Hoje a bendita internet pode nos ensinar praticamente tudo o que precisamos ou desejamos aprender. Histórias de grandes empresas, todas as informações de um determinado carro ou até como fazer a manutenção que precisamos. Cada pesquisa retorna um mundo de informações. Mas não seria legal se, em vez de usar o Google, você pudesse ver tudo isso pessoalmente no museu de uma das maiores fabricantes do mundo? Não, não é da Hyundai.
O nome do lugar é Toyota Commemorative Museum of Industry and Technology. É um prato cheio pra quem curte engenharia e máquinas de diversos tipos — exatamente o que a gente curte ler aqui no FlatOut, não?
O museu fica localizado na cidade de Nagoya e da estação central de trem, que leva o mesmo nome da cidade, existe um passeio de ônibus pelos principais pontos turísticos. Como o museu faz parte do roteiro, bastou pegar o ônibus e poucos minutos depois estava lá.
A entrada tem um custo de 500 yen (R$ 12,50 em conversão direta) e você tem acesso aos pavimentos que contam a história da Toyota desde o começo, quando era uma indústria têxtil, e sua evolução até os dias de hoje, como um dos maiores conglomerados industriais do planeta. Sim, pois você se engana se acha que a Toyota fabrica somente carros; ela fabrica desde maquinário pesado até casas! O museu, contudo, tem enfoque nos ramos mais famosos da empresa: têxtil e automobilístico.
A história começou em 1890, quando Sakichi Toyoda criou o primeiro tear manual feito de madeira. A partir dali as máquinas foram evoluindo de acordo com a tecnologia da época. A empresa inicialmente se chamava Toyoda Automatic Loom Works Ltd.
No museu, o roteiro que você faz entre as máquinas é uma linha do tempo da empresa, em alguns setores tem algumas pessoas que explicam como as pessoas e as máquinas trabalhavam (em japonês e em inglês), mostrando seu funcionamento e como era todo o processo desde o algodão bruto quando chegava no porto até o tecido pronto.
Os teares e as máquinas que ficam nesse início do roteiro dentro do museu e também mostram a sua evolução, desde os primeiros teares manuais de madeira até as máquinas utilizadas hoje em dia nas indústrias têxteis, onde basta apertar alguns botões, programar o que você quer e esperar pelo tecido pronto.
Em 1929 as patentes dos teares automáticos foram vendidas aos ingleses e a partir daí a empresa começou a pesquisar o desenvolvimento dos futuros automóveis. Nessa época, os carros que circulavam no Japão eram importados e foi aí que Kiichiro Toyoda vislumbrou o futuro sobre rodas da empresa.
Em 1933 Kiichiro Toyoda criou uma área para desenvolvimento do automóvel dentro da sua fábrica de teares, o centro automotivo, de aproximadamente 830m², possuía até um laboratório para testes de materiais que seriam utilizados na construção dos primeiros protótipos e assim definir o que seria produzido em casa e o que seria comprado de fornecedores de outros países.
Nessa época a maioria dos carros que circulavam nas ruas japonesas eram os americanos Ford e Chevrolet, e foram eles que serviram como base de estudo. Da Chevrolet veio o desenvolvimento de motor e carroceria, e da Ford, chassi e transmissão (que era feita por correntes na época). Uma outra sacada de Kiichiro Toyoda foi em relação ao design do seu futuro carro, desde o início ele já pensou em algo que não poderia sofrer alterações por um bom tempo e usou outro carro como estudo, um DeSoto Airflow 1934 (abaixo o modelo guardado pelo museu da Toyota), que foi muito elogiado não só pela sua aparência e foi considerado muito avançado pra sua época pelos japoneses.
Antes de entrar de vez no mundo automotivo dentro do museu, uma sala com várias peças de motor e algumas ferramentas expostas em mesas mostram como funciona a confecção dessas peças. Ali tem apresentações práticas de produção e mostra como essas peças são feitas e as ferramentas utilizadas nesse processo, comando de válvulas, virabrequim e bielas eram algumas dessas peças. Infelizmente eu não assisti nenhuma pois a próxima apresentação iria demorar e tinha muita coisa ainda pra se ver, então segui em frente.
Logo depois há uma sala onde seria o laboratório de testes de materiais, com máquinas e peças da época, o lugar te leva de volta ao passado e vemos como a tecnologia evoluiu ao longo dos anos. É uma pequena sala mas que tem muita coisa pra ver, e logo após entramos em um lugar onde vemos como era feito a estampa das chapas da carroceria do Modelo AA, o primeiro carro produzido pela Toyota.
O que eu achei bem legal é como o cenário foi montado, manequins de madeira simulam o trabalhadores e o som ambiente da sala representa o barulho das máquinas e ferramentas, além do esqueleto de madeira onde as chapas eram modeladas para dar forma ao carro. E mais ao lado uma carroceria completa e finalizada.
No espaço seguinte, mais história. Peças, fotos de época, desenhos e mais alguns itens mostravam mais um pouco de como foi esse começo da empresa como indústria automobilística, os pontos de venda, fotos de fábrica e por aí vai.
Lembra da linha do tempo que eu falei? No próximo espaço que se segue dentro do museu vemos isso literalmente, uma linha do tempo com as principais criações da empresa, motores, transmissões, suspensões. Tudo representado tanto escrito como peças montadas. Algumas tinham recortes onde é possível ver seu mecanismo interno e ao toque de um botão que fica ao alcance de todos, as peças se movimentavam simulando seu funcionamento, e aí o termo gear head faz todo sentido.
Nas paredes, outras peças também expostas e recortadas, mas que não se movem, vemos como são por dentro. Carburadores, filtros, sistemas de freio, sistemas de ignição, faróis e muitas, mas muitas peças que fazem parte de todo esse conjunto. Todas identificadas com uma pequena legenda falando quando foram produzidas e todas as informações estavam sempre em inglês e japonês.
E depois disso voltamos no tempo mais uma vez e, no pavimento inferior, vemos um Modelo AA pronto, completo, como se tivesse acabado de sair da fábrica. Logo atrás do carro tem uma réplica da linha de produção do Modelo AA, ou Toyota Standard Sedan Modelo AA. O primeiro carro ficou pronto em 1936 e chegou ao mercado japonês custando a partir de 3350 yenes, 400 yenes mais barato que os americanos Ford e Chevrolet.
Segundo a ficha técnica o motor era posicionado acima do eixo dianteiro com o objetivo de deixar o carro mais seguro para os ocupantes, desenvolvendo 65 HP a 3000 rpm, era um 6 cilindros em linha com 3389 cc. O carro tinha dimensões generosas com 4785 mm de comprimento, 1.730 mm de altura e 1.750 de largura, tinha capacidade para cinco pessoas e pesava 1500 kg. E por dentro, um belo veludo.
O tecido que forrava os bancos ganhava forma nas máquinas de costura ao lado da linha enquanto os vidros eram lâminas retas que usavam como um molde uma folha por baixo, e assim o funcionário fazia o corte usando esse mesmo molde que daria a forma que se desejava.
Dando sequência nessa linha de produção pioneira vemos mais máquinas como tornos e prensas, moldes das peças que eram fundidas e ferramentas que eram utilizadas. Em algumas dessas máquinas também tinha a opção de ver como elas funcionam, assim como os motores e transmissões que ficavam no começo desse roteiro, era só apertar um botão e esperar alguns segundos até começarem a se mover e mostrando como o metal bruto ganha forma.
No meio desse monte de máquinas e peças também há alguns carros em exposição como o Corolla de primeira geração, Camry, Celica, Corona e um modelo bem estranho chamado ESV. Esse carro conceito foi desenvolvido de acordo com as novas normas de segurança que entraram em vigor nos Estados Unidos em 1970. Dentre esses itens estavam o ABS nas quatro rodas e aqueles para-choques enormes e estranhos, com uma espécie de borracha na parte interna pra ajudar a absorver os impactos. O carro era pra apenas duas pessoas e ainda bem que ficou apenas no conceito.
Seguindo pelo museu o tempo e a tecnologia vai avançando, com cada vez mais máquinas na linha de produção aumentando a precisão e otimizando o tempo. Em várias seções existem as peças brutas, recém saídas do molde, e mais algumas representando as etapas de acabamento até estar pronta pra ser montada no motor. Essa evolução segue até os dias de hoje, linhas de produção que mostram como chapas de metal se unem formando o monobloco e começam a dar vida a um novo carro.
Avançando no tempo, em outra linha, vemos os robôs trabalhando e pintando as carrocerias. A linha de pintura foi introduzida em 1981, as máquinas trabalham com uma velocidade de 60.000 rpm e através da força centrífuga geram uma névoa de tinta que é aderida à carroceria por energia estática.
E por último temos uma máquina que une o trem de força e suspensão à carroceria, que vem seguindo por uma linha superior enquanto suspensão, motor e câmbio seguem uma outra linha por baixo e se unem como peças de Lego. Um painel na parte externa monitora tudo e informa se todos os pontos estão conectados.
Aqui a evolução da maquinas terminam no museu, sabemos que ainda tem vários processos até um carro estar 100% finalizado mas o principal, é mostrado nesse espaço.
Essa foi uma forma bem resumida de tudo que eu vi lá dentro, se você quiser ver, ler, tirar fotos e entender o funcionamento disso tudo, pode reservar mais de duas horas de seu dia pra ficar lá dentro registrando tudo isso. O museu além de ser uma linha do tempo da Toyota, é uma aula de engenharia na prática.