O Volkswagen Up foi concebido para ser um carro (relativamente) barato, compacto e com plataforma e motor extremamente modernos. Na medida para o trânsito das grandes cidades. Acontece que todo entusiasta sabe bem: pouco peso, entre-eixos curto e motor eficaz também são os ingredientes de uma máquina de diversão. Os donos de Up TSI dando trabalho por aí que o digam.
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O nosso VW Up TSI, aliás, não é tão distante assim do Up GTI vendido lá fora: o motor três-cilindros é virtualmente idêntico nos dois carros – uma versão turbinada do Volkswagen EA211, com intercooler, comando duplo variável, injeção direta de combustível e diversos componentes redimensionados para suportar a sobrealimentação, trazendo alterações no cabeçote, bloco, pistões, bielas e periféricos. Nós fizemos, aliás, um verdadeiro raio-x deste motor na época de seu lançamento no Brasil, em 2015. E, depois de andar no Up TSI pela primeira vez, cravamos: não iria demorar para que os fuçadores mergulhassem nele – ainda que o ajuste de sua suspensão e a própria concepção dimensional do veículo não sejam nada esportivos.
E foi assim mesmo. Ao longo do tempo, surgiram diversas opções no aftermarket de kits prontos, feitos sob medida para o nosso Up TSI – a BTS, do Batistinha, por exemplo, foi um dos primeiros a apresentar o seu kit, com um novo turbocompressor, remapeamento na ECU, sistema de escape retrabalhado e uma série de personalizações de estilo. Depois de instalado, o conjunto eleva a potência do 1.0 turbo de 105 cv para 137 cv, aferidos em dinamômetro – exatamente na faixa que previmos.
Um exemplo mais extremo é o trabalho da Bertoline Motorsports, de São Bernardo do Campo/SP. Usando o turbocompressor do Golf 1.4 TSI (uma combinação cada vez mais utilizada), acompanhado de uma reprogramação na ECU, eles afirmam que extraíram mais de 200 cv e 32,8 kgfm de torque do três-cilindros.
Muito parecido com o motor do nosso TSI, o EA211 do Up GTI entrega originalmente 115 cv a 5.000 rpm, além de 20,4 kgfm de torque a 2.000 rpm. Nosso 1.0 turbo, por sua vez, gera 105 cv às mesmas 5.000 rpm, com 16,8 kgfm de torque entre 1.800 e 4.500 rpm. Pouca diferença e, por isto mesmo, é fácil deduzir que o potencial de ambos os motores é parecido – mas vale lembrar, o GTI utiliza um câmbio manual de seis marchas, cujo escalonamento explora melhor o EA211.
O carro sobre o qual viemos falar hoje, afinal, é um exemplo prático disto: trata-se do Up GTI da Milltek, um projeto que visa, segundo a preparadora, despertar o potencial adormecido do pocket rocket. De fábrica, ele é quase como uma interpretação moderna e high tech do primeiro Golf GTI, lá nos anos 1970 – um carro extremamente compacto e que combina o racional ao emocional, feito para transportar com competência no dia-a-dia e, aos fins de semana, presentear seu dono com uma tocada divertida e orgânica em uma estradinha cheia de curvas. Sem exageros. Com o empurrãozinho da Milltek, porém, ele pode se transformar em algo um pouco mais ardido, sem perder sua funcionalidade.
A Milltek é uma companhia britânica cuja especialidade são sistemas de escape esportivos. No entanto, aproveitando o pacote bem amarrado do Up GTI, eles decidiram ir além e oferecer um conjunto de modificações feito sob medida para os ratos de track day. Algo viável e pensado no equilíbrio, com mais potência e aderência bem balanceados.
A modificação no motor, segundo a companhia, consiste principalmente em um remapeamento da JBS, outra empresa do Reino Unido, que especializou-se em remaps para os carros da Volks. Para o Up GTI, eles comercializam o kit Stage 1 (por enquanto), que eleva a potência do motor para 145 cv a 5.090 rpm, com 25,6 mkgf de torque a 2.580 rpm. Fora isto, o motor também recebe um novo coletor de admissão Forge com filtro cônico. Segundo a Milltek, é o bastante para ir de zero a 100 km/h em oito segundos, com máxima de 182 km/h. No caso do GTI stock, são 8,8 segundos e 161 km/h, respectivamente.
Mas o principal do GTI Milltek está no conjunto dinâmico, ainda que sejam modificações pontuais. O veículo recebe coil overs ajustáveis KW V1 e um belo jogo de rodas OZ Racing Rally cujo offset explora ao limite as caixas de roda do Up GTi, calçando pneus Nankang NS2-R, de medidas 204/40 R17 (em algumas fotos, o carro está com as rodas originais do Up TSI, também de 17 polegadas). Os freios permanecem os originais do Up GTi, com 288 mm na frente (ante os 255 mm dos TSi normais).
Por dentro, uma dupla de bancos concha Cobra Nagaro (devidamente revestidos com tecido tartan) e nada mais. Não houve redução de peso: o Up GTI da Milltek pesa os mesmos 1.070 kg do original. Mas todo mundo aqui sabe arrancar fora um banco traseiro, não sabe?
Os britânicos da Car Magazine e do Top Gear andaram nele. Ambas as publicações elogiaram a redução drástica na rolagem da carroceria e a disposição para mudar de direção nas curvas – boa característica para que o entre-eixos curto (2,40 m, menor que o do TSI brasileiro em 2 cm) já contribuía, mas que foi acentuada com os novos pneus.
Os ingleses também gostaram do ronco conferido pelo escape da Milltek, e do fato de o kit ser razoavelmente acessível, ao menos para os padrões locais – £ 4.500, ou R$ 21.000 em conversão direta, caso o dono queira levar todos os componentes e instalar por conta própria.
A boa notícia é que, como dissemos lá no início, existem kits de preparação para o motor 1.0 TSI que são até mais fortes do que o da JBS – e nada impede os entusiastas brasileiros de fazer algo parecido, com um toque pessoal. Ou até mais sofisticado, porque potencial, o nosso Up turbinado tem.