Dizem que “hoje em dia todo mundo fala inglês”, mas não é bem assim – e a barreira do idioma ainda pode privar muitos entusiastas de conhecerem projetos interessantes de outras partes do mundo. O inglês facilita a coisas, é claro, mas ainda não é falado em todos os lugares. Assim, quando se faz uma pesquisa no Google, por exemplo, ou no search do Facebook (que já foi pior, mas ainda está longe de ser ideal), o alcance fica bastante restrito. Ainda mais se você estiver procurando material de um país que sequer utiliza o alfabeto latino – como a Tailândia, por exemplo?
Dizemos isto porque é justamente da Tailândia que vem o projeto gringo que viemos mostrar hoje – um Honda Civic cupê de sexta geração (código EJ8) que, em vez de um quatro-cilindros das famílias D ou B, como vinha de fábrica, recebeu todo o conjunto mecânico de um Honda S2000.
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Embora sejam carros da mesma época, o Civic Mk6 e o S2000 são carros fundamentalmente diferentes. O S2000 era montado sobre uma plataforma própria, a chamada X-Bone Chassis, que usava uma espécie de espinha dorsal integrada ao monobloco para garantir maior rigidez, mantendo o peso do carro o mais baixo possível – e, naturalmente, ele tinha um túnel central para levar a força do motor para as rodas traseiras. Já o Civic EJ8, usando um monobloco tradicional, tinha o motor transversal e a tração nas rodas da frente.
Graças a seu arranjo de suspensão, que contava com braços triangulares sobrepostos na frente e um eixo multilink atrás, o Civic de sexta geração estava entre os melhores carros de tração dianteira de seu tempo – o que era especialmente verdadeiro nas versões esportivas, como o primeiro Type R. Já o S2000 é frequentemente colocado entre os melhores automóveis de todos os tempos para quem realmente gosta de dirigir, por dois motivos principais. O primeiro era o conjunto dinâmico extremamente equilibrado, lembrando bastante o Mazda MX-5 Miata – cortesia do motor central-dianteiro, da distribuição de peso perfeita (50/50, frente/traseira) e do esquema de suspensão com braços triangulares sobrepostos nas quatro rodas. O segundo era seu brilhante quatro-cilindros F20C, todo de alumínio, com dois litros de deslocamento e nada menos que 250 cv sem qualquer tipo de indução forçada. E ele ainda girava a mais de 9.000 rpm.
Tecnicamente, não há motivo para fazer uma cirurgia dessas – colocar o powertrain do S2000 em um Civic EJ8. Se você quer um roadster de tração traseira, compre o S2000. Se quer um cupê prático e bonito, compre o EJ8. Mas project cars não precisam fazer sentido, mesmo. Se precisassem, muita coisa legal que já apareceu aqui no FlatOut simplesmente não existiria.
Voltando à questão da barreira do idioma: por causa dela, nem todo mundo sabe que a Tailândia é um verdadeiro reduto de entusiastas da Honda. Na verdade, um dos maiores encontros de entusiastas da marca acontece na Tailândia todos os anos – o Honda Fest. É quase um Wörthersee Treffen, exceto que na Ásia, com carros japoneses.
É verdade, porém, que muitos destes carros fazem a linha stanced, com suspensão a ar, cambagem excessivamente negativa e (de forma geral) mais preocupação com o visual do que com o desempenho. O Civic que viemos mostrar hoje, felizmente, é uma bela exceção.
O carro pertence a um entusiasta tailandês chamado Aunnupan Jirananta, que mora em Bangkok e, aparentemente, é bem conhecido na cena hondeira local. Fora isto, não encontramos muito mais informações escritas sobre o carro ou suas modificações. No entanto, por sorte, há uma ampla quantidade de fotos publicadas por páginas tailandesas, como a Refresh Photography e a Bank BadRace, e com isto podemos observar diversos detalhes no carro.
Dá para perceber, por exemplo, que foram fabricados subchassis para a dianteira e a traseira, sendo que esta também recebeu um tanque de combustível selado. Jirananta também precisou fabricar um túnel central para acomodar a carcaça do câmbio e o cardã. Este, possivelmente, também foi modificado por conta do entre-eixos do Civic, que é de 2.621 mm – no S2000, são exatos 2.400 mm.
A suspensão também foi modificada, e agora traz o mesmo layout de suspensão do S2000, com braços triangulares sobrepostos também na traseira. As rodas são um jogo de RAYS Volk TE37, calçadas com pneus Toyo Proxes, e sob elas estão abrigados freios Spoon.
O motor também foi preparado – há um filtro cônico na admissão e uma nova flauta de combustível, bem como uma ECU aftermarket da AEM que deve ter facilitado bastante o trabalho de casar todos os sistemas eletrônicos do Civic com o novo powertrain, incluindo a adaptação do belo cluster digital do S2000. E, para a alegria dos puristas, o F20C manteve-se naturalmente aspirado. O câmbio manual de seis marchas do S2000 também foi aproveitado.
Embora as intenções do projeto não fiquem 100% claras, conseguimos enxergar nele potencial para track days – além dos amortecedores ajustáveis na suspensão, ele tem o interior bastante aliviado: os bancos dianteiros originais, confortáveis e com ajustes elétricos, deram lugar a conchas de fibra; o banco traseiro foi descartado; a maioria dos revestimentos internos foi removida, com exceção das portas dianteiras (até mesmo a chapa do teto fica exposta); e nem mesmo o carpete foi poupado.
Infelizmente, detalhes da preparação do motor e os números obtidos são um mistério para nós – e para qualquer um que não fale tailandês. No entanto, considerando que o Honda Civic Mk6 está ficando cada vez mais popular como project car, como alternativa não faz mal um pouco de inspiração.