axalta passou a incluir a Europa, em 1980, as cores mais populares no Velho Mundo eram vermelho, verde, amarelo, prata e branco. No ano seguinte o branco deu lugar ao azul, e ele nunca mais saiu da preferência dos europeus. Atualmente as cores mais populares da Europa são o branco, prata, cinza, preto, vermelho como em todo o mundo, mais o azul que continua firme no gosto europeu.
A América do Sul é mesmo um mar monocromático de carros
Sabe aquela impressão de que todo carro é branco, preto ou uma mistura destas duas cores em diversas proporções? Pois então… essa é uma tendência iniciada no início deste século e que se consolidou de forma que estas cores continuam no top 5 até hoje. O fato de serem neutras ajuda na hora da revenda, que é algo que os sul-americanos levam muito em consideração, dado que os carros são mais caros por aqui. Já as cores lisas (preto, branco e vermelho) acabam sendo mais baratas, mantendo o preço do carro o mais baixo possível.