No Project Cars de hoje vamos relembrar mais uma grande história concluída nas páginas do FlatOut com mais um Best Of Project Cars. Desta vez vamos rever a saga do Ford Corcel 1975 do leitor Renan Santos, que salvou o clássico do abandono e esquecimento e o transformou em um belo projeto de época.
O início
A história do Corcel, como tantas outras, começa logo que Renan recebeu sua habilitação: ele não queria um carro moderno, e sim algo antigo e com mais personalidade para rodar por aí. Algo como um Opala, Maverick ou até um Landau. O problema é que, como estudante, Renan não tinha muita grana sobrando e seu pai decidiu ajudá-lo.
Certo dia, Renan-pai chega em casa e anuncia: “Comprei o Corcel parado na outra rua”.
Renan a princípio torceu o nariz, especialmente quando descobriu que seu Ford era, na verdade, um Renault 12 com roupa inglesa feita no Brasil. Apesar de tudo, era um clássico e, melhor ainda, um presente de seu pai.
O carro chegou em estado lastimável: havia sido repintado com tinta spray, o motor fumava, o vidro da janela estava preso por uma chave de fenda e a partida era feita por um interruptor. Mesmo assim o carro conseguiu ir sem problemas da região da Penha, em São Paulo, até Guarulhos.
A restauração
Com o carro em casa Renan chegou a cogitar uma personalização e até uma troca de motor mas, no fim, optou por restaurá-lo de forma que o carro pudesse ser curtido ao máximo nas ruas e estradas.
A restauração começou com o processo de funilaria que, segundo Renan, foi feito por dois “profiçionais” e um profissional. Começou em junho de 2009, quando Renan e o pai procuraram um funileiro com experiência em carros antigos. A ideia era refazer a carroceria sem massa plástica, usando apenas chapa de aço.
Na primeira oficina, do Sr. H, Renan e o pai toparam com cinco antigos que haviam sido reparados pelo homem. A primeira impressão foi boa e o carro começou a ser desmontado lá mesmo. Nesse processo foi descoberto o passado do carro: vários tons de marrom, toneladas de massa plástica e uma carroceria bem desalinhada.
Renan e o pai compraram novas folhas de porta, novos para-lamas e um novo assoalho. Tudo certo, exceto no lado de lá do balcão: duas semanas mais tarde o Sr. H diz que não poderá continuar o trabalho e irá repassar o Corcel a um outro funileiro, o Sr. Z. As referências eram boas, e o Sr. Z de fato terminou o carro… em fevereiro de 2010 — oito meses depois do início dos trabalhos. Com a funilaria pronta, Renan decidiu mudar a cor do Corcel. Marrom não é uma cor muito empolgante e, por isso, ele decidiu usar um azul metálico original do catálogo Ford.
O passo seguinte foi a tapeçaria do carro, onde Renan voltou a ter problemas. Não com os bancos ou revestimentos, mas com o manuseio do carro: o tapeceiro conseguiu riscar a tampa do porta-malas e amassar um para-lama dianteiro. No fim o sujeito bancou os reparos.
Depois foi a vez da vidraçaria do carro e a instalação de maçanetas. O serviço foi tranquilo, mas o carro não saiu ileso e ganhou mais alguns arranhões nas portas. Mesmo assim Renan seguiu em frente e continuou com a parte elétrica do carro, que foi muito bem feita e funciona até hoje. O mais legal é que para consertar a partida do carro Renan conseguiu um tambor de ignição original de estoque antigo, com direito a chave reserva e tudo! Em seguida foi a vez do motor, que foi retificado completamente e ganhou um virabrequim e conjunto móvel novo. Funciona perfeitamente até hoje!
Com tudo feito o Corcel voltou para a funilaria para reparar os riscos e batidas que sofreu nos demais processos. Como se não bastasse, a pintura sem uso estava começando a formar bolhas e a descascar! Resultado: o carro foi levado para um terceiro funileiro, o Sr. B, que finalmente raspou as laterais e peças danificadas e conseguiu alinhar e corrigir todas as imperfeições por um preço camarada e um prazo razoável. De quebra, o carro ainda ganhou um tom de azul mais forte, do catálogo da Peugeot.
A primeira volta e pé na estrada
Antes de cair na estrada, Renan precisou regularizar a documentação: o carro estava parado havia três anos, com dois documentos atrasados e ainda por cima precisaria passar pela vistoria de emissões. O processo correu bem, dentro dos padrões brasileiros, mas rendeu uma multa por atraso da transferência do carro.
Depois de alguns passeios pela cidade, com direito à “vistoria” de seu pai, Renan decidiu fazer um teste mais extenso: uma viagem a Mongaguá. Tudo preparado, malas prontas, tanque cheio, tudo verificado pra não ficar a pé e… hit the road! enfim pé na estrada.
O carro não fez feio! Desceu e subiu a Serra sem vazamentos, superaquecimento ou qualquer problema do tipo, mantendo sempre entre 80 km/h e 120 km/h sem perder velocidade.
Outra viagem marcante foi quando Renan decidiu pedir sua esposa em casamento em Campos do Jordão/SP, durante um encontro de antigos. Ela achava que seria apenas uma ida ao encontro, mas voltou da Serra da Mantiqueira com casamento marcado.
Depois de usá-lo diariamente, Renan decidiu encostar o carro e usar apenas seu carro de trabalho. A Christine, como seu Corcel foi batizado, se tornou uma rota de fuga. O negócio é melhor explicado pelo próprio Renan:
“Um conselho que deixo a todos gearheads que estão lendo essa matéria final do meu humilde project car, é que peguem os seus carros, seja ele qual for e dirija. Sem rumo, apenas pelo simples fato de dirigir, somente você e seu carro, sem se estressar com os demais motoristas (sei que é difícil), apenas um momento entre você e o carro que te acompanha para todos os lugares que mesmo te deixando na mão você não se desfaz de seu caro companheiro (a). Você sabe que comprou o carro certo quando depois de estacionar, olha pra trás e volta para tirar uma foto, seja onde for.”
Não deixe de ler o projeto na íntegra!
Parte 2 – a saga da funilaria e a restauração
Parte 3 – as viagens e a conclusão do projeto