Esta imagem aí em cima já poderia ser, por si só, um marco na história da humanidade. Cara, é uma Ferrari F40 — o carro de corrida para as ruas™ mais famoso da companhia de Maranello, com faróis auxiliares amarelos iguais aos usados nos carros de rali, pneus de inverno com correntes e um bagageiro no teto, fazendo drift na neve. No entanto, esta foto tem uma história — na verdade, um vídeo.
E um belo vídeo, por sinal! Trata-se de uma produção feita pela Red Bull Japan em parceria com Takeshi Kimura. Talvez você nunca tenha ouvido falar dele, mas provavelmente já viu esta foto:
O cara de óculos escuros é Takeshi, e esta foto — junto com algumas outras — circulou pela Internet em meados de 2014. Ele faz parte do Car Guy, um clube de proprietários de supercarros do Japão que sempre se reúne para passeios em grupo e encontros. Eles dizem que seu objetivo é simplesmente inspirar outros donos de superesportivos. Eles acham que, se você tem um destes, deve curti-lo como se deve, e não mantê-lo trancafiado em uma garagem climatizada. Amen to that!
Na visão de Takeshi, curtir seu supercarro significa usá-lo todos os dias. No Japão isto já é um desafio mesmo que você nunca saia da cidade — um dos maiores problemas de infraestrutura das metrópoles japonesas é a falta de espaço (razão pela qual os kei cars, carros que obedecem limites de tamanho, potência e peso, têm impostos mais baixos e são tão populares). Por isso, ele prefere é cair na estrada com sua deusa italiana — com direito a malas, barraca e tralhas de camping no bagageiro.
Agora, ele decidiu mostrar como são seus rolês de F40 pelo Japão. Ou ao menos é esta a ideia de A Day in the Life, o curta dirigido por Luke Huxham — o mesmo cara por trás do fantástico Motorhead Hillclimb que mostramos aqui há um bom tempo.
No pequeno filme, acompanhamos Takeshi acordando, pegando sua F40 e indo até uma estação de esqui e snowboarding com sua F40. Lá, ele aluga correntes para os pneus (que, junto com os pregos, garantem um mínimo de aderência) e parte para a diversão. Mas, agora, chega de papo e vamos assistir!
Algumas pessoas se assustam enquanto outras não conseguem parar de olhar. Tudo deve ter sido cuidadosamente ensaiado e planejado mas, mesmo assim, o resultado é bem espontâneo e muito divertido de assistir — especialmente quando a noite cai e os faróis auxiliares com lentes amarelas entram em ação, e a estação de esqui se transforma em um estágio de rali. O ronco do V8 biturbo de 485 cv, a música que sai do toca-fitas (um luxo!) e o barulho dos pneus cavando a neve para encontrar grip formam a atmosfera perfeita.
E, pensando bem, a Ferrari F40 não está tão deslocada assim — lembre-se, ela surgiu da 288 GTO, cujo primeiro objetivo era homologar um protótipo para o Grupo B de rali. Assim, em 1984 a Ferrari começou a produzi-las e, ao mesmo tempo, a desenvolver a versão de competição.
Sim, você vai dar play neste vídeo de novo e assistir até o final, como sempre
Em 1986, porém, a FIA decidiu banir o Grupo B após uma sequência de tragédias que culminou naquele ano com dois acidentes terríveis. O primeiro foi no mês de março, em Portugal, quando Joaquim Santos perdeu o controle de seu Ford RS200 e deixou 33 mortos. O segundo aconteceu em maio, na França, quando o Lancia Delta S4 de Henri Toivonen e Sergio Cresto saiu da pista e pegou fogo, matando ambos.
Sem ter onde colocar os carros para correr, a Ferrari decidiu que todas as 272 unidades fabricadas da 288 GTO seriam carros de rua. A saudação ao carro de competição que ela poderia ter sido ficava em seu nome — GTO é a sigla para Gran Turismo Omologato.
Acontece que a semente já estava plantada: em 1987, a Ferrari criou a GTO Evoluzione, cujo visual foi o ponto de partida para a F40. E o resto, como dizem, é história.