Perder os freios do carro a mais de 200 km/h, na boca da curva deve ser o maior pesadelo de todo piloto/motorista que tenha o mínimo instinto de sobrevivência. E foi exatamente o que aconteceu com o Nissan 370Z de Tim Bell, que disputa a Continental Tire Sports Car Challenge.
Bell seguia em meio ao pelotão a cerca de 205 km/h no fim da reta principal do Circuito das Américas e, ao chegar na zona de frenagem ele simplesmente se viu sem freios. A essa velocidade a única reação esboçada pelo piloto americano foi desviar dos carros da frente e torcer para que a estrutura de segurança conseguisse evitar o pior.
Devido à alta velocidade ele passa reto pela caixa de brita, e sem aderência também não consegue direcionar o carro. A poucos metros do muro de proteção o carro finalmente vira de lado e bate com a lateral esquerda na barreira, onde ele finalmente para.
Surpreendentemente, o piloto saiu ileso do acidente e, se você reparou, o carro não ficou tão danificado como todos esperávamos. Isso se deveu a dois fatores fundamentais: o primeiro é que o Circuito das Américas é um autódromo certificado pela FIA, o que significa que ele tem áreas de escape modernas e de acordo com os padrões exigidos pela institução — os mais rigorosos possíveis nesse caso.
Falando nisso, uma curiosidade rápida: o Circuito das Américas é um projeto de Hermann Tilke, o arquiteto “acusado” de tirar a graça da F1 com autódromos seguros porém entediantes. Na pista americana, contudo, Tilke fez um traçado interessante e desafiador — e como mostra esse acidente, ele também parece bem seguro. Veja agora a pancada de dentro do carro:
Claro, nada disso seria possível sem um pouco de evolução tecnológica. Há 15 anos o Circuito das Américas certamente teria seus muros protegidos por pneus empilhados como forma de amortecer o impacto dos acidentes. Mas estamos praticamente em 2015, e são poucos os autódromos que ainda usam pneus como proteção. Eles vêm sendo gradualmente substituídos por barreiras sólidas, porém deformáveis e com alta capacidade de absorção de impactos.
A principal vantagem em relação à barreira de pneus é que elas não se quebram com o impacto do carro, mantendo sua capacidade de proteção — algo que não acontecia com as pilhas de pneus, que se espalhavam ou saíam do lugar dependendo de como o carro as atingisse. Segundo o fabricante dessas barreiras, elas são capazes de suportar impactos a até 200 km/h e podem resultar em uma desaceleração de até 55g.
Foi exatamente um acidente como este de Tim Bell que levou ao desenvolvimento desse tipo de barreira de proteção. Mais exatamente a monstruosa pancada de Michael Schumacher no GP da Inglaterra de 1999, quando sua Ferrari perdeu os freios a cerca de 300 km/h e o piloto alemão voou pela caixa de brita e foi lançado diretamente contra a barreira de pneus. Mesmo com a rigidez do monocoque dos F1 modernos, Schumacher fraturou as duas pernas e ficou fora de seis etapas do mundial.
Outro acidente gravíssimo que poderia ter sido amenizado com a adoção desse tipo moderno de proteção foi o de Luciano Burti em Spa, no GP da Bélgica de 2001. O piloto brasileiro atravessou a área de escape e passou por baixo da barreira de pneus, atingindo o muro que estava por trás dela. O impacto foi tão forte que seu capacete acabou quebrado e Burti passou alguns dias em coma induzido.