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Técnica

Respondemos tudo o que você queria saber sobre gasolina e etanol

Há algum tempo nós viemos observando várias perguntas nos comentários. Sempre respondemos prontamente, mas não seria legal reuni-las por assunto e apresentar as respostas num post próprio? Então é isso que vamos fazer aqui.

Como se dizia antigamente, vamos às cartas dos leitores! Começamos com um assunto relativamente simples, mas que ainda causa muitas dúvidas pra galera, principalmente os padawans. Que tal falarmos de combustíveis?

 

Afinal, do que é feita a gasolina?

SucoDeDinossauro

De suco de dinossauro! Próxima pergunta!

Brincadeira: a gasolina é resultado da destilação do petróleo e por isso ela acaba sendo um combinado de vários hidrocarbonetos (moléculas de hidrogênio e carbono combinados em cadeias, você deve ter visto isso lá na química orgânica). Esse mix faz as frações mais leves evaporarem em temperaturas mais baixas. Por isso carros a gasolina têm menos dificuldade de partida em dias mais frios. Abaixo temos uma tabela de composição normalmente encontrada na gasolina.

tabela I

 

Posso produzir gasolina no Brasil?

Sim, pode. A Petrobras manteve o monopólio de exploração e refinamento da gasolina até 1997. Desde então qualquer empresa pode explorar, refinar ou distribuir gasolina no país. Além da Petrobras o refino também é feito pela Ipiranga em uma única refinaria (que foi adquirida pela Braskem, Petrobras e Ultrapar em 2007) e pela refinaria de Manguinhos — a única privada do Brasil.

Já a exploração é feita por várias empresas desde a quebra do monopólio, uma delas foi a OGX de Eike Batista. A Shell também opera 80% de dois campos de extração de petróleo, além de manter parcerias com a Petrobras na exploração do pré-sal.

Os motivos principais de não haver refino por outras empresas são os altos custos de aquisição, construção e demais estruturas necessárias para a operação. Além disso, nossa legislação ambiental e as características do nosso mercado favorecem a distribuição.

 

O que é gasolina formulada?

Foto IV

Resumidamente a gasolina formulada é um “resto de gasolina”. São as sobras não utilizadas pelas distribuidoras dentro do prazo de validade estabelecido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Todo combustível deve se enquadrar em determinados parâmetros de impurezas, octanagem, coloração etc. Com o tempo a gasolina perde principalmente as suas características de octanagem pois as frações mais leves evaporam e com isso reduzem o índice antidetonante (IAD).

A gasolina formulada é uma forma de “reenquadrar” esta gasolina para que este resíduo não seja perdido. A ANP autoriza esta espécie de “reciclagem” por meio de adição de aditivos e etanol para que ela volte a ter suas propriedades iniciais.

 

Então gasolina tem prazo de validade?

Sim. Em três meses a gasolina começa a perder suas propriedades.

 

A gasolina formulada tem qualidade inferior? Ela pode danificar o motor do meu carro?

Sim, por ser feita de sobras a gasolina formulada tem qualidade inferior — por este motivo ela é mais barata que a gasolina comum. Tecnicamente a gasolina formulada não causa danos ao motor do carro.

 

Por que a gasolina brasileira tem álcool?

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O petróleo é nosso… e se eu quiser misturar álcool, eu misturo

Porque lá atrás, quando nossos avós ainda eram moleques (ou nem tinham nascido) determinou a adição de 5% de álcool anidro à gasolina.  Curiosamente, esta adição de álcool anidro à gasolina não tinha nada a ver com o aumento da resistência à detonação (aumento da octanagem). Naquela época usava-se o chumbo tetraetila para esse fim. A adição do álcool anidro foi decretada por Getúlio Vargas por uma série de fatores relacionados à demanda por gasolina e ao estímulo da indústria sucroalcooleira.

Mais tarde, quando se descobriu os efeitos nocivos do chumbo tetraetila, passamos a usar o álcool anidro como aditivo para aumentar a octanagem da gasolina. De lá pra cá não paramos mais, os índices atuais são de 27% para a gasolina comum e 25% para a gasolina premium e foram determinados em março de 2015. Falamos mais sobre esse assunto aqui.

 

O que acontece se eu tirar o álcool da gasolina e usá-la pura?

Você perde octanagem e boa parte dos aditivos. Sem o etanol a gasolina fica com IAD próximo de 84. Embora a pureza da gasolina dê impressão de uma melhora no rendimento do motor, com a redução da octanagem aumenta o risco de detonação da mistura antes do momento de ignição, o que causa a chamada “batida de pino”. Essa condição por período prolongado pode danificar o motor pelo aumento da temperatura nos cilindros.

 

Que tipo de aditivo se usa para aumentar a octanagem no exterior?

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Os aditivos são acrescentados pelas distribuidoras de combustível, da mesma forma que acontece no Brasil com as gasolinas premium. E por esse motivo sempre há muito segredo sobre o pó de pirlimpimpim adicionado. Existem octane boosters no mercado, como há por aqui também. Mas estes sofrem do mesmo problema da falta de controle na diluição. Por isso você nunca vai saber ao certo quanto aditivo é necessário para que a gasolina no seu tanque ganhe um índice X ou Y.

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Mas não se engane: o etanol está se tornando um aditivo também fora do Brasil. Observe na imagem acima os valores adicionados à gasolina para o aumento da sua octanagem .

 

As gasolinas de alta octanagem aumentam a potência/economia?

Não. O poder calorífico da gasolina é o mesmo na gasolina comum e na premium. O que muda é a octanagem — a comum tem pelo menos 87 e as premium ao menos 91 — e isso faz com que elas tenham maior resistência à detonação. Por isso elas são indicadas para motores com maior taxa de compressão, como os atuais downsized e outros motores de maior desempenho. Caso você use esse tipo de combustível num motor com menor taxa de compressão não haverá nenhum ganho.

Já o contrário — usar gasolina comum em motores com alta taxa de compressão (12:1 ou mais) — traz riscos ao motor. Para entender melhor a taxa de compressão e octanagem, eu indico essa leitura aqui.  Para não causar confusão, as gasolinas consideradas premium são aquelas que possuem um IAD maior que 91. Atualmente no Brasil há três distribuidores de gasolina premium: a Ipiranga, que tem a Premium de IAD 91; a Shell, que oferece a V-Power Racing, também com IAD 91; e a Petrobrás, que tem a Pódium com IAD 95.

 

O que é a gasolina aditivada?

Respondendo de forma bem simples, a gasolina aditivada é basicamente a gasolina comum que recebe aditivos para a melhor manutenção do sistema de combustível.

 

Para que servem esses aditivos?

Os aditivos normalmente são detergentes e dispersantes, eles visam à dissolução e limpeza dos resíduos sólidos que não são retidos pelos filtros e acabam se depositando nos bicos, dutos e válvulas. Mais recentemente os fabricantes passaram a incluir aditivos redutores de atrito, visando a redução do desgaste das partes móveis do sistema de combustível.

 

Quanto aditivo tem na gasolina aditivada?

A quantidade de aditivos varia de acordo com a distribuidora, pois estes aditivos somente se juntam à gasolina nas distribuidoras. A média de adição é de 0,5% em peso. O álcool anidro também é adicionado somente nas distribuidoras.

 

Meu carro vai ficar mais potente ou mais econômico com a gasolina aditivada?

Não, seu carro não ganha potência com a gasolina aditivada. O que pode ocorrer é a recuperação de parte da potência perdida pela falta de manutenção do sistema de combustível. Pois se há depósitos de sujeira nos bicos, estes atrapalharão a atomização e consequentemente a formação da mistura ar/combustível. Com os aditivos estes depósitos podem ser dissolvidos e com isso a atomização dos bicos volta a sua condição normal.

Foto IX

Quanto à economia de combustível, a regra é a mesma do que falamos acima. Por isso a gasolina aditivada ajuda na manutenção do seu sistema de combustível e consequentemente do motor. Mas não gera nenhum pônei a mais.

 

Existe alguma contra-indicação para usar gasolina aditivada?

Foto III

Não. O que pode ocorrer é, pela falta de manutenção anterior, quando se passa a usar gasolina aditivada em substituição à comum, os depósitos existentes no sistema de combustível , admissão e câmaras de combustão podem se desprender em placas, causando o entupimento dos filtros, bicos, giclês e dutos de óleo. Mas isso não é um problema do combustível, mas sim da falta de cuidado do proprietário.

Caso seja essa a situação, o indicado é que se aumente gradativamente a quantidade de gasolina aditivada misturada à gasolina comum no tanque. Por exemplo, no próximo abastecimento se coloca um quarto de tanque de gasolina aditivada e completa-se o restante com gasolina comum. Assim seguindo até abastecer o tanque por completo com combustível aditivado.

 

Adicionar aqueles aditivos vendidos nos postos à gasolina comum é a mesma coisa que usar uma gasolina aditivada?

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A resposta para essa pergunta é relativa. Se você calcular a densidade dos aditivos, combinada à densidade da gasolina e chegar a uma concentração dos aditivos de 0,5 a 1% peso por peso. Sim, é a mesma coisa. Mas se você pegar aquela garrafinha que comprou no posto, derramar no tanque e depois jogar o combustível por cima, dificilmente sua mistura será correta.

 

Qual a octanagem do etanol?

O etanol hidratado que é usado como combustível aqui no Brasil tem índice antidetonante (IAD) 99,5. Isso quer dizer que ele suporta taxas de compressão maiores que as melhores gasolinas encontradas no país. Mas seu poder calorífico é mais baixo: são 7,69 kW/kg para o etanol contra 12 kW/kg para a gasolina.

Mas por que conseguimos gerar maior potência usando o etanol como combustível? Explicamos tudo neste post.

 

Por que quase não se encontra etanol aditivado?

Devido à baixa procura exclusivamente pelo etanol, muitos distribuidores não se interessaram em desenvolver aditivos específicos. Eles têm em vista que o etanol por vezes é combinado à gasolina durante o abastecimento, ou ao menos existe a alternância dos combustíveis entre os abastecimentos.

 

Meu carro a álcool pode usar outros combustíveis como metanol ou nitrometano?

Foto XII

Se não houver nenhum ajuste da quantidade de combustível fornecido para o motor, não. Você não poderá usar devido à necessidade de um maior volume de combustível, para que se alcance a mesma potência. No caso do nitrometano essa característica é ainda mais drástica, pois esse combustível possui uma grande quantidade de oxigênio incorporado a sua molécula. Isso faz com que sua razão estequiométrica seja muito baixa (1,7:1). Para facilitar o entendimento, veja a tabela de comparação abaixo.

tabela II

Observe como a quantidade de combustível aumenta de acordo com a razão estequiométrica. Isso significa que você vai precisar de um sistema de combustível de maior capacidade, ou amo menos de uma nova calibração do mapa de injeção. Além, claro, de ajustar o mapa de ignição também.

Curiosidade: um carro a etanol pode ser abastecido com álcool hospitalar 96º GL. Como o etanol vendido no posto, ele também tem 4% de água. Obviamente o preço do litro do álcool hospitalar não compensa o abastecimento regular, mas em caso de emergência pode ser usado sem danos ao motor.

 

O que acontece se eu misturar os combustíveis num carro não-flex?

Bom o que vai acontecer dependerá do tipo de combustível que seu carro usa originalmente. Num carro a álcool você sentirá um ganho de potência e até uma maior economia de combustível. Isso ocorre devido ao maior poder calorífico da gasolina. Porém a adição de gasolina aumenta o risco de detonação. Quanto maior a proporção da mistura maior será o risco.

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Já em um motor a gasolina o efeito será o contrário: com a adição do álcool o carro tende a perder potência e consumir mais combustível. Também devido ao poder calorífico, que nesse caso é menor.