Olá, amigos! Sendo um fanático por carros desde criança e tendo viajado muito de carro com meu pai, acabei pegando gosto pela estrada. A assinatura das postagens não é à toa. Desde que comecei a viajar por conta própria, procurei sempre incluí-la em meus roteiros. Inclusive eu tenho uma lista de estradas que pretendo percorrer antes de virar “suco de dinossauro”. Essa lista começou em 10 e já está em 21 estradas! Dessas, já pude percorrer cinco, mas a contagem continua!
Já pude dirigir aqui no Brasil (a última foi a Estrada Real, começando em Diamantina e indo até Ubatuba e Paraty), Uruguai (onde até fui extorquido por um “policia caminera”), EUA (carro e moto), Portugal e agora não seria diferente. Dirigir numa estrada onde eu posso, como diz meu amigo Gus Loeffler, “andar de pé no porão” sem medo de ser multado, preso e deportado é sonho!
Meu roteiro teutônico incluiu duas etapas de estrada. Na primeira, saí do aeroporto de Frankfurt para Nürburg, depois Stuttgart, devolvendo o carro no aeroporto de lá. Neste mesmo dia iniciei a segunda etapa, alugando outro carro em Stuttgart e devolvendo em Munique. Rodei 1.285,3 km em quatro dias.
Na primeira etapa, meu companheiro de viagem foi um Opel Corsa 1.4. Gostei do carro. Mesmo sendo da categoria mais econômica, possuía aquecimento de bancos e volante, som com mp3 player, sensor de estacionamento, computador de bordo que informa até a pressão dos pneus e outros mimos que somente um carro básico lá oferece.
Antes que perguntem, o máximo que atingi com ele foi 220 km/h de velocímetro, e só não foi mais porque acabou a descida. Consistentemente a velocidade variava entre 180 km/h e 210 km/h onde era permitido, obviamente.
Já nos primeiros quilômetros, presenciei algumas cenas insólitas, como carretas trafegando a 120 km/h, uma van da polizei me ultrapassando a mais de 140 km/h e carros voando à minha esquerda o tempo todo. Desde que saíra do aeroporto sabia que tinha acertado em colocar a estrada mais uma vez no meu roteiro!
Mas, para mim, a parte mais legal foi entre Kelberg e Stuttgart. Dirigir por mais de 300 km sozinho, à noite, em uma estrada incrível e ouvindo uma trilha sonora fodástica é uma experiência quase religiosa e eu recomendo fortemente a todos! Esse Opel foi uma ótima companhia, sem dúvida!
Aqui vale um comentário: a combinação de estrada impecável com pessoas que sabem dirigir e se comportar na estrada dá gosto de ver. As pistas são largas, muito bem sinalizadas, pavimentação estilo “mesa de sinuca”, TODAS as curvas com gradiente correto e de raio bem longo. Tudo feito para você andar de pé no porão sem se matar, sem me matar, sem matar o turno inteiro zero cinco. Mesmo andando a velocidades pornográficas e à noite, em nenhum momento me senti arriscando minha vida. Os carros eram estáveis e, mesmo andando muito rápido, eu sabia que ninguém ia entrar na minha frente, muito menos que não sinalizariam com bastante antecedência cada movimento.
Porém o melhor ainda estava por vir.
Após minha visita ao museu Mercedes-Benz, peguei outro carro. Coincidentemente uma Mercedes-Benz. CLS 350D Bluetec, para ser mais preciso. V6 turbodiesel e nove marchas!
Ao entrar no carro e ligá-lo, uma voz feminina doce e sensual me dá boa noite no idioma de Goethe. Após dizer a ela que ein biscien deutche e que preferia conversar em inglês, aquela mesma voz doce e sensual passou a falar no idioma de Shakespeare. Saí do aeroporto e voltei ao albergue para buscar minha mala. Perguntei para o computador de bordo se havia algum bom restaurante na região e prontamente aquela voz doce e sensual me indicou um italiano com uma massa espetacular bem pertinho dali!
Antes de seguir viagem, e já de pança cheia eu tive um breve momento de contemplação e divagação (ou viagem na maionese) a respeito daquela Mercedes.
Comecei a pensar comigo mesmo: esse couro é tão macio quanto deve ser a pele dessa moça que me diz boa noite. Anette (sim, imediatamente imaginei qual seria o nome dela) ainda me indicou um restaurante italiano delicioso e colocou o Dave Brubeck para tocar naquela noite agradável de outono. Que bom gosto essa mulher tem!
Ali começou um caso de amor fugaz, mas intenso!
Após curtir o barato esse breve momento, caí na estrada. Dessa vez, precisei de 1h30min para vencer os 220 km da porta do restaurante à garagem do hotel em Munique, pela Bundesautobahn 8. Velocidade média de mais ou menos 147 km/h (contando os trechos nas cidades, semáforos fechados, etc.). Dava para fazer média melhor, mas passei por várias obras na estrada. Nesses trechos, a pista se estreitava e havia um limite de 80 km/h.
Dessa vez, com um carro bem mais rápido, pude andar em um ritmo apropriado para uma autobahn. Nesse trecho bati meu recorde pessoal dirigindo um carro: 260 km/h. Também passei por um momento inesperado. “Tomei farol” a 220 km/h. Uma BMW queria me ultrapassar. Assim que pude, abri passagem e me diverti acompanhando o alemão apressado.
No dia seguinte, mais estrada.
Saí com a Anette para um passeio sem pressa por parte da Romantische Straße, indo de Munique até Landsberg am Lech, de lá descendo até os Alpes bávaros em Schwangau, já colado na divisa com a Áustria. Meus planos eram: pegar mais autobahn, curtir a paisagem da rota romântica e visitar o castelo de Neuschwanstein.
Cheguei a Schwangau perto de 12h e a paisagem encanta. Campos onde calmamente pastam vacas e cordeiros; casebres típicos, com telhado em ângulo agudo; os lagos Alpsee e Schwansee e os Alpes ao fundo. Se alguém não achar aquilo bonito, é caso de trancar num hospício e jogar a chave fora!
Não consegui entrar no castelo. O local é lotado de turistas. Uma fila enorme para comprar entradas e uma placa alertava que só havia grupos com vagas após as 17 horas. Aquilo acabou me desencorajando. Acabei indo de ônibus até a entrada do castelo, pois tinha certeza que a vista de lá valeria a pena. De fato valeu, e muito!
Resolvi almoçar em Füssen. Anette teve um pouco de dificuldade em me indicar um restaurante. Acabamos parando no restaurante de um hotel à beira do lago Forggensee. A comida estava boa, e a paisagem mais uma vez encantava.
Como ainda possuía algumas horas antes de devolver o carro, resolvi que tomaria um caminho longo para o aeroporto de Munich. Saí de Füssen em direção a Ulm (A7), para, então, retornar à Munique pela mesma rota que havia percorrido na noite anterior (A8).
Apaixonei-me ainda mais pelo conforto, silêncio e sensação de solidez da Anette. Apesar de ter borboletas no volante, deixei em D a maior parte do tempo. O alemão que programou aquela caixa 9G-tronic com certeza gosta de dirigir nas Bundesautobahn. Em cruzeiro, prosseguia calmamente em 9a marcha, e quando afundava o pé, imediatamente ele baixava até quatro marchas e um empuxo delicioso se seguia. Sabe aquele clichê “acelera como um avião”? Aquilo era a primeira classe, meus amigos!
Perto de Munique, Anette começou a me alertar que o tráfego estava muito lento dali a 50 km. Fiquei surpreso, e acabei utilizando o mapa do próprio sistema de navegação para encontrar uma rota alternativa, mesmo sob protestos da Anette. Ela demorou um pouco a se convencer do meu caminho, mas acabou se rendendo.
Com o coração partido, deixei Anette no aeroporto. Aproveitei o longo caminho para o hotel para mastigar meu chiclete favorito e as últimas 24 horas com aquele carro sensacional. Soa óbvio, mas não devemos repetir como papagaio tudo que lemos por aí. Já li várias vezes que as Mercedes-Benz “não são mais as mesmas”, que o “overengineered” não existe mais, que está igual a todo mundo, etc. Com todo o respeito, mas quem diz isso está completamente enganado! A sensação de carro sólido feito uma rocha ainda existe, o acabamento ainda é primoroso, o conforto e silêncio daquele carro é algo muito acima do ordinário.
Se hoje eles dizem que as Mercedes são iguais aos outros, não é porque a qualidade caiu, e sim que a concorrência evoluiu. A sensação que tive foi que aquele carro seria capaz de enfrentar décadas de abusos com classe e galhardia, assim como seus antepassados. E que carros da estrela de três pontas ainda são um teco melhores que os seus concorrentes.
Mais um sonho realizado, apesar do coração partido por Anette. No dia seguinte, cerveja para afogar as mágoas e carros, não necessariamente nessa ordem. Na próxima parte conto como foi minha visita à Munique.
Até lá!