Salvem, entusiastas e gearheads! Meu nome é Filipe Negrão da Costa Reis, tenho 26 anos e atualmente resido em Ribeirão Preto, interior de São Paulo (digo atualmente pois já morei em cinco cidades diferentes e mais de 14 mudanças de endereço, então só Deus sabe onde vou estar daqui um tempo). Vou contar aqui a história inusitada da aquisição de um carro incomum para os padrões brasileiros de daily drive, um importado preparado, sendo mais específico, um Subaru Impreza WRX.
Para isso tenho que voltar no tempo, lá no início da década de 90 para fazer uma linha do tempo que tente colocar um pouco de sentido nesta conversa de louco. Aviso: eu escrevo bragarai, então pega um copinho de água e senta que lá vem história.
Até dirigir o primeiro carro
Eu sou o moleque esmagado pelo bebê na foto
Desde que eu me lembre, nunca fui de futebol, perguntavam o meu time e eu não dizia que não tinha um e todos ficavam indignados e puxavam a sardinha para que eu torcesse para o seu. Enfim, meu negócio eram os carros. Lembro de quando meu pai me acordava para assistir as corridas do Senna (fossem elas de manhã ou madrugada), das vezes que ele me levava para dar uma volta nos carros que ele acabava de comprar, tanto logo que ele comprou um Uno Turbo 1994 ele me acordou no meio da noite quando chegou em casa, e de pijama mesmo, fomos dar uma esticada até a cidade vizinha. Então, acho que deu pra ver de onde vem a paixão por carros.
Aos 5 anos eu ganhei o minibugue fapinha 3,5cv da foto, segundo meu pai ele deu 60km/h no teste depois da compra, e para não matar uma criança de 5 anos aprendendo a dirigir, foi trocada a relação para no máximo 30km/h. Mas ainda assim eu achava que estava muito rápido e era o suficiente. Levava bronca dos avós por estragar a grama fazendo cavalos de pau logo de manhã quando ainda estava cheia de orvalho, mas o importante era a diversão.
Morei em Pirajuí, interior de São Paulo, até os 6 anos, quando meu pai que trabalhava no escritório regional da Fiat em Bauru foi transferido para o escritório de Belo Horizonte.
Até comprar o primeiro carro
Aos 10 anos, já estava morando em Curitiba, pois meu pai foi transferido novamente, e em um dos eventos de lançamento de veículos da Fiat, tive a primeira experiência ao volante do primeiro carro de verdade, um Fiat Palio Citymatic, com embreagem automática, basicamente um carro manual sem o pedal, facilitando bastante para uma criança aprender.
Aos 12 mudamos para Ribeirão Preto após meu pai sair da Fiat para assumir uma franquia de posto de gasolina da Shell. Até os 18 anos, eu dirigia dentro do condomínio indo até a casa dos amigos, indo no clube que há dentro do condomínio, enfim, passeios esporádicos.
Influenciado pelo boom do Gran Turismo 2 em 2001, depois o Gran Turismo 3 (2003) e Gran Turismo 4 em 2005 e como a seleção de carros japoneses no game era maior, eu sempre tive carros que eu comprava praticamente todas as versões disponíveis no jogo, Nissan Skyline GTR e Subaru Impreza WRX. Como GTR não temos aqui, eu me aproximei dos Subarus, e antes de fazer os 18 (lá pelos idos de 2006, 2007…) eu já estava participando do finado fórum RacingArt que em sua estrutura, tinha o início do que viria a ser o ClubeSubaru que perdura até hoje. Olhava os classificados à procura de um Impreza barato e até um dia que encontrei um ano 94, com swap de motor 2.2, turbo, kit GT e tração integral, por R$ 18.000,00 na época que um Corsa Classic 0Km. Namorei esse carro até que…
Não era esse mas a cor era igual – não achei foto dele
Cheguei aos 18, e a condição para ganhar um carro era passar em uma faculdade pública, pois o dinheiro que seria pago na mensalidade iria pagar o carro. E… não deu… sonho postergado. Entrei em engenharia mecânica (plena) para a Fundação Educacional Inaciana Padre Sabóia de Medeiros, ou para os menos íntimos com o novo nome, Faculdade de Engenharia Industrial, FEI (ou F-aço E-ngenharia no I-nferno, tanto faz…) em São Bernardo do Campo. Bixo, numa cidade nova, morando sozinho e sem internet, fiquei muito triste quando minha me me ligou falando que eu tinha perdido o prazo de interesse de vaga da Escola de Engenharia de São Carlos – USP. Queria desistir, fazer mais um ano de cursinho pra passar na faculdade pública, pois eu queria o carro.
Mas não, meus pais falaram que enquanto eles pudessem pagar a faculdade eu continuaria na FEI. Como morava a pouco mais de 1km da faculdade, ia e voltava a pé todos os dias, pensando em quando teria o meu carro. Consegui um estágio na Mercedes Benz na área de qualidade assegurada de ônibus e comecei a juntar um dinheiro pois usava o carro dos meus pais para ir até o estágio. Acabei ficando sem carro próprio até quando minha irmã começou a estagiar e não tinha como dividirmos o carro dos meus pais.
O primeiro daily driver
Eis então que com uma economia guardada desse 1 ano de estágio, e meus pais oferecem ajuda para comprar o primeiro carro com orçamento total de R$ 28.000,00. Era início de 2012 e eu comecei a procurar os imprezas para ver se caberiam no orçamento. Veio então o balde de água fria, meus pais disseram que só iriam ajudar se não fosse carro velho, e como 50% de alguma coisa é melhor que 100% de nada, como diria o sábio Sung Kang, interpretando o Han Lue em VF3, eu aceitei a ajuda e veio um Palio Attractive 2011 1.4 com estúpidos 86 potros de fúria.
Não tive toda euforia da compra do primeiro carro com ele, achava o carro sem sal e não fiz nenhum vínculo com ele, sendo assim, no meio de 2012 troquei de estágio saindo da MBB e fui para uma empresa de fibra de poliéster, Unnafibras. Com um salário melhor, veio algo que eu escolhi, para ser diferente dos populares pratas que lotam nossas ruas…
O segundo daily driver
Veio então o trovão, que depois de um escape de 4” de saída que eu coloquei nele, trocando o original que tinha corroído, minha namorada dizia que ouvia eu fazendo a curva no condomínio dela a pelo menos uns 70m de distância em linha reta, dentro do quarto dela, com a TV ligada… ok. Mas eu não apresentei o carro ainda né? Era um Punto Sporting 2008 completo menos o ar digital.
Fiquei 1 ano e meio com o carro e além do abafador, plotei o capô em fibra de carbono, troquei o couro do volante e coloquei uma marca nas “12 horas” como os carros dicurrida. Por conta da inexperiência e euforia na compra do carro, além de R$ 4.500,00 de volta na troca com o Palio, tive mais R$ 4.500,00 de consertos para fazer, e nisso eu me formei no final de 2012 e não fui efetivado no estágio, ficando com a dívida para quitar com meus pais.
Em setembro de 2013 consegui um emprego onde estou atualmente, trabalhando como Engenheiro Responsável Técnico pela manutenção, infraestrutura e engenharia clínica de um grande hospital em Américo Brasiliense (80km de Ribeirão Preto). As viagens começaram a cobrar o preço no pobre Punto, a embreagem começou a patinar e alguns problemas elétricos resolvidos naquele conserto de 4 barões e meio começaram a voltar e eu desanimei de ter um carro diferente. Eis que um dia voltando do trabalho a luz do ABS acendeu para não apagar mais, pra mim foi a gota d’água e chegando em Ribeirão, fui direto à uma concessionária e troquei o carro, adquirindo o meu primeiro carro 0km…
O terceiro daily driver
Veio então o Hyundai HB20S 1.6 comfort style. O carro era de longe o que melhor aliava desempenho e economia de todos carros que eu havia dirigido. Rodei muito com o carro nos 2 anos que fiquei com ele, 85.000km, mas no meio do caminho tive uma batida besta (falta de braço mesmo), a 40km/h numa rotatória e dei de lado na guia. Trocados a suspensão dianteira esquerda e o eixo traseiro (não afetou a funilaria) o carro rodou mais de 45.000km depois do acidente até eu vender sem problemas.
Porém eu comecei de novo a me sentir mais um no meio da multidão e resolvi fazer um Project car paralelo para não comprometer o daily drive. Veio então o fusca 1300 que eu tentei fazer um projeto “à lá” Singer de baixo custo, mas a ideia não vingou e mesmo eu tendo feito o carro do zero, todo mundo acha muito caro o valor pedido, mesmo eu anunciando por um valor abaixo do que eu gastei… É certas coisas não funcionam no Brasil
Voltando aos daily drive, resolvi vender o HB20S no início de 2016 pois desde a batida, mesmo ele funcionando legal eu não estava feliz, pois não podia fazer muitas modificações no carro sob risco de perder a garantia e queria fazer algum dinheiro. Consegui então a troca no que veio a ser o gatilho para compra do WRX (p0R@… Mas cê fala hein?… foi mal eu avisei que ia demorar, mas tá chegando… guenta aí)
O quarto daily driver
Era um Honda Fit EXL 2010 completo com cambio borboleta. Me senti livre novamente como quando eu comprei o Punto. Comprei aero modelo Mugen, fui tentar fazer a reforma das rodas que estavam raladas do dono anterior achando que eu era o Marty e o Moog do Mighty Car Mods e acabei com 2 bolhas em cada dedão e rodas mal reformadas. Mas enfim, eu estava me sentindo melhor e voltando a ter interesse em modificar meu próprio carro.
Foi então que em uma sexta feira, olhando os classificados pela internet (quem não faz isso está no site errado no momento… rsrs) encontro um anúncio de um WRX 2006 no clube do subaru e vejo o preço chamativo mas como não tinha o dinheiro apenas dei uma olhada no anúncio por cima. Sabe aquele momento quando a leitura dinâmica pega uma palavra e escancara na tua mente? Essa palavra foi “FIT” no post de venda do subaru. Eita, vamos ler isso com calma. O anunciante estava vendendo ou trocando por um FIT automático. Eu, mandei sem esperança alguma o anúncio que eu havia feito do FIT (meus carros estão sempre anunciados, pq vai que vende e eu acho algo mais legal) e ele topou. Não falamos em preço, volta, nada… mas combinamos de nos encontrarmos em Campinas para ver e trocar os carros na segunda feira.
Eis que chega segunda e eu sem esperanças, chego à Campinas e no local combinado e vejo aquele carro preto, ameaçador, ali na minha frente e eu ainda não estava acreditando que era real. Fomos ao cartório e na volta passamos os pertences de um carro para o outro e então…
O quinto daily drive
Agora era oficial (finalmente… agora a história começa mesmo — que encheção de linguiça!), eu era proprietário de um Subaru Impreza WRX 2.5 Turbo 2006 “Hawkeye”, levemente preparado com remap da central feita pelo ACF para aproximadamente 280cv na pódium. Aquela sensação de ter alcançado a meta, me levou aos meus 17 anos de novo quando eu estava olhando aquele impreza verde para comprar. Eu tinha visto um impreza GC6 1.8 4×4 em BH para preparar (antes de vender o HB20) mas não tive a segurança de fechar o negócio e voltar dirigindo por medo de ficar no meio da estrada. Eu estava em choque, levei o carro até o shopping para trocar o sem parar e em uma saída de rua, entrei um pouco mais forte e aquela sensação de potência me fez começar a respeitar e temer o carro ali.
Eu acho que se você dirige um carro com confiança absoluta que nada vai acontecer, é a receita para o desastre. Eu era assim até o acidente com o HB que tinha uma relação peso/potência de 8,2kg/cv, agora com um carro com aproximadamente 5,5kg/cv a chance de dar ruim aumenta exponencialmente.
Primeiros passos
Ao voltar para Ribeirão com o carro, percebi uma trepidação que veio a preocupar, na hora pensei em desbalanceamento de rodas. No dia seguinte, comecei a buscar algum autocentro (em ribeirão são poucos que prestam, se você não ficar embaixo do carro durante a manutenção, eles entortam bieletas e estouram buchas sem dó só pra te vender e pagarem de bonzinhos informando sobre a situação do seu carro), consegui um com valor razoável e alinhamento 3D e lá fui eu achando que ia gastar parcos 80 mangos para resolver meu problema, só que não…
Tirando as rodas, foi verificado que duas estavam tortas e precisava consertar, autorizei o serviço e quando a segunda roda está voltando o rapaz informa:
-Tem uma trinca nessa, eu não vou fazer o serviço!
Era só o que faltava, como estava com pressa e como não estava vazando pressão, eu montei a roda trincada mesmo, porém acabei trocando os pneus Dunlop 235/40 que estavam em final de vida já (no máximo 3000km) por Pirelli P1 225/45 (era a maior medida que eles tinham para aro 17). Rodei alguns dias procurando uma roda para substituir. Porém o preço na concessionária (+R$ 2.500,00 por uma roda) me fez começar os upgrades antes do que eu pretendia.
Dessa maneira vieram umas réplicas de BBS RS GT, muito parecidas com as usadas pelo mítico Subaru Impreza WRX Sti 22B (tem que falar o nome todo né?).
Os próximos passos agora se resumem à restauração do carro. Restauração? Pois é… O coitado do carro sofreu na mão dos últimos donos, mecanicamente ele vinha sendo mantido pela Galpão Subaru em São Paulo, porém esteticamente ele estava perdendo toda imponência que o carro passa. Todos, sem excessão, todos os painéis precisam fazer algo, o para-choque dianteiro não teve conserto (está com fitas hellermann que eu coloquei pra ele ficar “inteiro”), tive que adquirir outro no mercado livre; as caixas de roda dianteiras, inexistentes; manchas de pintura queimada e mal reparada (um dos donos anteriores deu ré em uma caçamba estacionada), enfim…
O próximo post eu vou contar mais sobre a busca de peças, uma troca de fluidos feita na garagem de casa e a novela que deve-se iniciar em breve: A FUNILARIA (leia com voz de locutor de novela mexicana). Até a próxima!
Por Filipe da Costa Reis, Project Cars #370