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Tudo que você precisa saber sobre os Chamonix zero km

É algo tão comum e recorrente que virou cliché em Hollywood: o protagonista da história se apaixona por alguém extremamente belo, e não percebe que a pessoa ideal para si é aquela amiga ou amigo feio, mas divertido, que o acompanha em todas as suas aventuras.

Nos filmes, normalmente é acompanhado de outro cliché: a tal feia tira os óculos, solta o cabelo e põe um vestidinho sexy, e pronto: era bonita o tempo todo. O que subverte toda a moral da história que queremos contar aqui: não precisava beleza exterior, aquela que existe para agradar os outros e causar inveja. O que interessa de verdade, é se você está feliz com aquela pessoa. Se está, não interessa nenhuma outra coisa visível de fora.

E por que cargas d’água estamos falando disso aqui numa publicação dedicada ao automóvel? Simples: é muito comum a gente agir como essa pessoa equivocada dos filmes, que não consegue enxergar a realidade de felicidade plena e fácil bem na sua frente, pela ilusão de algo melhor esperando ali adiante, ao se virar a esquina. No mundo do automóvel, é fácil ignorar o que está perto, enquanto sonha com o que está longe, e é, no frigir dos ovos, inatingível.

Um bom amigo meu disse algo há muito tempo, que ficou comigo para sempre, por ter o peso solene da verdade. “Tome cuidado em o que sonha; sonho impossível é na verdade um pesadelo.” O cuidado aqui é necessário: não que a gente não possa sonhar com Ferraris e Paganis; não há problema nisso. Desde que se entenda que, olhando as probabilidades, você nunca vai nem entrar numa, muito menos comprar. Sonhe, mas com o pé no chão: não dá para ter tudo.

A verdade é que a vasta maioria das coisas incríveis que vemos por aí nas páginas virtuais de revistas é inatingível para 99% da população. Imagine isso. É o motivo por que devemos refrear a frustração de não poder ter algo: na verdade, a vasta maioria não pode. A vida tem que andar adiante mesmo assim.

É algo ainda mais difícil se você, como eu, gosta de carro novo. Sim, eu adoro coisa velha também, mas se pudesse, só teria carro que comprei zero km. Não vou ficar aqui perdendo tempo explicando os motivos: é auto-explicativo. A única contraindicação de carro zero km é ser caro, mas eu gosto mesmo de carro, não de dinheiro, então…

Sim, os carros modernos estão ficando meio inertes e chatos, mas a corrente moda de restomod é justamente isso: fazer carros legais do passado voltarem a ser zero km, e modernos, sem perder a sua personalidade.

Além do restomod está também a réplica, tema da matéria da sexta-feira passada aqui. Naquela matéria muita gente declarou curiosidade sobre detalhes dos Chamonix, uma das dez réplicas que apresentamos ali. É recorrente: todo mundo tem dúvida, sobre os modelos, especificação e preços. Resolvemos responder tudo então: a pedidos, a marca nacional é o tema de hoje.

Dez réplicas sensacionais que ainda se pode comprar zero km

E, garanto para vocês, será uma surpresa para muitos: apesar de simplesmente sensacionais, são muito mais acessíveis do que se imagina. São exatamente aquela garota que está ali do lado, meio que ignorada, mas que pode fazer você extremamente feliz. Ali do lado mesmo: a fábrica é em Jarinu, a coisa de 70 km da cidade de São Paulo.

 

Réplicas de Porsche

A inspiração original para Ferry Porsche começar sua fábrica de automóveis no pós-guerra veio da Itália: os Cisitalia eram carros esporte sensacionais, apesar de usar mecânica bem mundana, a do Fiat 1100. Ferry resolver fazer o mesmo usando o VW, que conhecia bem: a empresa de seu pai, o escritório de engenharia de Ferdinand Porsche, foi quem projetou o VW para um senhor chamado Adolf. Ferry trabalhara nele desde o início, e o conhecia bem; nasce assim o Porsche 356, um carro esporte baseado em VW.

Desde o início era diferente no detalhe, porém: primeiro cabeçotes diferentes e dupla carburação apenas, mas quase que imediatamente o motor Porsche não tinha nenhuma peça VW. Era apenas baseado em espírito e lay-out básico.

Estrada dos Romeiros e cabelos ao vento: Porsche 550 Spyder | MAO Drives

Mas isso, claro, faz com que réplicas baseadas no mais comum e barato VW apareçam de monte mundo afora. É fácil se conseguir algo muito próximo de um Porsche de verdade assim, por uma fração de seu preço.

Aqui no Brasil temos tradição nisso. O Super 90 da Envemo é um exemplo antigo interessante: uma réplica muitíssimo bem feita, que replica de forma inacreditável a experiência de um Porsche. Muito vem do fato que o carro copia um carro original à minúcia; muito vem da sua estrutura.

O ponto H do Envemo Super 90

Uma das grandes diferenças entre um Porsche 356 e um VW era a estrutura: o Porsche era monobloco, bem mais rígido que o chassi separado do Fusca. O Super 90 usava chassi de Brasília, mas sua carroceria de fibra com uma parruda estrutura metálica faziam dele um carro rígido pacas, ajudando na reprodução da experiência do carro original.

Mas o grande expoente desta tradição de réplicas aqui no Brasil é a Chamonix. A empresa foi fundada por Newton Masteguim, junto com seu pai, Milton Masteguim, um dos fundadores da Puma. A história de como isso aconteceu já foi contada aqui no FlatOut pelo Newton em pessoa; vale a pena ouvir.

Newton Masteguin, o criador da Chamonix | Flatout Entrevista

O fato é que começou com uma réplica de 550 Spyder, um carro de motor central-traseiro. O chassi tubular é inspirado no original, e o carro foi um sucesso desde o início. Mas o Brasil não é para principiantes, sabemos, e a empresa eventualmente acaba; Newton começa de novo com outro nome, Athos cars, e cresce novamente para se tornar uma empresa sólida. Hoje, está voltando a usar o nome original: Chamonix. Newton diz que já exportou para mais de 23 países, e já produziu 2.500 carros, em sua longa história.

A linha hoje tem não só o 550 Spyder original, mas várias versões do 356 de motor traseiro também. A base de todo Chamonix é um chassi tubular de aço parrudo, que junto com a carroceria de fibra de vidro de alta qualidade, faz uma base extremamente rígida, o que sempre faz carros bons.

Conhecendo este tipo de réplica falo sem ter medo de errar: um Chamonix te dá 90% da experiência de um Porsche de verdade, por 10% do preço. A clássica receita imortal de uma réplica bem-feita.

São carro totalmente novos, sem nenhuma peça usada; o carro é totalmente montado na fábrica em Jarinu à mão, e as opções de pintura e acabamento são inúmeras. A produção é pequena e há uma espera para receber o carro, exatamente como é em carros novos multimilionários do exterior. Mas aqui, é algo se não barato (nada é hoje em dia, não é mesmo?), é bem acessível para qualquer comprador de carro zero-km hoje.

Há dois motores disponíveis para todos os modelos, os dois, variações do clássico VW arrefecido a ar. O básico é o 1600 cm³, com dupla carburação e 62 cv. Opcional é um 1900 cm³, com injeção eletrônica (Fuel Tech FT 450) e 115 cv. O câmbio é sempre VW de quatro marchas, manual. Os freios são dianteiros a disco, e traseiro a tambor; as rodas de aço de desenho tradicional são de 15 polegadas, com pneus Pirelli radiais 185/60 R15.

Os modelos, e seus preços, são:

 

Spyder 550

O Porsche Spyder original era um carro de corrida que, como a maioria na época, podia ser emplacado para uso nas ruas. O Chamonix, além de quase idêntico em dimensões e aparência, tem um chassi muito próximo do original. Mede 3885 mm num entre-eixos de 2100 mm.

Uma diferença é o motor: o original tinha um motor de corrida, o famoso Porsche “quatro comandos”, DOHC, que tinha 1,5 litro e 115 cv. Os motores do Chamonix são também contrapostos arrefecidos a ar, mas são diferentes em espírito, sem dúvida. Pelo menos, o motor opcional “1900i” atinge a potência do original.

Mas o fato é que o carro, que pesa apenas 680 kg, mesmo com o motor básico de 62 cv, faz o 0-100 km/h em 9,5 segundos. Com o 1.9 injetado faz a mesma prova em apenas 8 segundos. É um carro espartano ao extremo, sim: não há, por exemplo, vidro que sobe nas portas, sendo basicamente um carro aberto. As portas se abrem por meio de uma cordinha dentro da porta. Para alguns, um problema; para outros, ainda mais diversão. Também é um carro apertado, e os mais altos devem primeiro dirigir um antes de encomendar o seu; não é para todo mundo.

Mas é o Chamonix original, e o mais focado na experiência esportiva ao volante. O preço da versão “1600” é de R$ 144.494,00, e com o “1900i” saindo por R$ 169.483,00. Sim, se você precisa de um carro para o dia-a-dia e família, um Polo GTS é o mesmo preço. Mas não é nem remotamente a mesma coisa; ou você entende a diferença ou não. Para um carro feito á mão sob encomenda, que reproduz algo tão raro e especial por uma ínfima fração de seu preço, é muito barato.

 

Speedster

O Speedster tem motor traseiro, mas é tão espartano e leve quanto o 550 Spyder; o motor traseiro aqui ajuda as pessoas de maior estatura terem mais espaço, ajudados pelos bancos concha. O comprimento total, peso e entre-eixos são os mesmos do 550 Spyder.

Há um teto e cortinas laterais, mas este, também, é melhor se considerado um carro aberto. Os Porsche Speedster eram os mais baratos 356 originais, mas são tão agradáveis e divertidos que hoje a situação inverteu: é o mais caro e cobiçado deles. Na Chamonix, só é mais caro que o 550 Spyder: R$ 151.823.00, ou R$ 178.067,00 com o motor opcional de 115 cv.

 

Roadster

O Roadster pode ser encarado como um Speedster mais usável, e como nada vem de graça, um pouco mais caro e pesado. Em relação ao Speedster, se tem um para-brisa mais alto, e vidros que sobem e descem eletricamente nas portas; um teto mais sofisticado, conversível, também é parte do pacote.

Os vidros elétricos tem um comando interessante nas portas: uma tradicional manivela de vidros manuais, mas que é na verdade comando do vidro elétrico: um toque para baixo faz o vidro baixar, para cima faz ele subir.

Além disso, os bancos não são mais os fixos “concha” básicos dos dois outros; mas bancos mais confortáveis com reclinador, os mesmos usados nos 356C Coupe/ Super 90 Cabriolet. Existem diversas opções de personalização, como faróis de milha, cintas em couro, garras de para-choques, volante tipo Nardi, botões de madeira, chave geral, preparação para som e muito mais.

O Roadster pesa coisa de 20 kg a mais que os carros mais simples, segundo a empresa. O preço para as duas versões de motor é R$ 166.656,00 e R$ 192.678,00.

 

356C Coupe/ Super 90 Cabriolet

Finalmente, a réplica do 356 C, eu versões cupê e cabriolet, são as versões mais usáveis dos Chamonix para o dia-a-dia. Com dois bancos pequenos “2+2”, o cupê até teoricamente poderia fazer o que os Porsche cupê costumavam fazer no passado: ser o único carro de uma família com crianças pequenas. Hoje parece impossível para muitos, mas era a realidade quando o Porsche 356 era um carro novo.

Bem mais sofisticados, o 356C Coupe, o único Chamonix com teto rígido, pesa 35kg a mais que o Speedster/550. Os preços são de R$ 220.314,00 e R$ 251.089,00 para o coupé, e R$ 230.561,00 e R$ 259.789,00 para o cabriolet.

O prazo de entrega para os modelos Spyder, Speedster e Roadster é de 180 dias; o pagamento pode ser feito em 9 parcelas iguais, sinal + 8 parcelas. No caso dos 356 C Coupê e S90 Cabriolet, a espera é de 365 dias, com pagamento em 12 parcelas iguais sendo a primeira sinal. Os carros tem garantia de 1 ano ou 30.000 km, o que acontecer primeiro.

Em pleno 2023, vamos falar sério, é impressionante ainda termos coisas assim à venda, zero km. O preço não é alto: é muito dinheiro, claro, mas nada desse tipo é barato, dando a distinta impressão de um preço que não vai durar para sempre: pesquise o preço de um dos Envemo Super 90 originais, ou de um Porsche original, e chore.

Não, não é exatamente um Porsche, não estamos dizendo isso. Nem são para todos: sem ar condicionado, sem motores turbo modernos superpotentes, sem câmbio automático. Não existe direção assistida. São na realidade carros dos anos 1960 zero km, com tudo de ruim, e bom, que vem disso. Se você entende isso, curte a ideia, e tem os meios necessários, altamente recomendado.

 


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