Há 40 anos a Porsche apresentava aquele que seria, por muitos anos, seu modelo mais caro: o Porsche 911 Turbo, também conhecido como 930. Seu motor de três litros sobrealimentado foi desenvolvido a partir da experiência adquirida com o 917 “Turbopanzer” — como costuma ser chamado o carro que a Porsche levou para competir na Can Am —, e ao longo dos anos em que foi produzido o 930 foi um dos carros mais rápidos do mundo.
Magnus Walker, um dos mais famosos e descolados colecionadores de Porsche 911 do planeta, é um dos muitos fãs do 930 espalhados pelo planeta e, até pouco tempo atrás, o sortudo proprietário de uma seleção de 911 Turbo fabricados em 1976 e 1977. Não, ele não vendeu os carros (e provavelmente nunca venderá), mas agora ele encontrou um dos 274 exemplares fabricados em 1975 — e um dos 15 com volante do lado direito, o que o torna um carro ainda mais especial.
Foi bem a tempo de comemorar as quatro décadas de existência do 911 Turbo, e os caras da eGarage aproveitaram para falar com Walker sobre seu carro e compará-lo com o atual 911 Turbo, modelo 2015.
Magnus Walker sempre diz que o 930 era o carro que ele tinha em um pôster na parede do quarto quando era moleque e, bem, neste vídeo não é diferente. De qualquer forma, o 911 Turbo merece: feito para homologação no campeonato de turismo da FIA, ele tinha um flat-6 de três litros e 264 cv, era capaz de chegar aos 100 km/h em 6,1 segundos com máxima de 246 km/h, e não tinha qualquer tipo de assistência ao motorista.
Seu visual também é icônico, com para-lamas mais largos, para-choques mais robustos e a clássica asa traseira que, por seu formato, ficou conhecida como whale tail, ou “cauda de baleia”. Era muito parecido com a versão de competição, o Porsche 934, que era preparado para entregar entre 480 e 550 cv e venceu o Campeonato Europeu de Turismo e a Can-Am em 1976 e 1977.
O Porsche 934 e seu maior rival, o BMW 3.0CSL
A partir de 1978, o 911 Turbo recebeu algumas modificações importantes: seu motor teve o deslocamento ampliado para 3,3 litros e recebeu um intercooler (exigindo alterações no desenho da asa traseira), passando a produzir 300 cv.
Contudo, os exemplares fabricados em 1975 são os mais selvagens, raros e procurados. O entre-eixos curto, a falta de freios ABS e o turbo lag faziam dele um carro bastante difícil de controlar. “Era muito comum que seus donos abraçassem um poste em pouco tempo”, brinca Walker. Quando o turbo “enchia”, era um golpe só, quase como um botão de liga/desliga.
Há outros detalhes que tornam o 930 de 1975 especial: o painel de instrumentos é diferente e não há telas de proteção nas entradas de ar traseiras — para gente normal, pode não parecer muita coisa, mas é o tipo de minúcia que deixa os aficionados de cabelos em pé. Além disso, encontrar um 930 Turbo original como o carro de Walker é uma tarefa cada vez mais difícil, visto que vários foram restaurados ou convertidos para slantnose (ou “nariz inclinado”), como o carro da foto abaixo.
De qualquer forma, a compra do carro deu fim a uma longa busca que terminou na Austrália, em uma revenda especializada chamada Hamilton Autohaus, em Sydney, na Austrália. Isto explica porque o carro de Walker tem direção do lado direito — e, apesar de ser britânico (ele mudou-se para Los Angeles ainda muito jovem, em uma história que contamos aqui), ele nunca teve um carro com mão inglesa, dá para acreditar?
O ronco do boxer turbinado ecoa pelos cânions do coração dos EUA enquanto Walker acelera seu novo brinquedo, mas ele ainda encontra tempo para fazer um contraponto na forma do 911 Turbo 2015. O flat-6 de 3,8 litros agora é alimentado por dois turbos e entrega virtualmente o dobro da potência: 527 cv. Zero a 100 km/h: menos de três segundos. A tração agora é integral, e o câmbio manual faz parte de um passado distante.
“Eu sou um cara old school, mas eu gosto de coisas novas. E, para falar a verdade, eu me diverti bastante trocando as marchas com as borboletas”, ele comenta. “É um carro intoxicante, da mesma forma que o original de 1975 é intoxicante. Os dois carros meio que fazem a mesma coisa de jeitos diferentes”.
“Não vou falar que um é melhor que o outro, os dois têm muito caráter. E na verdade eu fico curioso para saber como será o Porsche 911 Turbo daqui a 40 anos, e ver até onde sua evolução vai”.
Enquanto o ouvimos dizer estas palavras, Walker entra em seu 930 1975 e some na estrada. E, nesta hora, temos certeza de qual dos dois ele gosta mais.