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Car Culture

Uma Brasilia em Nürburgring: falamos com os responsáveis – veja a história!

Sim, é uma Brasilia em Nürburgring. Se você esteve perambulando pelas redes sociais nos últimos dias, certamente topou com essa cena inusitada, quase inimaginável. Minha primeira reação foi: “O Sr. Barriga desistiu de Acapulco?” “Deve ser um daqueles alemães que compram Karmann Ghia, Kombi e SP2 do Brasil…”

Mas a Brasilia tinha placas brasileiras. E o pessoal em torno dela falava português do Brasil. Era só o que faltava: depois do Gol 7×1 e do Voyage na Alemanha, do Uno, dos Opala e do Gol GLR nos EUA, alguém decidiu apresentar o mundo a uma Brasilia — ou será que eles decidiram apresentar a Brasilia ao mundo?

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É claro que eu não poderia ficar vendo tudo aquilo acontecendo no meu feed e passar para o próximo vídeo. Em vez disso eu chamei o pessoal que levou a Brasilia para Nür, em uma tentativa de descobrir como foi que isso aconteceu. E, amigos, eu descobri.

Quem fez isso foi o pessoal da Just Drive BR, um grupo de amigos que vive em Londres e se uniu para divulgar a cultura automobilística da Europa no Brasil pelas redes sociais. A história começou em 2018, quando Diego e Thiago começaram a frequentar eventos e encontros na Inglaterra e também a fazer uma peregrinação anual a Nürburgring.

Em 2021 eles conheceram Marcos e Daniel em um destes encontros londrinos e, compartilhando a origem e o gosto por carros, os dois se juntaram à equipe. Agora um quarteto, durante a visita anual a Nürburgring, eles conheceram o quinto elemento, Tafarelo, o mais recente integrante do grupo.

E foi organizando uma das visitas a Nürburgring que surgiu a ideia de levar uma Brasilia até lá. Mas para contar esta história, precisamos saber antes como essa Brasilia foi parar na Europa. Como e por quê.

 

Uma Brasilia na Europa. Ou… duas?

Esta outra história começou em 2005, quando Marcos, então com 14 anos, mudou para o Reino Unido com sua família. Seu pai trabalhara na Volkswagen quando jovem e, por isso, é um admirador dos modelos da marca — em especial os modelos com motor boxer. A paixão pelos Volkswagen foi passada de pai para filho: Marcos aprendeu com seu pai, e o pai aprendeu com o avô, que também passou pela Volkswagen.

Os dois, pai e filho, sempre tiveram vontade de ter um modelo clássico e, certo dia, durante uma conversa, Marcos disse ao pai que pretendia levar uma Brasilia à Inglaterra. Procurando anúncios e fazendo contas, eles perceberam que a importação do carro era viável e decidiram colocar o plano em prática. O carro escolhido: uma Brasilia 1978 de São Paulo. O carro foi comprado à distância, mas retirado pelo próprio pai de Marcos, que veio ao Brasil.

Ao preparar o carro para o envio, os dois continuaram fazendo contas e perceberam que não apenas era viável, mas também compensava comprar um carro para aproveitar o espaço no contâiner, e revendê-lo no Reino Unido para cobrir os gastos.

A importação dos carros seria rápida: em menos de um mês os dois carros poderiam ser documentados, embarcados no Brasil e desembarcados no Reino Unido. O problema é que o carro enfrentou a fila aduaneira formada pelos efeitos do Brexit e da pandemia, e acabou parado na alfândega por mais um mês.

“Nunca vou me esquecer do dia que o container foi liberado e fomos buscar os carros no porto e os vi pela primeira vez, foi um momento magico, dirigir esses carros pelas ruas da Europa me remete ao passado, quando meu avós me levavam pra passear de carro lá no Brasil, o cheiro do interior dos carros já lembra o Brasil.

Hoje em dia, em meio a tanta modernidade, a simplicidade da Brasilia me traz uma felicidade tão grande toda vez que as tiro da garagem, é um prazer enorme e inexplicável andar com elas pelas ruas inglesas, as pessoas aqui tiram fotos, dão joinha, sorriem e vão a loucura quando veem as Brasilias pois não acreditam que existem carros do Brasil por aqui, é surreal”, conta Marcos.

A Brasilia, como se pôde ver em alguns vídeos, ostentava uma legítima placa preta, substituída na compra anterior à exportação. Isso, porque ela tem 95% de originalidade segundo o certificado expedido para a obtenção da placa preta. O exemplar perfeito para apresentar ao mundo.

 

A ida a Nürburgring

Em junho de 2022 o grupo se organizava para a viagem anual a Nürburgring. A Brasilia, claro, estava nos planos, especialmente porque ela ainda estava com as placas brasileiras, pois ainda estava em processo de registro no departamento de veículos do Reino Unido. No dia da viagem, contudo, Marcos teve problemas com o carro e não conseguiu levá-lo. A Brasilia ficou em Londres, os cinco foram para a Alemanha.

Mas… em uma daquelas coincidências da vida que fazem acontecer aquilo que tanto queríamos que acontecesse, um outro grupo de amigos brasileiros residentes em diferentes países da Europa, decidiram ir a Nürburgring e convidaram a JustDriveBR para a viagem. Com mais tempo, eles prepararam a Brasilia para o grande dia e incluiram um detalhe especial: eles não confirmaram a ida, pois planejavam chegar de surpresa com a Brasilia.

A viagem começou em 13 de outubro, quinta-feira passada. Partindo de Luton, eles foram a Guildford, onde buscaram o trailer, e, em seguida, seguiram para Londres onde buscariam a Brasilia. Na mesma noite, a Brasilia entrou no ferry em Dover, para atravessar o Canal da Mancha e desembarcar em Calais, na França. Dali, eles atravessariam a Bélgica e chegariam a Alemanha.

No dia 13/10 saímos da cidade de Luton até Guildford para buscar o trailer e depois para Londres pegar a Brasília na casa do Marcos por volta das 18h00, as 22h00 entramos no navio partindo da cidade de Dover para Calais na França, dirigindo entre a Bélgica até chegar na Alemanha.

Foram cerca de nove horas de viagem — incluindo as duas horas da travessia marítima. Na sexta-feira, 14/10, Thiago, Diego, Marcos e um outro amigo, Alerra, chegaram a Nürburgring.

O carro se tornou uma sensação instantânea. Ele era familiar aos alemães, afinal, tinha linhas parecidas com os modelos a ar feitos por lá, assim como o lendário boxer de quatro cilindros que era o elemento comum a todos. Mas, fora isso, era tão exótico quanto um Corvette ou um NSX — começando pelo nome, que significa “Brasil” em latim.

Era literalmente o Brasil sobre rodas: um carro concebido no Brasil, projetado no Brasil, desenvolvido no Brasil, fabricado no Brasil, importado por brasileiros e levado à terra de seus ancestrais por um grupo de brasileiros.

A experiência fica melhor contada por quem a viveu, então aí vai o relato do Diego Sepulveda:

“Os alemães piraram quando viram a Brasilia. Pediram para abrir capô para ver o tanque de combustivel, perguntaram sobre o motor, olharam dentro dela, citaram o SP2 que sonham em ver pessoalmente, até o vizinho do lugar que nos hospedamos gostou tanto do carro que nos levou para dentro de sua casa, abriu a garagem e mostrou um Porsche 356 Super 90 e Fusca conversível zerados.

No famoso posto de gasolina, o posto ED,  um casal com o filho em uma M3 E36 parou e todos tiraram muitas fotos, também pedindo para abrir o capô e tampa do motor, e ficaram muito felizes em saber que um carro do Brasil estava na Alemanha.

No estacionamento da pista, muitas pessoas nos chamaram de ‘legend’ e falaram que foi o carro do dia. Outros queriam compará-la ao um Golf MK1, e que a levássemos até a Volkswagen em Wolfsburg. Eles também se surpreenderam com a placa do Brasil, sendo o primeiro carro que viram com essa placa em Nurburgring.

Entramos na pista no dia 15/10 por volta das 16h, começou a chover, fazendo o carro sair bastante de traseira, mas curtimos demais o momento e com certeza ficará em nossas memórias e corações pelo resto da vida.

Na minha cabeça veio uma sensação de lembrança do passado, de quando era criança andando no banco de trás do Fusca do meu pai, o cheiro do carro, a paisagem verde, aquela vontade de parar o tempo e ficar só admirando cada detalhe do que estava acontecendo, vamos dizer que é algo meio que inexplicável.

Claro, não aceleramos ela nem um pouco forte na pista, sendo que a volta ficou entre 18 e 19 minutos, a chuva atrapalhou bastante, mas tivemos uma noção de como um carro dessa época se comporta em uma pista de corrida.

Por isso queremos modificar a segunda Brasilia em performance e principalmente chão (suspensão, alinhamento, freio e pneus) para poder comparar com a primeira volta da Brasilia original.”