Nunca antes na história deste país se viu tantos recalls como em 2013 e 2014. No ano passado foram nada menos que 72 convocações de fabricantes para reparar defeitos crônicos de fabricação — um aumento de 62% em relação a 2012 —, e somente nas últimas duas semanas vimos Fiat, GM, Ford e Land Rover chamarem seus clientes às concessionárias para arrumar algo que saiu errado.
Os motivos são os mais variados, e podem ir desde uma peça de acabamento afixada do jeito errado, a problemas que podem custar a vida de pessoas. Contudo, alguns casos podem ser bem estranhos e quase banais. Por isso decidimos reunir aqui os recalls mais bizarros dos últimos anos na indústria automotiva. Confira a lista!
Esquerdando
No fim de 2013 a Honda dos EUA convocou todos os proprietários da minivan Odyssey para reparo de um defeito de fabricação em seus carros. O problema? O logotipo com o nome da minivan estava colado no lado direito em vez de estar no lado esquerdo.
Embora pareça insignificante, a fabricante chamou os proprietários para reparar o erro pois a posição errada do logotipo poderia levar alguém a pensar que o carro foi batido e reparado. Faz sentido, não?
Recall VIP
Geralmente os recalls são realizados quando a fabricante descobre um erro repetido seguidamente em dezenas, centenas ou até milhares de unidades. Mas houve ao menos dois casos registrados em que o recall envolveu apenas um mísero veículo.
O primeiro deles foi no Brasil, em 2008, quando a Volvo convocou um recall mundial para substituição da mangueira da caixa de direção do C30 2.4 produzido na segunda metade daquele ano. Acontece que dos modelos envolvidos, somente uma unidade havia sido vendida no Brasil.
Mas não pense você que bastou a autorizada telefonar para o cliente e informá-lo do problema. Segundo a lei brasileira, o recall precisa ser divulgado publicamente, e foi exatamente isso o que a Volvo fez por aqui: uma campanha nacional para convocar um único veículo que foi localizado pela própria fábrica e reparado.
Outro caso de recall exclusivo foi feito pela Koenigsegg no começo deste mês de setembro. Um único Agera foi chamado pela fábrica devido a uma falha no sistema de monitoramento de pressão dos pneus, que recebeu um novo software e voltou a funcionar corretamente.
Freio auxiliar
Hoje em dia temos vários sistemas auxiliares de frenagem que ajudam a parar o carro em situações de emergência. Um deles envia pressão total para o sistema hidráulico mesmo se o motorista não pisar no pedal com força, outro pré-ativa as pinças sempre que o motorista solta o acelerador rapidamente, mas a menos que você dirija um carro de auto escola, nenhum carro vem com sistema de frenagem ativada pelo passageiro.
Quer dizer… quase nenhum, pois o Citroën C3 Picasso vendido na Inglaterra em 2011 tinha essa capacidade peculiar. Quando o passageiro pisava com força no assoalho, os freios eram acionados. O caso foi descoberto pela BBC () depois de reclamações de uma companhia de limpeza que observou o problema em seus três carros. Como resultado, 20.000 unidades foram convocadas para reparo do defeito. Mas como isso aconteceu? Simples: a Citroën na hora de converter os carros para a mão direita inglesa, não trocou o lado do sistema de freios (o sistema de cilindro mestre e hidrovácuo fica sempre no lado da direção), usando somente um mecanismo para instalar o pedal na direita. Assim, ao pisar com força no chão, o passageiro pressionava as linhas hidráulica que pressurizavam o sistema e acionavam as pinças.
O fora-da-lei
No Brasil você não pode homologar um carro que não tenha cintos de segurança de três pontos no banco traseiro, mas os importadores responsáveis pela marca Effa no Brasil parecem ter esquecido disso e venderam alguns exemplares do M100 com cintos sub-abdominais na traseira.
Como ninguém sabia quantos carros com essa configuração foram vendidos, o jeito foi chamar os 900 carro importados e procurar o problema em cada um deles.
Acelerar é preciso, frear não é preciso
“If in doubt, flat out!”, já dizia Colin McRae. Infelizmente, no mundo real do trânsito nas cidades o melhor a fazer em caso de dúvida é mesmo frear. Só que você não conseguiria fazer isso se estivesse em um dos pouco mais de 4.000 Chevrolet Sonic vendidos no fim de 2011 nos EUA.
Isso por que alguém (ou “alguéns”) esqueceu de um “pequeno detalhe” na hora da fabricação do hatch: as pastilhas de freio. O mais bizarro aqui não é apenas o carro ter saído de fábrica sem pastilhas, mas como ele foi transportado, inspecionado pela loja e entregue ao cliente sem que ninguém tenha percebido que o carro freava mal ou soava como um esmeril ao frear.
Aracnofobia
Se você não curte muito aranhas, depois de ler estes dois casos o negócio vai ficar ainda pior. No fim de 2013 a Toyota convocou 885.000 carros para reparos devido à formação de teias de aranha nos condensadores do ar-condicionado. As armadilhas dos bichanos bloqueavam a tubulação de drenagem, que por sua vez causava vazamento de água no módulo de controle do airbag, fazendo com que eles não abrissem ou, pior, estourassem subitamente.
Meses depois foi a vez da Mazda anunciar a convocação de 42.000 exemplares do Mazda 6 construídos entre 2010 e 2012 e equipados com o motor 2.5 de quatro cilindros. Eles descobriram que os hidrocarbonetos no respiro do tanque de combustível atraíam aranhas, e elas construíam teias que causavam pressão negativa no tanque, podendo causar fissuras no recipiente ou até mesmo incêndios.
Orgulho de ser hétero
No aeroporto, no metrô, no iPhone e no Google Tradutor as vozes automatizadas são sempre femininas. É bem provável que no seu GPS também, o que é bem agradável, visto que as vozes masculinas são usadas para as gravações idiotas do call center da TV por assinatura.
Só que essa voz feminina causou um enorme recall dos modelos da Série 5 da BMW. Milhares de proprietários reclamaram para a fabricante sobre a voz dos comandos do GPS por que eles simplesmente não aceitavam receber ordens de direção de uma mulher. A BMW até tentou explicar que o sistema fora projetado por homens, e que a voz feminina é mais agradável, mas os clientes foram irredutíveis e a BMW teve que convocar os modelos para inserir vozes masculinas nos sistemas dos carros.
Partida automática por gravidade
Boa parte dos carros têm sistema de partida por botão, com chave presencial, outros ainda apelam para a boa e velha chave, e já há sistemas mais avançados que permitem ligar o carro pelo relógio (Aston Martin) e pelo celular (Renault). Mas você já viu algum carro dar a partida por “gravidade”?
Pois é… os modelos Legacy, Outback, Impreza e XV produzidos entre 2010 e 2013 podiam ser ligados se você derrubasse o controle remoto do carro no chão. E para piorar, o carro não desligava enquanto não acabasse a gasolina ou a bateria do controle.
Foram mais de 47.000 unidades afetadas, todas equipadas com o sistema Audiovox de partida remota. Ao cair no chão, o controle poderia transmitir o comando de partida sem que fosse necessário pressionar o botão.
Churrascaria Maranello
Este é o caso que começou toda uma polêmica e, por isso, vamos falar sério a respeito do assunto. Como todos nós sabemos, supercarros foram feitos para serem acelerados em estradas vazias ou autódromos. Para produzir potência os motores também produzem calor, e quando você coloca um supercarro no trânsito intenso da cidade — aquele que fazia os Opala seis-cilindros ferverem — eles superaquecem, e muito, se você não fizer o ar fluir pelos radiadores do carro e, em situações extremas, eles pegam fogo. Todos eles.
Mas o que aconteceu com as Ferrari 458 Italia na época do seu lançamento não foi somente descuido dos proprietários. Foram vários incêndios que começavam subitamente e consumiam o carro inteiro. O motivo? O painel de isolamento da caixa de roda traseira era afixado com um tipo de cola que se inflamava com o calor. Foram ao menos 10 incêndios antes de a fabricante começar a afixar o painel com rebites.
O Colecionador de Ossos
Em 2008 começaram a surgir casos de proprietários do Volkswagen Fox que perderam a ponta dos dedos ao tentar rebater o banco traseiro. Ao menos oito pessoas sofreram a mutilação antes da Volkswagen admitir que o sistema poderia ser realmente perigoso e convocar todas as 511.116 unidades do Fox vendidas até então para modificar o sistema e incluir etiquetas de alerta para a operação. Os oito proprietários que perderam a ponta dos dedos receberam indenizações que variaram entre R$ 65.000 e R$ 90.000.