As últimas semanas foram bem agitadas para os fãs de Top Gear (provavelmente todo mundo que acompanha o FlatOut), visto que primeiro Jeremy Clarkson foi afastado, depois demitido, e aparentemente seus colegas (e amigos) James May e Richard Hammond decidiram acompanhá-lo.
Agora, só porque o trio está desempregado, não significa que eles estão quebrados — lembre-se que Top Gear era (ou ainda é) uma mina de ouro para a BBC, faturando na ordem de £ 15 milhões por ano, e que a fortuna dos três juntos somada é de pelo menos £ 60 milhões. Nada disso, porém, impediu que May e Hammond decidissem passar adiante alguns dos itens de suas belas coleções de motos clássicas — o que nos parece uma bela oportunidade para falar das garagens dos caras.
Mas antes, vamos falar um pouco do leilão: ao todo serão 12 motocicletas — quatro delas de Hammond, e oito de May — leiloadas no Spring Stafford Sale, em Stafford, Reino Unido, no dia 26 de abril. É uma seleção bem variada, que inclui motos pequenas com motores monocilíndricos de 50 cm³, cafe racers modificadas e até uma imponente Honda Gold Wing.
A maioria das motos menores pertence, claro, ao Captain Slow James May — como a pequena Yamaha FS1-E acima, equipada com um motor de 49 cm³ e 4,9 cv. Lançada em 1973, a “Fizzie” tinha velocidade máxima de 72 km/h e, para enquadrar-se na categoria de ciclomotores segundo a legislação britânica na época, precisava ser equipada com pedais de bicicleta, como as nossas conhecidas mobiletes.
Isto não significa, porém, que May só goste de motos pequenas e fracas — entre as oito motos do apresentador que serão leiloadas, estão uma clássica Kawasaki A1 Samurai, cujo motor bicilíndrico dois-tempos de 250 cm³ entregava saudáveis 31 cv e podia chegar aos 165 km/h e uma Ossa MAR 250 que foi usada em competições nos anos 70, porém recebeu todos os equipamentos necessários para poder circular nas ruas, como faróis e velocímetro.
A moto mais bacana da coleção de May, porém, é uma Yamaha SR400 2010 customizada pela Deus Ex Machina e batizada como “Grieving Angel”. A SR400 é, por si só, uma bela moto retrô — a monocilíndrica de 400 cm³ foi apresentada em 1978 e segue sendo produzida até hoje quase sem alterações (não tem nem partida elétrica!).
Nós já falamos da Deus Ex Machina por aqui: a customizadora australiana pega motos antigas e modernas e as recria usando componentes fabricados artesanalmente, como carenagens, tanques de combustível e acessórios, seguindo a escola estética das cafe racers e motos clássicas de corrida.
Richard Hammond, por outro lado, tem um espírito mais aventureiro, e as motos de sua coleção refletem isto muito bem — é só reparar no tamanho delas. A belezinha acima é uma Norton Commando 961 SE, cujo nome indica o deslocamento exato de seu dois-cilindros em linha. A Norton é uma das mais tradicionais fabricantes de motocicletas britânicas, ainda que ao longo de seus 117 anos de história, já tenha ido à falência e se reerguido algumas vezes. A última ressurgência aconteceu em 2008, e Hammond foi um dos primeiros clientes — certamente atraído pelos 82 cv e pela velocidade máxima de 210 km/h.
Hammond também tem uma Honda GL1000 Gold Wing, cujo flat-4 de 999 cm³ com comando duplo nos cabeçotes e 80 cv a tornou uma das mais populares motos para pegar a estrada; e uma cafe racer com motor de 500 cm³ fabricada artesanalmente usando diversas peças da Triumph e da Norton — algo bastante popular no Reino Unido na década de 50. O detalhe é que estas duas motos foram vendidas a Hammond por James May, enquanto a única monocilíncrica de 50 cm³ (outra Yamaha FS1-E, de 1975) veio de outro lugar.
O detalhe é que a Bonhams fez questão de deixar bem claro que o leilão das motos de May e Hammond já estava programado meses antes dos acontecimentos das últimas semanas. May até fez piada com a situação: “só porque eu estou desempregado não quer dizer que tenho que vender tudo”, ele disse à Bonhams. “Eu iria vender estas motos de qualquer jeito. E aquelas pinturas, também, e a minha coleção de autoramas da Scalextric. Sério.
Agora, como todos nós sabemos, Hammond, May e Clarkson também amealharam belas coleções de automóveis ao longo dos anos. Vamos dar uma olhada nelas:
Jeremy Clarkson
Jezza não vai leiloar nada no dia 26 de abril, mas não há como deixar um dos membros do trio de fora. Ao longo de sua carreira, já vimos Clarkson ao volante de diversos superesportivos — dos três, ele parece ser o mais atraído por POWEEERRR!
Ainda que, entre os carros que ele teve, existam nomes bem comuns, como o Volvo XC90, o Volkswagen Scirocco de primeira e segunda geração e o Honda CR-X, Clarkson também já teve em sua garagem alguns dos carros mais desejáveis do planeta. Quais? Que tal um Escort RS Cosworth (um dos favoritos de Richard Hammond, diga-se), um BMW M3 CSL, e os Mercedes-Benz SLK55, CLK63 Black Series e SLS AMG?
O CLK63 AMG é um dos mais famosos — Clarkson comprou o seu exemplar do cupê, que é equipado com um V8 de 6,3 litros e 507 cv, depois de avaliar o carro em 2008, no episódio 2 da 11ª temporada, e elogiar seu desempenho — para o britânico, o CLK 63 AMG Black Series equilibra perfeitamente a praticidade de um carro de família confortável com câmbio automático e a performance de um supercarro.
Agora, a relação de Jezza com outro de seus superesportivos não foi tão boa: ele foi um dos poucos europeus que conseguiram reservar um exemplar na época do lançamento, mas o carro demorou meses para ser entregue e, enquanto isso, o preço final do carro só aumentava. Quando finalmente recebeu seu Ford GT, Clarkson sofreu com diversos problemas mecânicos, chegando a acionar a Ford para pedir um reembolso. Ele conseguiu, mas acabou comprando o carro de volta — para depois vendê-lo em 2006, liberando espaço na garagem para um Lamborghini Gallardo Spyder.
Aparentemente o dono seguinte soube muito bem o que fazer com ele
Em meados dos anos 90 porém, Clarkson comprou um carro que só lhe deu alegrias: uma Ferrari F355 GTS, com um V8 de 3,5 litros e 375 cv. Apesar de dizer que foi “o melhor carro que já dirigiu em sua vida”, Clarkson confessa que, se pudesse voltar no tempo, não teria comprado um exemplar conversível vermelho.
Como comenta em uma de suas colunas no site do Top Gear, porém, Jeremy Clarkson não começou do topo. Seu primeiro carro foi um Ford Cortina de segunda geração, fabricado entre 1966 e 1970 — um dos carros mais vendidos nos EUA durante este período, com quase 1,2 milhão de unidades produzidas. O Cortina de Clarkson era um 1600E, versão equipada com um quatro-cilindros de 1,6 litro e 88 cv.
Outro dos clássicos de Jeremy Clarkson foi um Alfa Romeo GTV6. Ele ainda era jovem, mas este continua sendo um de seus carros favoritos — presumimos que, em boa parte, graças ao V6 de 2,5 litros e 160 cv. Jeremy sempre diz que “você não é um verdadeiro entusiasta até ter sido dono de um Alfa Romeo” e, bem, o GTV6 foi seu primeiro.
Foto: Daily Mail
Em 2012, Clarkson foi fotografado com sua filha Emily ao volante de uma Ferrari 458 Italia vermelha.
Atualmente Clarkson tem sido flagrado rodando pelas ruas com um Mercedes-Benz Classe S novo em folha — incluindo durante as investigações do escândalo que levou a sua demissão da BBC.
Richard Hammond
A maior paixão de Richard Hammond são as motocicletas, mas um dos apresentadores do Top Gear não poderia deixar de ter uma bela garagem cheia de carros, obviamente. O Hamster tem uma queda pelos modelos da Porsche, tendo adquirido ao longo dos anos um Porsche 911 SC 1982, que foi vendido em meados da década de 2000 e um 911 Carrera S 2006, além de um 928 — o grand tourer da Porsche, com motor V8 dianteiro — em 2004, que usou diariamente por alguns anos.
Rufus, o Porsche 911 SC de Richard Hammond
A propósito, Hammond e May já tiveram, cada um, um 911 na mesma época — e James May até comparou os dois em um vídeo feito nos bastidores do Top Gear, e obviamente diz que o seu é o melhor… por alguma razão.
Seu primeiro carro, porém, foi mais humilde: um Toyota Corolla de terceira geração, fabricado em 1976. Como conta no vídeo abaixo, Hammond gostava muito do carro, que era equipado com um motor de 1,6 litro e foi personalizado pelo apresentador com direito a listras, como nos Shelby Mustang.
Não é à toa que Hammond também é considerado o mais americano dos três apresentadores, com uma coleção de muscle cars que inclui um Charger R/T 1969 com motor 440, um Ford Mustang fastback 1967 com um V8 390 e um Dodge Challenger SRT8 2008 — este, comprado durante um desafio nos EUA, no episódio 2 da 12ª temporada.
O Dodge Charger 1969 de Hammond, comprado em 2004, depois que o apresentador gravou uma avaliação para o episódio 3 da quarta temporada e realmente gostou do carro
Obviamente, porém, que não dá para deixar de citar Oliver, o Opel Kadett B 1967 que Richard comprou em 2007 para o especial do Top Gear na Botswana. Depois das gravações, Hammond anunciou durante o programa que decidira ficar com o carro, o enviando para o Reino Unido. Oliver ainda é um dos carros favoritos do apresentador, que está com ele até hoje.
James May
O Captain Slow, como seu apelido sugere, parece não se importar muito com desempenho na hora de escolher seus carros, preferindo modelos compactos ou luxuosos — em sua garagem, já houve espaço para um Fiat Panda de segunda geração, um Vauxhall Cavalier de primeira geração (antepassado do nosso Chevrolet Monza), um Rover P6 (sedã britânico dos anos 60 e 70), que já tiveram companhia de um Bentley T6 e um Rolls-Royce Corniche — este último até fez uma aparição em um dos primeiros episódios com May, que estava convencido de que era um carro melhor do que o Mercedes-Benz 600 Grosser de Jeremy Clarkson.
Não significa, porém, que James não goste de carros rápidos. Entre os esportivos e supercarros que já passaram por suas mãos, podemos destacar a Ferrari F430, a 458 Italia, um Porsche 911 1984 e um Boxster S 2005 — que May garante ter sido o único carro que ele comprou zero quilômetro em toda a sua vida…
Uma das raras imagens de James May em um de seus carros rápidos
… ao menos até junho do ano passado, quando anunciou no Twitter a chegada de seu novo BMW i3. Por alguma razão, desconfiávamos mesmo que se um dos três apresentadores fosse seduzido pelo pequeno elétrico da BMW, com seu motor de 170 cv e 130 km de autonomia, seria mesmo James May…
I’ve picked up my BMW i3. It’s a bit weird driving around in The Future. By the way, Germany wins the World Cup.
— James May (@MrJamesMay)