Quer causar polêmica em uma conversa sobre carros? Comece a falar sobre terminologia. Uma sugestão: cite o cupê de quatro portas. Imediatamente você verá a mesa polarizada: de um lado, o grupo que entende e aceita o termo. No outro lado, a turma que condena por que cupê tem que ter duas portas.
Nós já falamos sobre isso aqui. O que configura um cupê não é o número de portas, mas o espaço traseiro e o caimento do teto a partir da coluna B — especialmente nos casos em que ela não existe. Isso também abre a possibilidade de se usar o nome “coupé cabriolet”, afinal… se o carro é conversível, como ele pode ser um cupê?
O que nos traz ao caso dos conversíveis, que pode ser ainda mais polêmico. Afinal, nenhum tipo de carroceria tem mais nomes diferentes como os conversíveis. O próprio nome conversível é questionável, porque ele é usado para designar carros capazes de recolher o teto de alguma forma — ou seja: ele se converte de carro fechado para carro aberto. Mas todos aqui sabemos que nem todo carro aberto é um conversível — alguns não são fechados nunca, como a Ferrari Monza SP1 ou o Shelby Cobra, por exemplo.
É daí que vem a diversidade de nomes para esse tipo de carro. Cabriolet, convertible, roadster, spider… todos remetem a carros abertos, mas nem todos são a mesma coisa. Uns são bem específicos, outros tomam emprestado o nome para um conceito diverso e outros seguem à risca as “regras” da nomenclatura.
Para esclarecer uma dúvida que você sempre teve, mas não sabia que tinha, a gente preparou esse guia de nomes dos carros de teto aberto.
Cabriolet
Esse outro nome para conversíveis tem origem nas antigas carruagens. As cabriolet eram um tipo de charretes de um eixo só, com lugar para o condutor e um passageiro. Elas não tinham portas e eram cobertas por uma capota retrátil, e receberam esse nome por seus movimentos leves e suaves, como um salto de balé chamado cabriolé.
Mais tarde, os cabriolet ganharam uma versão mais longa, para mais passageiros e passaram a ser usados como veículos de aluguel e o nome ficou associado aos conversíveis.
Uma curiosidade: este uso dos cabriolet como veículo de aluguel também deu origem ao nome usado pelos ingleses para se referir aos táxis. Muita gente pensa que “cab” é a forma inglesa de “táxi”, mas repare a foto acima. Está escrito “TAXI” como nos EUA. É porque os primeiros táxis eram “cabriolet”, que acabaram abreviados como “cabs”. Quando os carros fechados passaram a ser usados, o apelido já havia sido adotado como uma expressão popular e nunca mais foi abandonado.
Coupé cabriolet ou retractable hardtop ou flip top ou convertible hardtop
São quatro nomes para o mesmo tipo de carro: um conversível com capota rígida retrátil. Não se aplica a carros que têm uma capota rígida removível, como o Mercedes-Benz SL R179, ou o Mercedes-Benz 300 SL ou mesmo o Mazda Miata NA. O que caracteriza o “cupê cabriolê” ou qualquer outra dessas denominações é o fato de o carro ter uma capota rígida que se abre de alguma forma.
O primeiro conceito foi desenvolvido por Ben Ellerbeck em 1922, que fez uma série de modelos em escala com um teto retrátil chamado “flip top”. Naquele mesmo ano, ele fez a primeira conversão de um carro, um Hudson Super Six roadster, que ganhou o teto flip top, operado manualmente com a assistência de uma mola para manter o teto aberto ou fechado. O problema é que esse tipo de teto impedia o uso do chamado “banco da sogra”, então nenhuma fabricante se interessou por usá-lo e ele acabou esquecido.
Pouco depois, no início dos anos 1930, um engenheiro francês chamado Georges Paulin teve uma ideia parecida e a registrou na França. Diferentemente do modelo americano, este sistema francês, batizado adequadamente de “Eclipse”, acabou usado pela indústria, tendo estreado pelo Peugeot 401D Éclipse Décapotable, tornando-se o primeiro “cupê cabriolê” da história — e foi dali que veio a inspiração o nome dos conversíveis Peugeot feitos a partir do 206, todos batizados com a sigla “CC”.
Roadster
Origina-se da palavra road (estrada) com o sufixo – ster, que em inglês forma substantivos que designam especialidade, profissão, hábito ou associação. Por exemplo: gangster é o cara que faz parte de gangs, tipster é o cara especializado em informações e dicas (tips). Roadster, portanto, é um carro voltado ao uso em estradas.
Os primeiros roadsters eram carros feitos unicamente para curtir a estrada, sem portas, bagageiro ou lugar para passageiros (embora pudessem ter até dois lugares extra). Foram, de fato, os primeiros esportivos da história. Ao longo dos anos, o termo foi adaptado para designar modelos abertos de dois lugares, como o Mercedes SLK, o BMW Z3, e a versão conversível do Lamborghini Murciélago.
Speedster
É uma derivação mais espartana e esportiva do roadster. Uma boa forma de ilustrar esse tipo de conversível é pensar no que um piloto faria para tornar seu roadster mais leve e mais aerodinâmico para participar de corridas de estrada.
A resposta é o speedster, que é caracterizado pelo para-brisas mais baixo — ou mesmo substituído por um defletor —, acabamento espartano e ausência completa de qualquer capota ou mecanismo para cobrir o carro. Isso, aliás, o impede de ser um conversível, pois ele não tem um teto para ser convertido, certo?
O exemplo mais famoso de Speedster é, sem dúvida, o Porsche 356 Speedster, uma criação de Max Hoffman para o mercado americano nos anos 1950 e que deu origem aos 911 Speedster.
Spider / Spyder
Com exceção dos Porsche Spyder (550, 718, 918 e Boxster), o termo “spider” geralmente designa modelos conversíveis de fabricantes italianos, como o Alfa Romeo Spider, ou a Ferrari F355 Spider. Embora os italianos digam que a origem está na palavra “speed” e no termo “speeder” (que é pronunciada “spíder”), o nome vem de uma carruagem leve e aberta para duas pessoas chamada Spyder.
Essa carruagem era fabricada pela encarroçadora irlandesa Holmes, de Dublin, e recebeu esse nome por que suas rodas grandes e finas suspendem a carroceria leve entre elas como o corpo de uma aranha suspenso pelas patas. Ele batizou esse tipo de carruagem como Spyder, com “y” para diferenciar da palavra “spider”, que significa aranha.
Os italianos, contudo, usam “spider”, porque o alfabeto italiano não tem a letra Y. Quando a Federação Nacional dos Fabricantes de Carrocerias registrou o nome, em 1924, eles simplesmente trocaram o Y pelo i.
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Barchetta
Barchetta é exatamente o que você acha que é quando lê o nome: uma barqueta, um barquinho. A diferença das barchette para os roadsters ou spiders é que eles não têm, originalmente, capota de nenhum tipo, e não usam para-brisas, apenas defletores de vento ou nenhum elemento aerodinâmico ou de proteção. Na prática, eles são a versão italiana dos speedsters.
Outra diferença para os spiders, é que eles são mais espartanos, mas têm rodas cobertas — os spiders originalmente podiam ter rodas expostas, com para-lamas tipo “asa” como no Alfa Romeo 6C 1750 dos anos 1920.
O primeiro carro a receber esse nome foi a primeira de todas as Ferrari, a 166 MM, apresentada no Salão de Turim de 1948. Ela não tinha esse nome oficialmente, mas ao vê-lo no evento, o editor do jornal La Gazzetta dello Sport, Giovanni Canestrini, usou o termo para descrever aquele novo formato de carroceria. Assim, o nome acabou associado à Ferrari 166 MM e continuou usado para outros modelos com carroceria semelhante, como a Ferrari 212 Inter e a Ferrari 212 MM Vignale.
Mais recentemente, nos anos 1990, a Fiat chegou a criar um conversível chamado Barchetta, mas ele era um roadster, e não uma barchetta de verdade.
Targa e T-Top
Apesar de ser usado para praticamente qualquer conversível com apenas a seção central do teto removível, o nome Targa foi uma marca criada pela Porsche ao lançar o 911 com esse tipo de teto. A origem está na Targa Florio, a corrida de estrada italiana onde o Porsche 550 se destacou nos anos 1950. Targa significa “placa” em italiano.
Apesar de ser uma marca registrada pela Porsche até hoje, outros fabricantes usaram o modelo de teto com apenas a porção central removível, porém com outros nomes. A Ferrari 355 “targa”, por exemplo, era a GTS – de Gran Turismo Spider. O Triumph Spitfire “targa” era o “Surrey top”, enquanto no Corvette ele era apenas o “coupé”.
Falando no Corvette, há ainda uma derivação do teto Targa que é o T-top (ou teto em T) que foi usado pela primeira vez no Corvette C3 de 1968 e se tornou um padrão dos esportivos americanos dos anos 1970 e 1980, com algum resquício nos anos 1990. O T-top é um teto conversível targa que tem um elemento estrutural fixo longitudinal no meio da abertura, fazendo com que o teto seja removido em dois paineis.
Esse teto foi usado também pelo Camaro, pelos Nissan Z, pelo Mustang Fox, pela Subaru, pela Dodge e pela Pontiac.