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Tríplice Coroa do Automobilismo: o que é, como começou e quem já ganhou?

Aos 36 anos, Fernando Alonso Díaz está mais ativo do que nunca e parece longe de se aposentar. Mesmo em plena atividade, o espanhol das Astúrias é considerado por fãs, dirigentes, ex-pilotos e pela imprensa o maior talento de sua geração e da Fórmula 1 atual — mesmo com Lewis Hamilton e Sebastian Vettel no auge de suas carreiras.

Acontece que a Fórmula 1 tomou um rumo que colocou o talento individual em segundo plano. Fernando Alonso foi competitivo até seus últimos anos na Ferrari, mas desde então, com carros nada competitivos feitos pela McLaren na atual era turbo, o grande talento desta geração acabou apagado, fadado a um final de carreira decadente que tinha tudo para ofuscar o brilhantismo de seus primeiros anos, quando superou Michael Schumacher e a Ferrari dois anos seguidos para conquistar o bicampeonato mundial.

Mas em 2015 Alonso mostrou que não é apenas um talento ao volante dos F1, e logo encontrou uma saída para dar a si mesmo o reconhecimento que merece. Em vez de ficar preso no pelotão do meio da Fórmula 1, o piloto aproveitou os novos ventos na McLaren e na Fórmula 1 e negociou sua participação nas 500 Milhas de Indianápolis de 2017. Na ocasião, para disputar a Indy 500, Alonso precisou abrir mão do GP de Mônaco daquele ano, mas não foi uma decisão difícil, afinal, ele não teria a menor chance de vencer com o McLaren Honda.

E foi na ocasião do anúncio de sua participação na Indy 500 que Alonso revelou o motivo de sua manobra:  “Eu já ganhei o GP de Mônaco duas vezes, e um dos meus sonhos é vencer a Tríplice Coroa”, disse. Foi uma tacada de mestre no direcionamento de sua carreira: ao anunciar uma meta assim ambiciosa, Alonso evocou os grandes heróis do automobilismo, demonstrando respeito e admiração por eles ao considerá-la seu próximo objetivo, e fez o público entender que ele está no mesmo patamar dos maiores heróis do esporte motorizado.

Mas… o que é a Tríplice Coroa do Automobilismo, afinal? Qual a relevância de se conquistar este título? Que outros pilotos conseguiram a Tríplice Coroa?

Em resumo, “tríplice coroa” é um título extra-oficial concedido a desportistas (ou clubes) que conquistam os três principais eventos de seu esporte. O termo se originou na Inglaterra em 1853 para designar as vitórias do cavalo West Australian e seu jóquei Frank Butler nos três principais torneios de hipismo do país na época: o 2.000 Guineas Stakes, o Derby Stakes e o St. Leger Stakes. Apesar de ter sido criado naquele ano, o termo só se popularizou no final do século e é usado até hoje para designar estas três provas do hipismo britânico.

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West Australian: o cavalo britânico que foi o primeiro vencedor da primeira tríplice coroa

Os americanos, por sua vez, consideram que foi o New York Times quem popularizou o termo a partir de 1923 ao se referir às três principais corridas de cavalo dos EUA na época, o Kentuck Derby, o Preakness Stakes e o Belmont Stakes.

Independentemente de quem cunhou o termo e quem o popularizou, foi naquele início do século 20 que a ideia de “coroar” o vencedor dos três principais eventos esportivos de uma determinada categoria se tornou cada vez mais frequente, como uma forma de prestigiar a versatilidade de atletas e competidores. Há a Tríplice Coroa do golfe, do tênis, do beisebol, do pôquer, do futebol brasileiro (título estadual, Brasileirão e Copa do Brasil no mesmo ano) e, claro, do automobilismo.

Não se sabe ao certo quando a Tríplice Coroa do Automobilismo foi criada, mas tudo indica que tenha sido nos anos 1950. O fato de não ser um título oficial — portanto sem troféu, certificação, órgão regulador etc — dificulta o rastreio de sua origem. Para conquistar a tríplice coroa, os pilotos precisam vencer as três mais tradicionais provas do automobilismo mundial: 24 Horas de Le Mans, 500 Milhas de Indianápolis e Grande Prêmio de Mônaco — não necessariamente em um mesmo ano.

A partir dos anos 1980, quando a Fórmula 1 começou a ser disputada exclusivamente por pilotos de equipes inscritas no campeonato, as chances de um piloto da F1 ganhar as três provas foi drasticamente reduzida, uma vez que a Formula One Management (FOM) não era muito afeita à concorrência com outras categorias de monopostos como a CART e a Indy, e por isso a Tríplice Coroa acabou esquecida por quase quarenta anos.

O título voltou a ser comentado brevemente nos anos 2000, quando Jacques Villeneuve anunciou que iria disputar as 24 Horas de Le Mans pela Peugeot. O canadense já havia vencido as 500 Milhas de Indianápolis e tinha grandes chances de ganhar em La Sarthe, mas apesar de ter se sagrado campeão mundial de F1, nunca venceu o GP de Mônaco. Foi quando a imprensa desenterrou uma antiga versão “alternativa” (e menos considerada) da Tríplice Coroa: as 24 Horas de Le Mans, a Indy 500 e o Mundial Fórmula 1.

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Villeneuve, claro, considerou esta a “verdadeira Tríplice Coroa”, já que o Mundial de Fórmula 1 é um feito muito mais significativo que uma simples vitória no GP de Mônaco. Só que… mesmo considerando esta versão alternativa da Tríplice, ele não conseguiu o feito pois terminou as 24 Horas de Le Mans de 2008 em segundo lugar.

Se você perguntar qual versão da tríplice nós consideramos no FlatOut, nossa resposta será baseada na tradição: a vitória nas três provas individuais. O argumento de Villeneuve tem seu ponto, mas da mesma forma que o GP de Mônaco é só uma etapa do Mundial de F1, Le Mans também é apenas uma etapa do Mundial de Endurance (e do antigo WSC), e a Indy 500 é apenas uma etapa da Indy.

Uma simples vitória nas três corridas é suficiente para demonstrar a versatilidade de sua pilotagem. É a prova do domínio da velocidade em três situações distintas: um oval com velocidade média altíssima, um circuito de rua estreito e travado, e uma longa prova de estrada que exige um equilíbrio entre velocidade, conservação do carro, e resistência física e mental. Não dá para ser mais completo que isso sobre o asfalto.

Independentemente da versão da Tríplice que você considera, até hoje somente uma pessoa conquistou o feito: Graham Hill.

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Hill foi o recordista de vitórias em Mônaco antes de Ayrton Senna — o que lhe rendeu o apelido de Mr. Monaco. No principado ele venceu as provas de 1963, 1964, 1965, 1968 e 1969. A Indy 500 veio justamente no ano em que ele não venceu em Mônaco: 1966. E as 24 Horas de Le Mans foram conquistadas em 1972, quando Hill já não era mais tão competitivo na Fórmula 1. E se você considerar que a Tríplice exige um título da F1, Hill tem dois: 1962 e 1968.

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Hill em três tempos: Indy, Mans e Mônaco

Antes dele, Tazio Nuvolari venceu o GP de Mônaco (em 1932) e as 24 Horas de Le Mans (em 1933), mas em uma época de automobilismo localizado, ele jamais competiu nas 500 Milhas de Indianápolis. O francês Maurice Trintignant também conquistou as duas provas europeias (Le Mans em 1954 e Mônaco em 1955 e 1958), mas nunca atravessou o Atlântico para disputar a Indy.

Dos contemporâneos de Graham Hill, A.J. Foyt venceu as 500 Milhas de Indianápolis em 1961, 1964, 1967 e 1977, e faturou as 24 Horas de Le Mans em 1967, mas nunca disputou a F1, e por isso jamais chegou perto de largar no GP de Mônaco. Bruce McLaren venceu Le Mans em 1966 (a lendária vitória do Ford GT40) e o GP de Mônaco de 1962, mas nunca disputou a Indy 500 (ele foi desclassificado e nem chegou a largar em 1968). Emerson Fittipaldi venceu a Indy 500 duas vezes (1989 e 1993), mas nunca venceu em Mônaco e também não disputou Le Mans.

Jochen Rindt, Jim Clark e Mario Andretti disputaram as três provas. Rindt venceu Le Mans em 1965 e Mônaco em 1970, mas seu melhor resultado na Indy 500 foi um modestíssimo 24º lugar em 1967.

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Jim Clark venceu a Indy 500 em 1965, mas em Mans terminou em terceiro lugar em 1960, e na F1 foi bicampeão sem vencer em Mônaco. Ele abandonou cinco vezes nas sete em que disputou, tendo como melhor resultado no principado um quarto lugar em 1964.

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Mario Andretti venceu a Indy em 1969, mas também foi campeão da F1 sem vencer em Mônaco — seu melhor resultado foi um quinto lugar em 1977. Em Le Mans, Mario correu oito vezes — 1966, 1967, 1983, 1988, 1995, 1996, 1997 e 2000 — e seus melhores resultados foram um terceiro lugar em 1983 e 1996 e um segundo lugar em 1995.

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Notou o nível dos pilotos até agora? Pois é… esses caras tentaram a Tríplice Coroa e não conseguiram.

Depois de Hill, somente Jacques Villeneuve teve sua chance, mas não venceu em Mônaco nem em Mans. A direção que a Fórmula 1 tomou nos últimos anos, com poucos vencedores, também limita o número de candidatos pela vitória no GP de Mônaco — somente quem já ganhou uma vez e ainda está na ativa ainda tem chances. É por isso que atualmente somente dois pilotos estão muito próximos de conseguir a Tríplice Coroa: Fernando Alonso e Juan Pablo Montoya.

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Montoya venceu o GP de Mônaco de 2003 e a Indy 500 de 2000 e 2015. Ele tentou as 24 Horas de Le Mans neste ano, mas pela LMP2, o que diminuiu a quase zero sua chance de vitória. É possível que tenha sido apenas uma primeira experiência para, quem sabe, voltar em 2019 ou 2020 para tentar a vitória que lhe falta.

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Fernando Alonso venceu em Mônaco em 2006 e 2007, tentou a Indy em 2017 e conquistou Le Mans no último domingo. A McLaren já disse que pensa em colocar um carro na Indy para a temporada de 2019. Há uma mensagem muito clara nas entrelinhas, não?