Com uma base de fãs fiel e numerosa, o Porsche 911 é um daqueles carros em que você precisa ter cuidado ao fuçar — afinal, ele foi feito para carregar um boxer de seis cilindros na traseira, e qualquer coisa diferente disso seria considerada uma heresia entre seus admiradores. O mesmo não pode ser dito, porém, do 928 — o grand tourer com motor V8 dianteiro que foi criado para substituir o 911, mas nunca conseguiu e se tornou meio que um renegado, apesar de ter sido vendido por quase 20 anos, de 1978 a 1995.
Isto também faz dele uma boa base para experiências com trocas de motor sem comprar briga com uma legião de fãs enfurecidos. Na verdade, o V8 do 928 (que deslocava entre 4,5 e 5,4 litros e, em sua versão mais potente, entregava 350 cv) costuma dar lugar ao V8 small block Chevrolet, de 350 pol³ (5,7 litros) por questões de confiabilidade, custo de manutenção e facilidade de preparação, em engine swaps feitos nas garagens dos donos — é uma “cirurgia” bem comum.
Muito mais incomum é a opção por um motor V12, físicamente maior e mais difícil de encontrar. O que dizer, então, de um V12 da Toyota?
“Mas espera aí, FlatOut… V12 da Toyota?” Exatamente — na verdade, o único V12 japonês feito para um carro produzido em série. Trata-se do 1GZ-FE, V12 de cinco litros que equipa a limusine Century, vendida apenas na Terra do Sol Nascente. Com curso de 80,8 mm e diâmetro de 81 mm, o motor entrega cinco litros.
Acredite: tem um V12 aí embaixo
Dotado de comando variável VVT-i nos cabeçotes e taxa de compressão de 10,5:1, o 1GZ tem potência declarada 280 cv — como de costume, por causa do acordo informal entre as fabricantes japonesas. Contudo, a potência real é de 310 cv, que aparecem às 5.200 rpm, enquanto o torque é de 49 mkgf a 4.000 rpm (sendo que mais de 40 mkgf já estão disponíveis desde as 1.200 rpm). Além disso, há um detalhe interessante: o sistema de injeção é controlado por dois módulos ECU, um para cada bancada de cilindros. Caso uma delas falhe, a outra permitirá que o motor continue funcionado com metade dos cilindros.
O Toyota Century do Imperador do Japão
O Century é o carro mais luxuoso da fabricado pela Toyota, voltado a executivos e representantes do governo — sendo, em versão limusine, o carro oficial do Imperador do Japão. A fabricante faz questão de manter o mesmo estilo desde 1967, quando a primeira geração (movida por motores V6 e V8) foi lançada. A segunda e atual geração foi apresentada em 1997 e permanece a mesma até hoje.
Não nos perguntem como o motor de um dos carros mais exclusivos do Japão foi parar nas mãos do americano Jeff Mauldin. O que importa é que aconteceu, e que ele decidiu que não seria só mais um a colocar um V8 Chevrolet em seu Porsche 928 e, em fez disso, deu um jeito de colocar o V12 da Toyota. De acordo com o próprio, não foram necessárias modificações muito extremas no cofre e alguns adaptadores deram conta da tarefa, ainda que o novo motor seja fisicamente maior que o original. No fim das contas, o capô fecha perfeitamente e, por fora, simplesmente não há como imaginar que há um V12 ali embaixo.
A transmissão escolhida, obviamente, não foi a automática de seis marchas do Toyota Century, e sim a caixa manual de seis marchas usada no Corvette C5, acoplada ao eixo traseiro (a Porsche optou por usar um transeixo no 928, a fim de conseguir a distribuição de peso ideal). Novamente, foi preciso recorrer a algumas adaptações, como a construção de uma carcaça sob medida para o câmbio.
Infelizmente o sistema com dois módulos de controle precisou dar lugar a um módulo aftermarket MS3-Pro, mas tudo funciona a contento — como dá para ver no vídeo abaixo: os ponteiros do painel funcionam normalmente e o carro parece ter se dado bem com o novo conjunto mecânico.
Além disso, nota-se que Jeff fez questão de manter o bom aspecto do cofre — sem adaptações e “gambiarras” aparentes, o Porsche parece ter vindo de fábrica com um V12 debaixo do capô. O mesmo se dá na parte debaixo do carro: com exceção dos dutos de escape moldados para acomodar o novo transeixo, tudo está em ordem e bem acabado.
Vamos ser honestos: um V12 do Toyota Century não seria nossa primeira opção ao realizar um swap como este, mas há de se admirar o trabalho de Jeff, que mostrou que é possível e, mais do que isso, o resultado parece bem divertido de acelerar. Não conseguimos ficar bravos com esta “heresia”.