De uns tempos para cá surgiram alguns projetos interessantes usando motores Ferrari – um Fiat 500 com motor V8 Ferrari, hot rods com tempero italiano e até um Toyota GT86 com o V8 da 458 Italia. Mas… você já viu um hot hatch com motor Ferrari? Pois ele existe – ao menos um. É o Sbarro Super Eight, criado nos anos 80 por uma das marcas mais excêntricas que existem.
Como contamos neste post, a história da Sbarro começou em 1971 com réplicas de esportivos e carros de corrida famosos – réplicas muito bem feitas, por sinal. Mas nos anos 80 o italiano Franco Sbarro começou a projetar automóveis cada vez mais extravagantes, sendo que alguns trabalhos conceituais flertavam perigosamente com o mau-gosto.
Não dá para dizer que o Sbarro Super Eight era um carro bonito mesmo para os padrões dos anos 80, quando tudo era mais exagerado e não existiam as técnicas atuais para moldar fibra de vidro. Ele media os mesmos 3,15 m de comprimento que o Mini original, porém era 35 cm mais largo, com 1,75 m (o Mini tinha 1,40 m de largura), mas suas proporções nem eram a pior parte – ao contrário, até que eram interessantes. Mas ele tinha uma dianteira estranha, com os faróis ocultos por uma grade do tipo persiana, e misturava linhas retas na parte superior com curvas quase noventistas nos para-choques dianteiro e traseiro. Ah, e ele usava as lanternas traseiras do Opel Ascona/Vauxhall Cavalier – Chevrolet Monza, no Brasil. E, devemos dizer, até que combinou…
Agora, o que realmente nos trouxe aqui é o conjunto mecânico. Depois toda a conversa sobre uma Ferrari hatchback que tivemos por estes dias (confira aqui e aqui), agora podemos falar sobre um legítimo hatchback com motor Ferrari – um V8 de três litros e 260 cv vindo da Ferrari 308 GTB, acoplado a uma transmissão de cinco marchas também da Ferrari. A estrutura do carro era tubular, desenvolvida sob medida, e com a carroceria de fibra de vidro e seu conjunto mecânico na da convencional, o Sbarro Super Eight pesava apenas 800 kg – o peso de um Uno Mille, porém com suspensão por braços triangulares sobrepostos, 260 cv e tração traseira. Com esse entre-eixos curto ele deve ser deliciosamente incontrolável.
O carro ainda trazia alguns componentes da Ferrari 308 no interior – o painel de instrumentos e a alavanca de câmbio com grelha, por exemplo. Tudo era revestido de couro marrom, e havia detalhes em madeira e veludo na cabine. O carro só levava duas pessoas, naturalmente. Atrás dos bancos ficava uma cobertura para o motor que também acomodava o estepe, e o Sbarro Super Eight ainda tinha um sistema de som premium com equalizador e toca-fitas, ar-condicionado e tapetes de veludo.
Depois de ser apresentado no Salão de Genebra de 1984, o Sbarro Super Eight desapareceu e não se sabia onde ele estava. Então, há alguns dias, e, de acordo com o anunciante, estava na Bélgica. Não havia informações a respeito do paradeiro do carro nos últimos 34 anos, mas aparentemente ele não estava muito longe de casa – o adesivo “CH” no para-choque traseiro é usado em automóveis registrados na Suíça (CH vem de Confederação Helvética, o nome oficial da Suíça), onde fica a sede da Sbarro.
O histórico de lances no anúncio diz que alguém ofereceu o equivalente a US$ 50.100 (cerca de R$ 188.000), mas retirou o lance pouco depois. O anúncio saiu do ar, mas pelo menos agora sabemos que o carro existe.
O mesmo não pode ser dito do irmão mais velho do Sbarro Super Eight, o Super Twelve, que foi apresentado dois anos antes, no Salão de Genebra de 1982. Foi ele o primeiro a usar a carroceria hatchback, que trazia as mesmas características básicas – a grade persiana, as enormes entrada de ar nas laterais e o vidro traseiro que funcionava como tampa do porta-malas. Mas era diferente nos detalhes, como a pintura em degradê e as lanternas traseiras que eram integradas à superfície da carroceria.
Repare que os motores ficavam em linha e não em V
Mais insano era seu conjunto mecânico: ele usava dois motores de seis cilindros em linha vindos da Kawasaki Z1300, uma moto estradeira que é uma das poucas com motor seis-em-linha e cardã já fabricadas. Cada um dos motores deslocava 1,3 litro e era ligado à sua própria caixa de câmbio. Cada uma das transmissões era responsável por mover uma das rodas traseiras, e a potência total era de 240 cv.
De acordo com a Sbarro, o Super Twelve era capaz de ir de zero a 100 km/h em cinco segundos, enquanto a velocidade máxima ficava pouco abaixo dos 220 km/h. Era desempenho suficiente para que a Sbarro chamasse o Super Twelve de “o menor supercarro fabricado nos anos 80” – o que, considerando sua configuração mecânica, até que faz sentido. Agora, diferentemente do que aconteceu com o Super Eight, não se sabe onde foi parar o Super Twelve. Talvez o mundo ainda não estivesse pronto para ele. Talvez nunca esteja.