Foi em dezembro de 2016 que surgiram as primeiras imagens reais do SUV da Rolls-Royce, ao qual a marca se referia como Cullinan. A razão para a escolha era apropriada: Cullinan é o nome do maior e mais perfeito diamante já descoberto, uma gema de 3.106,75 quilates, ou 621,35 gramas encontrada em uma mina no vilarejo de Cullinan, na África do Sul. O diamante foi batizado em homenagem ao dono da mina, Thomas Cullinan, um cara tão importante que a cidadezinha onde a mina ficava também ganhou seu sobrenome. Hoje em dia o diamante Cullinan pertence às joias da coroa britânica.
A Rolls-Royce negou, de início, que estava mesmo se rendendo à SUVização. O que é compreensível, visto que existia a possibilidade de alguns de seus clientes acharem que a marca estava ficando “vulgar” ao se render a uma tendência mundial dos veículos de passeio.
Mas não é própria marca quem dita as regras. Quem dá as cartas é o mercado, e o mercado viu a chegada do Bentley Bentayga, o SUV da principal rival da Rolls-Royce, em 2016. A Rolls-Royce não teve saída, então, senão entrar na onda. E assim o Cullinan nasceu.
A silhueta de fato lembra um RR… no caso, de Range Rover. Mas tudo bem
Até agora o Cullinan era tratado pela marca como “veículo elevado todo-terreno”. Agora, eles o chamam de “o Rolls-Royce dos SUVs”. Isto é que é ter classe.
Logo de cara a gente vê que os projetistas da Rolls-Royce se saíram melhor na tarefa de traduzir a identidade visual da marca a um utilitário esportivo. O Bentayga, é mais parecido com o cruzamento (crossover) entre um sedã da marca, uma perua e um SUV do que com um SUV de fato. O Rolls-Royce, por sua vez, ficou mais imponente e com proporções bem mais agradáveis, com a típica grade “Partenon” ladeada pelos típicos faróis retangulares. Abaixo deles há entradas de ar, com frisos cromados na parte inferior.
O Rolls-Royce Cullinan é um monstro de 5,35 metros de comprimento, mas ainda assim é cinco centímetros mais curto que o Ghost. Por outro lado, é nada menos que 20 cm mais longo que o Bentayga, e seus 1,83 metros de altura o fazem 9,1 cm mais alto que o Bentley. Também é 17,3 cm mais alto do que o Phantom, que não é nenhum nanico com seus 1,64 m de altura.
Tal como no sedã topo-de-linha Phantom, com o qual compartilha a plataforma chamada Architecture of Luxury (“arquitetura do luxo” em uma tradução literal), o Rolls-Royce Cullinan tem balanços curtos e entre-eixos longo. A linha de cintura é baixa e totalmente horizontal, como nos outros carros da marca, e as proporções da carroceria foram trabalhadas para ter harmonia mesmo com o terceiro volume ausente. As lanternas traseiras, também relativamente pequenas, imitam o estilo do Phantom. Para nós, honestamente, deu mais certo do que no Bentley Bentayga.
O motor é o mesmo do Phantom: um V12 biturbo de 6,75 litros (ou six and three-quarter litre, como diriam na terra da Rolls), que no Cullinan entrega 570 cv e 86,6 kgfm de torque – que aparecem já às 1.600 rpm. Números de desempenho, contudo, são fúteis demais para serem divulgados agora — ao menos é o que parece. O câmbio é o mesmo ZF automático de oito marchas, e leva a força para as quatro rodas através de um sistema de tração integral desenvolvido in-house. A maior parte da força vai para o eixo traseiro, que pode ficar com até 90% do torque dependendo da situação.
A suspensão usa braços triangulares sobrepostos na dianteira e eixo traseiro do tipo five-link. De acordo com a Rolls-Royce, o sistema é controlado eletrônicamente e faz milhões de cálculos por segundo para variar continuamente a carga da suspensão, reagindo à aceleração, aos movimentos do volante e às informações das câmeras externas, que leem o piso e antecipam o ajuste da suspensão para manter o interior inabalado e não incomodar o proprietário e seus passageiros.
O eixo traseiro, exclusivo do Cullinan, é auto-esterçante e ajuda o Rolls-Royce dos SUVs nas manobras em lugares apertados ao girar virar no sentido oposto às rodas dianteiras, e a ter mais agilidade em altas velocidades ao virar no mesmo sentido que elas.
No modo off-road, acionado ao toque de um botão – que a Rolls-Royce chama de “the Everywhere button” (um nome divertido que só os ingleses poderiam dar), a suspensão pneumática se eleva usa ar comprimido para pressionar individualmente as rodas contra o solo, caso detecte perda de aderência em qualquer uma (ou em mais de uma) delas.
Para aproveitar tudo isto, é preciso entrar no carro, obviamente. As portas traseiras são suicidas, e a suspensão se rebaixa em até 40 mm para facilitar o acesso ao espaçoso, luxuoso e requintado interior. Toque no sensor externo próximo às maçanetas e as portas se abrem sozinhas com um movimento suave, fechando-se ao toque de outro botão do lado de dentro. É possível configurar o sistema para ligar o motor assim que a chave (que provavelmente estará nas mãos do chauffeur) se aproximar do carro.
O lado de dentro tem duas configurações diferentes: Lounge Seats ou Individual Seats. A primeira é a mais funcional delas, com espaço para três pessoas, mais apropriada para famílias – e os bancos são rebatíveis, algo inédito em um Rolls-Royce. Claro, isto não pode ser feito manualmente em um SUV desses: o banco se rebate ao toque de um botão, e o encosto de cabeça muda de posição para não deixar a almofada do assento marcada.
Na segunda configuração, que é mais tradicional (e provavelmente será a mais vendida), há dois lugares na traseira e um console central que, naturalmente, possui um compartimento resfriado para garrafas de vinho/champagnhe/whisky/brandy e um par de taças de cristal, copos para uísque e um decantador, além dos comandos do ajuste elétrico dos bancos e do sistema de climatização.
Sem rebater os bancos, o porta-malas, cuja tampa é bipartida, oferece 560 litros de capacidade (ou 600 litros caso se remova a divisória). Com os bancos rebatidos, a capacidade de carga aumenta para 1.930 litros, sendo que o comprimento total da área pssa a 2.245 mm. É possível elevar o assoalho eletronicamente para deslizar os objetos sem esforço. A Rolls-Royce sugere que o compartimento de carga pode ser usado para levar tanto objetos de uma galeria de arte quanto o “um artefato recém-descoberto na sua última expedição arqueológica”. Puro exibicionismo: na prática ele será usado para carregar bolsas caríssimas, rifles de caça, botas de hipismo e essas coisas que ricos ingleses adoram.
Um último detalhe: com o banco traseiro ocupado, uma parede de vidro separa o compartimento de carga do habitáculo, o que segundo a Rolls-Royce garante que o Cullinan seja o primeiro SUV “três volumes” do mercado, com silêncio comparável ao de qualquer outro de seus modelos.
De fato, a companhia diz que o Cullinan foi testado “até a destruição” em terrenos extremos ao redor do mundo, em desertos de gelo e areia. Mas a gente suspeita que a maioria dos compradores o utilizará no asfalto, mesmo, aproveitando o sistema de ajuste eletrônico da suspensão, garantindo o nível máximo de conforto. Já é clichê, mas enfim: quem vai se divertir mesmo é o motorista particular.
A Rolls-Royce não é o tipo de marca que dá o preço de seus carros, mas diz que o Ghost pode ser uma referência. Isto nos deixa com um preço-base na casa dos US$ 300.000 (R$ 1,07 milhão em conversão direta), fora a infinidade de opções em cores, revestimentos e acabamentos que 96% dos clientes incluem na compra. As entregas começam no início do ano que vem.