O Fiat Uno é um carro naturalmente divertido por conta do baixo peso e da falta de isolamento acústico – cortesia do projeto datado do início dos anos 1980. A sensação de envolvimento homem-máquina é altíssima. E (como qualquer outro carro, na verdade) o Uno pode se tornar um verdadeiro foguete com as modificações certas.
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Levando em conta o motor transversal e a suspensão traseira independente – e também a tradição dos italianos em trasnformar hatchbacks compactos em esportivos de baixo custo, vide as versões R e Turbo – a gente espera que o Uno seja transformado em um hot hatch pronto para devorar curvas. O projeto que viemos mostrar hoje, porém, é diferente: trata-se de um Uno de arrancada. Um Uno de arrancada com motor 1.6 turbo de 750 cv que consegue, com tranquilidade, virar o quarto-de-milha na casa dos 9 segundos. Veja por si próprio:
Neste vídeo em específico, o Uno está participando do Wide Open Spring Nationals 2019, evento de arrancada realizado em Rivanazzano, na Itália. Seu melhor tempo em Rivanazzano foi de 9,4 segundos, mas em outras ocasiões ele conseguiu virar 9,08 segundos a 252 km/h.
Sim, os europeus também curtem dragstrips. E aliás, assim como ocorre na Argentina, os italianos também têm certa tradição em preparar o Uno para o quarto-de-milha, pelo baixo preço e pela boa oferta de componentes de preparação para os motores Fiat em seu país de origem.
Este projeto em especial foi desenvolvido pela preparadora Gabucci Autotecnica, da província italiana de Latina – especializada nos carros da Fiat, evidentemente. Não se trata de uma bolha com estrutura tubular: o monobloco é original, ainda que a dianteira tenha recebido um subchassi para dar suporte ao motor e aos componentes da suspensão dianteira. O Uno já é um carro leve por natureza e, com o interior obrigatoriamente aliviado, este exemplar chega aos 750 kg. Com o motor de 750 cv, a relação peso/potência é perfeita, literalmente: 1 kg/cv.
O motor escolhido veio do Lancia Delta, originalmente com 1,5 litro (1.498 cm³), originalmente com 85 cv e 12,6 kgfm de torque. Para entregar quase nove vezes mais potência, o quatro-cilindros passou por uma série de modificações: curso e diâmetro aumentaram de 86,4×63,9 mm para 87×67,4 mm, com novos pistões e virabrequim de maior curso, elevando o deslocamento para 1,6 litro.
Os pistões são CPS, forjados, desenhados especialmente para o projeto – assim como as bielas da Saenz. O cabeçote teve o fluxo retrabalhado e ganhou válvulas maiores, além de um comando de graduação bem mais agressiva. Coletores de admissão e escape, claro, também foram fabricados sob medida. E a cereja do bolo é o enorme turbocompressor Precision. O motor é gerenciado por uma ECU Sauro Team, modelo 565.
Toda esta força é moderada por uma transmissão sequencial Bacci, com diferencial de deslizamento limitado, embreagem com disco duplo.
O restante da carroceria foi mantido praticamente original, a exceção óbvia são janelas de policarbonato, da remoção dos retrovisores e da barra na traseira.
Apesar de parecer, não se trata de uma wheelie bar, até porque isto só é possível em carros de tração traseira: ela está ali para evitar o squat, aquele mergulho da traseira causado pela transferência de peso no momento da largada – que, por sua vez, levanta a dianteira e reduz a tração dos pneus. É comum o estranhamento, mas nota-se sua eficiência:
O que nos surpreende de verdade é este carro jamais ter aparecido aqui no FlatOut antes – ele já arrepia nas dragstrips europeias há alguns anos, sempre com a mesma pintura laranja e a mesma cara invocada. Sem faróis, contando apenas com uma tomada de ar frio do lado do motorista e um olho estilo “Bad Boy” do lado do carona. No vídeo abaixo, de 2016, ele já virava nove segundos. E tinha “só” 600 cv:
E, veja só: ele sequer tem escada no teto. Até porque já está na hora de esquecer esta piada, não? Vamos apreciar este monstrinho pelo que ele realmente é: uma bela afirmação do potencial do Uno e dos motores de quatro cilindros.