Meu nome é Rodrigo, trabalho com informática e sou um apaixonado por carros desde que me conheço por gente. Meus pais diziam que quando eu era pequeno ficava apontado para os carros na rua e dizendo os nomes e modelos.
Já tive diversos carros, sempre incomuns, seja pelo estado, modelo ou preparação. Os mais legais foram um Gol GT turbo, um Escort Zetec com uma preparação bem básica, uma Caravan com cambio 3 marchas toda original e um projeto que nunca foi acabado: uma Marajó 89 que receberia um X20XEV. Infelizmente o projeto não foi para frente e acabei vendendo o carro antes de começar.
Meu amor atual é um Vectra GSi 94. Minha história com ele começou há um ano, mas com o modelo foi bem antes. Depois de duas desilusões automotivas, um Escort RS e um Vectra CD que só me derem dor de cabeça (vale uma observação: os carros que me desiludiram estavam meio detonados), resolvi que era hora de comprar algo mais racional e que permaneceria original. Comecei a procurar um Civic EK 1999 ou 2000, na versão EX com câmbio manual.
Mas, como vocês sabem, cabeça de gearhead nunca é racional, e por isso acabei escolhendo um Vectra GSi azul. Ele estava bem longe, mas o dono detalhou bem o carro e parecia estar bem íntegro. Depois de alguns meses de namoro, tomei coragem para buscar o carro, e enviei um email para o dono.
A resposta foi a mais desanimadora possível: “vendi o GSi hoje”.
Achado meio perdido
Depois dessa desilusão e de ver todos os Vectra GSi de São Paulo, sem encontrar nenhum que me agradasse — fosse pelo preço ou pelo estado de conservação, estava quase fechando negócio em um Civic. Era um domingo e antes de bater o martelo resolvi entrar no Mercado Livre para dar uma última olhada nos GSi. Encontrei um anúncio novo e bem simples — tinha só seis fotos. O interior estava um pouco feio, mas por fora ele parecia bem bonito e original. Liguei para o dono na hora. Ele disse que o carro estava na oficina dele e só poderia mostrá-lo na segunda-feira.
Mal dormi aquela noite. Fui logo cedo trabalhar e na hora do almoço atravessei São Paulo para ver o carro. Quando cheguei, o carro estava bem sujo, com o interior com alguns detalhes para consertar, mas vi que ele tinha potencial. Com certeza tinha muito potencial.
Olhei o carro por baixo, nada de podres ou amassados típicos de carros rebaixados. Então começaram as surpresas: o rádio era original, e o carro teve apenas um dono, que o comprou zero-quilômetro e o usou até sua morte. Tinha seguro, manual, todos os IPVA quitados, manual do proprietário e nota fiscal. O interior, que por fotos parecia estar em estado mediano, estava muito bom, e apesar de ter algumas peças desencaixadas só precisava de uma boa limpeza. Fechei negócio na hora, e pedi apenas que o carro fosse guardado até o sábado seguinte.
Foi a semana mais longa da minha vida. Não conseguia me concentrar no trabalho, estava distraído e dormia mal. De sexta-feira para sábado não consegui dormir. Às cinco da manhã, depois de rolar na cama de um lado para outro desisti de tentar dormir, e às 5:15 estava pronto para ir buscar meu GSi. Ainda não conseguia acreditar: meu Vectra GSi. MEU! Um sonho de consumo dos anos 1990, um dos carros mais rápidos do Brasil em sua época.
Ao chegar no local, conversei com o vendedor enquanto um funcionário foi buscar o carro. Então avistei o carro vindo à minha direção, bem devagar, e juro que pude ouvir uma voz metálica me chamado. O funcionário parou na minha frente, abriu a porta, disse “boa sorte”. Nesse momento percebi que estava realizando um sonho.
Aquela porta aberta, o som do C20XE me convidando para uma volta. Aqueles bancos de veludo cinza (um belo veludo) pedindo para serem usados. Um pequeno volante, o câmbio justo, comandos pesados como um bom carro dos anos 1990. Tudo instigava a dar uma boa acelerada.
Entrei no carro, ajustei a posição de dirigir, os retrovisores, abrei o teto solar, zerei o computador de bordo para ter ideia do consumo. Dei aquela acelerada para sentir a resposta do motor e o ronco. Ah… o ronco, como esse carro ronca gostoso. Grave, mais não a ponto de incomodar. Hora de voltar para casa, apresentar o novo quarto do meu novo amor.
No caminho decidi descobrir se o GSi é tudo isso que diziam as revistas de sua época. Na Castelo Branco acelerei mais forte para ver como os 150 cv se comportam e tomei o primeiro susto: os discos de freios estavam empenados. Melhor ir devagar. O passeio continuou em ritmo mais manso. Na volta para casa, precisei abastecer. Hora da segunda surpresa: média de consumo de 13,5km/l. Incrível para um 2.0 16v andando sem moderação.
Durante o abastecimento, um amigo que estava junto me perguntou:
— Esse carro não tem 150cv, parece que falta torque. Ele sai meio morto, é normal?
Minha resposta foi dada no acelerador. Segunda marcha, pé no assoalho, 4.000 rpm e o carro se transforma. Meu amigo cola no banco, e na hora fica em silêncio. Terceira marcha, aliviei o acelerador e a aflição do colega se transformou em gargalhadas e um sonoro palavrão. “Essa $@#*% anda!”
Nos próximos posts contarei como é o convívio com um esportivo dos anos 1990, o dia-a-dia com o C20XE, além dos cuidados e a manutenção deste novo clássico e tudo o que muita gente sempre quis saber sobre bom e velho Vectra GSi. Agora vocês me dão licença, que a voz metálica está me chamado para uma volta.
Por Rodrigo Tavares, Project Cars #26