Neste fim de semana aconteceu a edição 2019 das 12 Horas de Bathurst, no circuito australiano de Mount Panorama. Foi a primeira corrida da temporada de 2019 do Intercontinental GT Challenge, campeonato de endurance que segue o regulamento da categoria GT3 da FIA. Porsche, Aston Martin, McLaren, Mercedes-Benz, Nissan e Ferrari são algumas das fabricantes que participam – e, neste ano, quem levou a melhor foi a Porsche, com o 911 GT3-R da equipe R-Motorsport.
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O Porsche largou na pole position, conquistada com um tempo de 2min02s412. E também foi o responsável pela volta mais rápida da corrida – 2min04s306. Mas ele não foi o carro mais rápido em Bathurst neste fim de semana. Esta honraria ficou com gente de casa: o Brabham BT62, mais novo supercarro australiano a dar as caras, que carrega um nome cheio de tradição.
A Brabham Racing foi fundada em 2014 pelo filho de Sir Jack Brabham, David. Seu pai, nascido na Austrália em 1926, mudou-se para o Reino Unido em 1955 para competir na Fórmula 1. Quatro anos depois, em 1959, Jack Brabham conquistou o primeiro de seus três títulos na F1 – os outros dois vieram em 1960 e 1966. E, com este último, Jack Brabham tornou-se o primeiro piloto a conquistar um título em um carro que ele mesmo construiu.
David Brabham ainda não pensa na Fórmula 1, ao menos por enquanto. Seu grande objetivo no momento disputar o WEC (World Endurance Championship) na categoria LMP GTE Pro a partir de 2021– com foco nas 24 Horas de Le Mans. Segundo ele, o carro foi apresentado há pouquíssimo tempo e ainda precisa ser aperfeiçoado antes de entrar em uma competição tão desafiadora. E ele certamente sabe do que está falando: David Brabham foi um dos pilotos do Peugeot 908 HDi FAP, vencedor das 24 Horas de Le Mans de 2019.
E nisto voltamos à Austrália, que na tarde de sábado testemunhou a quebra do recorde de Mount Panorama. O BT62 virou 1min58s68 com o piloto Luke Youlden ao volante, mostrando que o desenvolvimento do carro está no caminho certo. O vídeo onboard deixa isto bem claro.
A primeira coisa que se nota é o ronco do motor de V8 naturalmente aspirado de 5,4 litros – lembra muito o som produzido pelos V8 Supercars, encorpado e rouco. Aliás, a origem do motor ainda não foi revelada pela Brabham. Na época do lançamento, admitiu-se que o motor usava como base um V8 fornecido por outra companhia, mas a Brabham não deu detalhes sobre sua origem.
Contudo, comparando o motor da Brabham com o V8 Voodoo do Shelby GT350, percebe-se que as semelhanças são gritantes na posição das bobinas, na disposição dos parafusos das tampas de válvulas e outros elementos do motor. É quase certo, portanto, que trata-se do motor de virabrequim plano do Shelby GT350 – com modificações no diâmetro dos cilindros e no sistema de alimentação.
Com curso de 94 mm e diâmetro de 97 mm, o V8 do Brabham BT62 tem comando duplo nos cabeçotes, corpos de borboleta individuais e 710 cv a 7.400 rpm, com 68 mkgf de torque a 6.200 rpm. Ele é acoplado a uma caixa sequencial Holinger de seis marchas, atuada por aletas atrás do volante.
Mas, além da trilha sonora mecânica, o que se percebe pelo onboard é a dinâmica afiadíssima do BT62, típica de um projeto que foi criado para as pistas e só terá uma versão produzida em série para fins de homologação. O comportamento do Brabham é neutro, porém com uma boa dose de agressividade nas entradas de curva e uma perceptível tendência a sair de traseira nas curvas – devidamente contornada por Youlden, que conhece Mount Panorama como poucos: ele foi o vencedor dos 1.000 Km de Bathurst em 2017. Fica claro que a Brabham caprichou no ajuste de suspensão do BT62, que conta com um arranjo de amortecedores inboard duplos da Öhlins e braços triangulares sobrepostos na dianteira e na traseira.
E a velocidade do carro nas curvas foi crucial para que o recorde fosse quebrado, considerando o que acontece aos 0:33 do vídeo – repare que o carro começa a perder força, levando Youlden a pisar repetidas vezes no acelerador. Só perto do fim da reta é que a situação se normaliza. Se não fosse por este incidente, talvez o tempo do Brabham BT62 fosse ainda um ou dois segundos mais baixo.
Com seu tempo de 1min58s68, o Brabham BT62 superou em cerca de seis décimos o recorde anterior, estabelecido por Christopher Mies – que virou 1min59s29 com um Audi R8 LMS em novembro de 2018. E foi quase quatro segundos mais rápido que o Porsche 911 GT3-R vencedor da corrida de 12 horas. Mais rápido que isto, só o McLaren-Mercedes MP4-23 de Fórmula 1, que em 2011 virou 1min48s88 com Jenson Button ao volante – sendo este o recorde não-oficial.
É importante frisar que o Brabham BT62 que quebrou o recorde segue a especificação dos carros que serão vendidos ao público para uso em track days – ou seja, não é a versão de rua, mas também não é amarrado por nenhum regulamento. Mas isto de forma alguma invalida seu bom desempenho em Mount Panorama – na verdade, só nos faz pensar como a versão de competição a ser criada para o WEC será ainda mais rápida.
Até lá, porém, há uma certeza: ainda há esperança para os superesportivos de motor naturalmente aspirado puro, sem sobrealimentação ou tecnologia híbrida. Amém!