Olá, Flatouters. Aqui estamos de novo com mais uma postagem do PC #301. Pra quem perdeu (leia aqui), eu falei sobre minha procura de um Clio fase 1 esportivo e a restauração (parte dela). Eu contei um pouco de como foi a procura pelo carrinho (justamente no ano em que ele está debutando). Nesse meio tempo foi postado essa matéria do Flatout que conta a época em que “vidros verdes” e encosto de cabeça eram adicionais (imagine o quanto Clio Si era um luxo). Dessa vez teremos um pouco mais de R.S. e menos de Clio original. Lembrando que as postagens seguem uma história, então podem segurar a onda que vem mais por aí.
Pequenos upgrades: Bateria
Na busca de upgrades que me saíssem barato ou com custo próximo de zero, eu comecei a mover a bateria para o porta-malas (pra que? pra jogar peso atrás e tirar da frente). Foi relativamente tranquilo, meu pai trabalha com elétrica residencial, então arranjei um cabo 25mm que passou pelo buraco da embreagem (se estiver pensando em fazer isso use cabos mais grossos). Não que este cabo não funcione, mas quando estamos falando de 12v o comprimento de um cabo passar ter uma resistência muito mais considerável.
Fiz um terminal olhal que ficou preso no cinto de segurança traseiro para aterramento. Por sorte ainda removi uma grande parte de suportes de metal onde ficam a bateria na dianteira do carro (weight reduction!?). No porta-malas eu usei uma caixa naútica de bateria, presa com parafuso auto atarraxante no assoalho do carro. Essa mudança não me custou nem 100 reais de materiais. Por sorte não furei o tanque, viva!
Rodas
Como eu já tinha dito anteriormente, as rodas bicolor originais nunca me agradaram. Além disso eu precisava fazer alguma coisa pra desincentivar os furtos das calotas. Foi por isso que eu resolvi pintar as rodas! testei varias cores no computador, mas as que eu achei que mais combinavam eram preto brilhante. Eu fiquei um tempo indeciso. Pinto elas ou não… até que com lixa na mão, eu dei a primeira lixada. Era um caminho sem volta.
Retirei elas do carro e segui o protocolo: lixa, primer, cor e verniz. Um trabalho enorme, mas tranquilo.
E ficou muito bom, prata com detalhes preto deu muito contraste e ficou bem bacana.
Pequenos reparos: Pneus
Aqueles pneus do último trackday esfarelando precisava ser trocado urgente. Foi então que eu achei uma promoção de 4 Dunlop Sport LM704. Foi o mais barato que achei e ainda era um pneu bom. Por sorte ainda subiu 1 cm de altura do carro e meu escape não pega mais na garagem da minha casa. É claro que eu quero um Yokohama A048, mas querer, além de não ser poder, é a derrocada do planejamento.
Isso não são espaçadores 180 mm
Saias
Com passar desse projeto várias pessoas foram contribuindo e volte meia fui presenteado com algumas coisas, entre elas:
-> Ganhei um radio original (presente do Match – Renault Clube), cuja instalação está em fase de peleja técnica.
-> Ganhei um emblema Sport (original do Renault Sport) de um colega de trabalho.
-> Ganhei um par de saias laterais do meu amigo Fernando do Clio Clube Curitiba
Esse par de saias era aqueles universais que você serra e cola um acabamento na ponta. Como meu carro é prata, e não tenho pretensão de comprar saias originais (menos ainda do RS). Esta me serve, só precisava deixá-las na cor do carro. Pintei elas com um daqueles pequenos pulverizador de tinta (que não tem cilindro pra dar pressão, só um motor). Eu fiquei em dúvida por um período se aquilo serviria pra tinta poliéster. A tinta precisa estar numa viscosidade específica (junto com ele tem um medidor da viscosidade), só diluir que não tem problema. Mas o verniz é um problema, porque não tem como diluir e é bem fino.
Como no mundo do tuning todo carro é escocês. E não é que ficou bom!? nem parece uma saia universal.
Clio R.S.
Quase que desde as fases inciais desse projeto eu comecei a me apaixonar por este modelo Clio R.S. Além de motor 2.0 de 172 cavalos (seria o bloco F4R com comandos mais esportivos e coletores maiores conhecido como F4R730). É uma evolução, de 1998, do Clio Williams lançado lá em 1993. Ele tem uma frente muito mais invocada com para-choque e para-lamas largos, saias laterais, 2 portas, rodas OZ F1 aro 15, suspensão preparada, e interior mais esportivo. Infelizmente ele nunca esteve presente em terras brasileiras (sendo possível encontrar na Argentina, França, Espanha, Reino Unido, Alemanha…).
O coletor de alumínio dá um visual incrível ao motor, e pode-se encontrar em ferro velho gringo por preços bem baixos.
Barato, abundante e fantástico. Foi então que eu caí na armadilha e comprei um coletor 172 pelo Ebay, que me custou 6 libras (mais 100 libras de frete) na época a cotação estava em 3,5 R$. Eu nunca vi a cor deste pois a Receita Federal do Brasil me taxou arbitrariamente em 1.200 reais, motivo pelo qual eu desisti dele (Você não recorreu? Sim, a multa baixou 50 reais).
Para-choque R.S.
Depois de ter tomado na cabeça com o coletor eu não estava disposto a perder mais nada pra fiscais oportunistas. Eu comecei a amadurecer a ideia de fazer um bodykit Clio RS com o que eu podia encontrar por aqui. Vou fazer um breve adendo aqui a produção de parachoques para carros produzidos em série. Os moldes das injetoras de plástico são gigantes blocos de alumínio que custam uma fábula, até para os fabricantes. Por isso que todo facelift com “novo Clio”, “new Punto”, os parachoques ficam mais “bolhudos”. É mais barato usinar o molde em cima do antigo.
Quando se trata de uma série específica como Clio V6, com produção de poucas unidades, não vale a pena fazer a peça em plástico. Motivo pelo qual o Clio V6 é todo de fibra de vidro! Quando estamos falando de um Clio RS o seu parachoque é composto por 5 peças menores de plástico que são encaixadas umas as outras (com furos dos parafusos em lugares diferentes). Aquele parachoque único que você vê nas fotos são 3 peças rasas (com a maior delas sendo a grade da frente) compostas. Fora o fato dos paralamas de todos os Clios serem diferentes exclusivamente no Brasil.
Porque os para-lamas dos Clio fase 1 são diferentes somente no Brasil, entre tantos mercados? Veja que nessa lista Clios vendidos no Brasil, mas produzidos na Argentina, são diferentes dos vendidos na Argentina e produzidos lá. Talvez os ufólogos da série “Alienígenas do Passado” consigam responder esse mistério.
Foi então que eu comecei a ver empresas que aceitassem replicar um parachoque do Clio RS só com base nas fotos. E eu achei uma empresa que faz peças de fibra de carbono e de vidro (para carros super esportivos) e o custo de fazer um molde era 4 mil reais e mais mil por peça replicada (calma, lembra que eu falei que com dinheiro não tem graça?) é óbvio que não paguei isso. Eu entrei em contato com a Personal Parts (aqueles que fizeram outrora aerofólios “tuning”) e foi uma longa troca de emails até que eles topassem aceitar esse projeto.
De início eu precisaria de produzir 8 peças pra eles fazerem o molde. Achar oito compradores não é nada fácil em se tratando de Clio Fase 1 (justamente aqueles donos que não tem dinheiro pra um fase 2). Foi uma busca intensa pelas redes sociais, fóruns e afins e não foi nada fácil porque nem eu sabia como iria ficar. Quando consegui 6 compradores já começamos os trabalhos. Eu comprei um parachoque original de um Clio fase 1 que serviu de base. Juntei centenas de fotos em todos os ângulos e proximidades e isso assustou muito a área criativa da Personal Parts que nunca tinha visto tanto detalhe numa peça.
Então eles começaram a fazer um parachoque novo em gesso e desbastando no esmeril. Esse processo demorou quase 1 mês quando eles me pediram pra levar o carro pra lá para acertar os “detalhes”. Eu marquei a viagem, e fiquei com bastante receio na estrada (lembra daqueles pneus esfarelando?), e maus bocados com GPS me trollando na cidade de São Paulo. Quando eu cheguei lá, havia alguns problemas no molde. Essa peça tem vários truques de design que ninguém é capaz de notar só olhando de frente (o “book” de fotos não tinha sido tão seguido).
O trabalho criativo deles (apesar de estar se modificando recentemente) ainda é essencialmente inspirado pelo estilo “velozes e furiosos” (pode confessar que você também já gostou, todo mundo gostava). Porém essa peça era diferente: possui vincos em linhas, recortes retos, não tem spoilers… Tivemos uma breve conversa e apontamos juntos os detalhes, deixei o carro lá, e voltei de ônibus. O que era pra ser um dia, se tornou mais de um mês, com longas rodadas de “refaça isso e aquilo”. Finalmente demos a aprovação final pra começarmos a replicação.
Quando a primeira peça ficou pronta foi um alvoroço. Todos estavam esperando por vários meses e tivemos uma visão de como tinha ficado (mesmo que na cor vinílica). Teve até um comprador tão afoito que não quis esperar eu buscar, pagou o frete e recebeu em três dias sua peça. O que de certa forma foi legal, porque ele montou o dele em uma semana.
Então todo mundo começou a cair na realidade. Fibra de vidro é relativamente pesado e pouco moldável, pintar e montar custaria um tanto a mais que ninguém esperava. Como o encontro nacional da Renault (que nunca ocorreu) estava chegando eu resolvi eu mesmo pintar o parachoque e montá-lo. Tinha tudo pra ser legal um encontro nacional na fábrica da Renault e eu queria estar lá.
Seguindo o exemplo das saias usei um daqueles pulverizadores. Antes de começar eu fiz uma experiência: pintei um capacete barato com o desenho do Senna na Lotus (John Player Special). Inspirado na ideia do meu amigo Fernando que fez preto com dourado, eu fiz dourado com preto (o meu ficou legalzinho, o dele é sensacional).
Depois dos capacetes, foi um trabalho gigante lixar tudo na mão, aplicar o primer, lixar de novo… fora que pintar uma peça pequena era moleza, pintar o para-choque com uma ferramenta meia boca foi dificílimo.
Na hora de instalar (que eu tirei a peça do ático) posso dizer que deu errado. As fotos parecem bom, mas o acabamento de perto ficou fosco e sujo. Pra piorar a Renault cancelou o encontro por “corte de custos” (que mancada da Renault!)
Primeiro upgrade mecânico significativo: caixa curta
Olhe bem a foto e vai ver um Clio laranja, aquele é um F4R de corrida: câmbio curto, peso aliviado, motor forjado… é um carro dos mais forte que frequentam o AIC. O dono desse carro é o dono do maior ferro velho especializado em Renault e PSA da região: Biroska. Descobri consultando outros que os eixos piloto e intermediário da caixa de velocidades podiam ser trocados por quase qualquer outro da linha Renault acionado por varão.
Isso inclui: a caixa da Scenic F4R (seria a mesma do Clio RS com quase a mesma relação do 1.6, e um pouco mais reforçada), a caixa do Kangoo (um teco mais curta), a caixa dos K7M e dos Renaults antigos, e a caixa do Clio 1.0. Ao conversar com o dono daquele Clio, ele me falou que podia vender uma caixa (carcaça do 1.6 e miolo do 1.0). Na semana seguinte do trackday eu apareci por lá, deixei a minha caixa e peguei uma curta (já que velocidade final não é o objetivo). O mecânico dele tentou me colocar dúvidas. Falou que o SI tinha um diferencial reforçado que não valia a pena tirar e que ficaria muito curto.
Como vocês podem ver, esta caixa é em média 25% mais curta
Quando a troca terminou não faltou amigos querendo saber como ficou. Ao contrário do temor inicial, a caixa curta era fantástica pra andar na cidade. Quem pegava o carro pra testar eu sempre recomendava estique a primeira e vá até a terceira. A reação natural é dar risada com a resposta, a potência vinha imediata sem esperar a “esticada”. A primeira ficou super curta e todas as marchas ficaram próximas. Quem já andou de moto esportiva (muita rotação e torque zero em baixa) sabe do que falo: é a mesma pegada. É claro que a sensação é muito diferente do resultado. Quando se arranca mais forte, o carro está de deslocando menos pra frente exigindo mais trocas. De forma geral o carro ficou mais arisco, respondendo bem em qualquer pisada ao acelerador. Se a Renault queria lançar uma versão esportiva de verdade, deveria ter seguido essa receita caseira.
Segundo Trackday: O Dilúvio
Depois de tantas arrumações queria voltar a pista. Estava curioso pra saber o resultado dos upgrades: pneus, câmbio, estrear o para-choque e as pequenas melhorias. Quando cheguei lá pouco antes do meio dia, logo vi um Tiida sendo retirado com barro até o teto e lateral pouco amassada. Dessa vez a vistoria era sem segredos com pneus novos, só logo fui avisado: “Hoje ta só pra passear. Está chovendo forte dia inteiro e a pista está alagada e todos os carros estão saindo”. Logo que entrei pensei, hoje não ta pra medir tempo e vou andar bem tranquilo.
Corri por uma hora debaixo de muita chuva, e não rodei, mas tive que segurar o carro umas horas. O ABS era acionado vários momentos na freada antes da curva, nesse quesito ignoro a “esportividade”, eu dei graças por ser assim. Assim que fui pegando ritmo a chuva continuava forte e achei que era hora de esperar.
Quem parava pra olhar o carro olhava bem de perto o para-choque logo torcia o nariz, mas educadamente não queria falar nada. É claro que os amigos não poupam zueiras: trabalho ArtesAnal, pintado de canetinha, pintura do jardim de infância, etc… até adotei alguma destas descrições para ficar mais fácil de explicar.
No final do dia a chuva passou e a pista foi secando, então entrei junto com outros Clios pra ter uma ideia de comparação. Com pneus 185, filtro de ar e escape original eu sofria pra andar junto com outros carros bem mais preparados. A caixa curta ajudava, mas muito menos que o esperado num circuito tão grande como AIC. Por sorte ainda estava longe de dar final na quinta (que deve ter reduzido uns 20km/h da velocidade final), mas agora eu chegava a engatar a quinta.
Au Revoir
Por sorte ou azar de vocês, esse projeto está na lista dos quase concluídos. Como faltava uns 20% no começo.. agora deve faltar menos e tem sempre aquele 1% vagabundo, vou ter que escrever cinco postagens (mais três). Acreditem que pra mim o mais difícil é escolher o que contar e as fotos que postar. Já na próxima postagem chegaremos visualmente um pouco a mais do que os comedores de crossaint chamariam de “Cliô arrr éss”. Então fiquem de olho. Abraços.
Por Alexandre Muller, Project Cars #301