Não faz muito tempo que o Civic Type R estrelou um comparativo contra outros dois hot hatches de tração dianteira, o Seat Leon Cupra 280 e o Mégane RS Trophy 275. E o Honda foi mais veloz que ambos, percorrendo o quilômetro-e-meio do circuito britânico de Llandow em apenas 46,5 segundos. O Seat virou 46,9 segundos e o Renault, 47,6 segundos.
Pelo visto, para superar o Civic Type R em um circuito rápido e rasteiro como Llandow é preciso algo ainda mais potente e, em tese, de dinâmica superior. Por isso, os caras da Auto Express voltaram a Llandow para tentar bater o tempo do Civic com dois ícones: o hot hatch Audi RS3, com um cinco-cilindros turbo de 367 cv e tração integral, e o todo-poderoso BMW M3, dono de um seis-em-linha biturbo com 430 cv e tração traseira. O Type R não será páreo para essa dupla, certo?
Bem… melhor assistir ao vídeo antes de tecer qualquer palpite definitivo:
A volta do Civic Type R já estava dada — você pode assistir ao vídeo aqui e relembrar. Era evidente que o Type R era o mais veloz dos três, tirando proveito de seu sistema de vetorização de torque no eixo dianteiro para ganhar estabilidade e velocidade nas curvas. Mas será que os 310 cv de seu quatro-cilindros 2.0 turbo, aliados à suspensão bem acertada e aos truques do diferencial dianteiro, são suficientes para se manter no topo? Mesmo em uma batalha na pista contra carros que, naturalmente, têm dinâmica superior?
O primeiro concorrente foi o Audi RS3. Seu cinco-cilindros turbo de 2,5 litros produz 367 cv entre 5.550 e 6.800 rpm e 47,4 mkgf de torque entre 1.625 e 5.500 rpm. Muito torque em baixa, transmissão de dupla embreagem e sete marchas… a receita para um carro veloz: o RS3 é capaz de chegar aos 100 km/h em 4,3 segundos com máxima de 280 km/h. Com tração nas quatro rodas, ele também deverá ser mais veloz na pista — ao menos é o que se espera.
A esperança tem fundamento: com a força sendo aplicada ao solo também pelas rodas de trás, há mais grip nas curvas — a transferência de peso para a traseira, que aumenta a área de contato dos pneus com o solo, também tem seu papel aqui. Contudo, o subesterço ainda é presente (e Steve Sutcliffe, jornalista que está novamente conduzindo o teste, reclama disso constantemente), e a verdade é que um circuito truncado como Llandow não é suficiente para que se explore a bela curva de potência do RS3 como se deve. Resultado? Um tempo de volta de 47 segundos cravados — meio segundo mais lento que o Civic Type R.
Então, é a vez do M3. Seu seis-em-linha biturbo de três litros é capaz de entregar 430 cv a 7.300 rpm e 56,1 mkgf de torque já às 1.850 rpm. A transmissão, neste caso, também é de dupla embreagem e sete marchas (um opcional sem custo, sendo que o câmbio de série é manual de seis marchas). Tração traseira, pista seca, 120 cv a mais… tudo conspira a favor do M3 desta vez.
Carros de tração traseira, como explicamos neste post, aproveitam totalmente a transferência de peso para a traseira nas saídas de curva: a área de contato das rodas motrizes com o solo aumenta (e, consequentemente, a tração melhora), enquanto lá na frente há o motor sobre as rodas dianteiras, que só precisam se preocupar em direcionar o carro. Não há perda de tração no eixo motriz.
É uma briga ganha, certo? Bem, nem tanto: por mais veloz que o M3 seja, Sutcliffe só consegue virar 46,7 segundos — 0,2 segundo mais lento que o Type R. Mas como isto foi acontecer?
Para começar, o circuito de Llandow é bastante travado, sem espaço para que carros potentes como o Audi RS3 e o BMW M3 estiquem as pernas nas retas. O entre-eixos mais curto do Type R (são 2.594 mm contra 2.631 mm do RS3 e 2.812 mm do M3) é outra vantagem, visto que a menor inércia polar garante mais estabilidade e precisão nas curvas.
Também há a variável das condições da pista. Em determinado momento, Sutcliffe diz que as condições climáticas e a temperatura da pista são “idênticas”, mas sabemos que isto é improvável. Por fim, especificamente no caso do M3, o vídeo não mostra exatamente a execução da hot lap — a edição deu prioridade a drifts e powerslides. Assim, a impressão que fica é que Sutcliffe ficou perdendo tempo brincando com o carro em vez de tentar pilotar rápido. Foi o bastante para que fãs da BMW se revoltassem nos comentários — alguns sem perceber que, provavelmente, se trata de um artifício de edição, e que boa parte das cenas do M3 foi feita em outro momento, e não quando os tempos de volta estavam sendo medidos.
Podemos concluir com isto que, na hora de acelerar na pista, há muito mais variáveis do que a potência do carro ou o modo como a força é entregue ao solo. Dependendo de como estas variáveis se combinam, o resultado de um comparativo como este pode ser, de fato, surpreendente. Agora, queremos saber: o que você achou?